Noel Neville-Lanvaldear \ Castelo de Ilusões / Heinrich

3 de Castanhais, 1122.
-- Quem foi que disse que a vida de nobre era simples? Certamente algum plebeu imbecil, reclamando por alguma coisa trivial como fome ou pestilência. Naquele momento, Noel estava com problemas, sérios problemas. Seu pincel tocava a superfície da palheta que segurava em sua mão esquerda, porém inutilmente. Sua cor mais valorizada não estava mais lá, vítima do amaldiçoado conceito de finitude. Naturalmente, já podia ver a cor por todo o quadro, a sua mais recente obra, mas aquilo certamente não era o bastante. Hoje certamente o universo e todas as coisas estavam conspirando contra a garota. Tinha tido uma discussão com Ruard mais cedo, sobre algo tedioso e que não entendia muito bem, como a administração da província que governava e como se não bastasse, ainda tinha tido que lidar com mais um de seus revoltantes pretendentes no fim da manhã. Ó, como era, de fato, difícil ser Neol Neville-Lanvaldear von Heinrich, sozinha em seu desolado ateliê em mais um de seus cruéis dias que parecem intermináveis.--

Admin Mensagens : 2047 Data de inscrição : 26/05/2017 Idade : 23

- Para um vampiro, o fato da maioria das coisas serem finitas era, no mínimo, irônico. Suas existências eram eternas, seus corpos perdurando naquele mundo desde os tempos imemoriais. E mesmo assim, aquilo que poderia preencher esses dias infinitos com algo mais que um tédio excruciante estavam fadadas a acabar. Se isso não era irônico, e no mínimo trágico, como poderia ser descrito? Noel indagou por um momento a si mesma, mantendo seus olhos fechados em frustração. Mas não importava como ou o quanto fizesse isso, jamais chegava em uma resposta adequada. Isso era mais revoltante do que qualquer outra coisa, mas no momento, o que lhe irritava mais era a falta do vermelho em sua paleta. - Como eu deveria terminar minha mais preciosa obra-prima assim? Inaceitável. - Brandou, em uma irritação praticamente infantil. Improvisar era uma das características que marcavam um artista talentoso, mas as outras cores não preservavam o impacto quente e certeiro que o carmesim trazia consigo.

-- Sem saber o que fazer, não restava Noel opção se não a de esperar. Então ela esperou, esperou pela fagulha de inspiração para resolver aquele problema, imóvel, sem tomar qualquer atitude. Então assim o tempo passou, enquanto parada, contemplava a tela que estava ainda inacabada. Um certo homem loiro de máscara uma vez disse "As pessoas se acostumam a esperar. E creio eu que elas poderiam até mesmo esperar eternamente, dentro de um tempo que se recusa a se mover.". Não tinha como saber se aquilo era real para pessoas, mas para vampiros, não deixava de ser verdade. O céu da manhã se tornou tarde, o céu da tarde se tornou noite, para mais uma vez se tornar manhã. O calor gentil da primavera, o canto das cigarras do verão, as folhas do outono, já tinham se transformado no rigoroso frio do inverno quando finalmente com um bater em sua porta, a garota era liberada de praticamente um transe. --

12 de Crisântemos, 1123.
-- Noel! Noel! Abra essa porta! -- Uma voz furiosa exigia, enquanto praticamente socava a entrada de seu ateliê que se mantinha fechada, sem ceder sequer minimamente. Podia ouvir também uma segunda voz vinda do corredor que parecia discutir com a voz mais acalorada, mas não entendia o que falavam pela distância.

Admin Mensagens : 2047 Data de inscrição : 26/05/2017 Idade : 23

- Quem ousava interromper seu momento de mais sagrada concentração? Não havia deixado claro que não aceitaria incomodações enquanto estivesse em seu ateliê? Sabia que sim. Sua memória não estava a enganando ainda, afinal, ainda era extremamente jovem. Se moveu lentamente em direção à porta do ateliê, passando por suas obras que serviam como marcas das mais diferentes épocas de sua vida. Levantou sua guarda, afiou seus sentidos, e então abriu a porta lentamente. - O que houve? Eu não fui clara quanto a interrupções?

-- Me poupe! Você faz ideia de quanto problema está causando?! -- Com uma expressão séria como sempre, quem estava batendo na porta e agora gritando com a garota era Ruard, o segundo filho do rei. -- Você deixou seus familiares a solta de novo e eles estão atacando pessoas em plena luz do dia na capital! O que você pensa que estar acima da população de um país significa?! -- Aquilo acertava a garota com uma sensação de "ah, é mesmo!" que não podia ser descrita com palavras. Enquanto vampiros são criaturas eternas, não é como se aquela eternidade fosse garantida, uma vez que eles ainda precisavam se nutrir. A questão é que eles não precisavam se preocupar em fazer esse tipo de tarefa tediosa por si mesmos, já que seus familiares atenderiam essa necessidade independentemente. Então naturalmente, após tanto tempo sem fazer nada, toda a sua nutrição estava sendo provida pelos seus familiares que saíram por aí devorando pessoas por conta própria. -- Não grite com ela, Ruard! -- A voz passional e jovial que contrastava com o tom grave de Ruard vinha de Vambre, que estava com ele na entrada do quarto. -- Ela certamente não fez por mal. Você só não quer perder uma chance de descreditar um de nossos irmãos! Verdadeiramente vergonhoso! -- Vambre é o terceiro filho e talvez o único que realmente se importe com laços familiares naquela família. Além disso, o que sempre mima Noel em todas as ocasiões possíveis, tratando ela como seu verdadeiro "xodózinho". -- Calado, seu maldito lolicon! Me admira que ainda não tenha pedido Noel em casamento!

Pessoas no Recinto:

Admin Mensagens : 2047 Data de inscrição : 26/05/2017 Idade : 23

- Uma eternidade de reprimendas advindas de Ruard haviam treinado Noel bem para aquela situação, de modo que a garota dificilmente se sentia afetada por aquele tipo de coisa. Pelo menos, vindo dele. - Ah é, verdade! Acho que invoquei alguns mesmo. Mas eu tenho que me alimentar de alguma maneira, também. - E a morte de alguns plebeus era realmente tão importante assim? Estava lidando com o problema da fome e da superlotação ao mesmo tempo. Na mente da Neville, só via efeitos positivos nisso tudo. Mas provocar Ruard a essa altura não era exatamente algo inteligente, fazendo com que logo colocasse esse pensamento de lado. - Se você faz tanta questão assim, eu vou chamá-los de volta. Só não me interrompa novamente. - Falava em um tom sério, contrastando com sua aparência infantil. - Isso é tudo? Sua gritaria me dá dor de cabeça.

» Noel Neville-Lanvaldear von Heinrich