Arco de Setembro - Ato I - Capítulo 1

(28/06/20XX)
- Uma realização atacou Estelle Bright enquanto o vento lhe forçou a virar o rosto.
Ela não tinha ideia do motivo de estar ali.
A poucas semanas do evento em Orion, Estelle Bright estava indo na direção do Arquipélago, mas... para uma ilha não relacionada. Horizontalmente oposta a Rigel, onde o festival aconteceria e onde Ryoma havia prometido seu encontro, Mintaka era composta de fechadas montanhas cujos picos invejavam as mais baixas nuvens. "Eu preciso que você faça uma coisa para mim.". Foram as palavras de Rift que começaram o processo que lhe colocou naquela situação. O desenvolvimento daquele pedido, ou missão, não tinha sido mais detalhado que as palavras iniciais. Estelle trabalharia em uma fazenda no coração da ilha, com mais detalhes sendo dados quando a garota chegasse lá. Um mapa para ela, um pendrive para ser entregue para quem quer que a recebesse na tal fazenda e sua própria mala foram tudo que tinha sido permitida trazer.
Seu mestre havia lhe deixado em total escuridão enquanto os dias passavam, apesar dos protestos de Bright. E quando se viu, estava naquele barco em direção a uma terra distante e que havia sido introduzida em sua vida abruptamente. Estava sentada na proa, sem realmente se preocupar com o perigo, enquanto alguns marinheiros limpavam o convés atrás de si. Não demorou muito para as altas montanhas no horizonte finalmente mostrarem sua verdadeira e magnífica forma, ao custo do porto no nível do mar finalmente aparecer.

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-- Estelle, faz isso. Estelle, faz aquilo. Estelle, vá pra essa ilha misteriosa. Estelle, vá enfrentar esse grupo super-poderoso capaz de destruir o mundo. -- A garota suspirava profundamente. -- Por que nunca "Estelle, que tal tirar férias de duas semanas nessa ilha paradisiáca sem se preocupar com nada?", ou "Estelle, aqui está um convite de ouro pra visitar uma fábrica mágica de chocolate onde você pode comer tudo". Sempre trabalho, nunca diversão. -- Balançava a cabeça negativamente. Protestava, mas seguia seu caminho.

- Seu progresso parecia indiferente quanto a sua indignação. Antes fosse aquela a primeira que Rift aprontava para a garota: depois do Exame Hunter, Estelle havia sido colocada por Rift como ajudante na loja da família de Caesar, o que, em suas próprias palavras, "mostraria para a garota o valor do trabalho".

A brisa lhe provocou certa sonolência, que logo se dispersava com a buzina do navio lhe informando que haviam, enfim, chegado. Depois de pegar suas malas, que não tinham muito além de suas roupas e pequenos itens que havia julgado importantes, se dirigiu até a entrada do Porto, onde uma fila já lhe aguardava. Com sua baixa estatura não conseguia ver muito bem o que estava em sua frente, demorando um pouco até o objetivo daquele aglomerado organizado de pessoas se revelar: a entrada de pessoas na Ilha estava sendo severamente monitorada, muito mais do que qualquer outro lugar que Bright já havia visitado antes. A estrutura havia sido montada ali mesmo, bem em frente a saída do navio, de modo a impedir que qualquer viajante adentrasse sem a devida permissão.

Sua vez na fila logo chegou, com um homem em seus quarenta anos e olhos com leves olheiras lhe recebendo em frente a catraca que lhe separava de seu destino. Sua mala era levada para inspeção em uma máquina próxima, e o homem anterior finalmente falava. -- Bom dia. Documento com foto e passaporte, por favor. -- Houve um "...e motivo para adentrar o país..." adentrando seus ouvidos, mas se preocupava mais com seus documentos no momento.

-- Estelle aguardou impacientemente sua vez. Quando finalmente chegou, não pode deixar de lembrar que seus documentos ainda estavam na mala. Havia se tornado uma daquelas pessoas que faz toda fila demorar mais do que deveria. Mas não tinha opção, deixou um sorriso amarelo no bolso e passou a procurar. -- Uuuuh, o motivo pra entrar aqui é.... é.... acho que tá aqui, achei, achei. -- Disse quando enfim encontrava seus documentos. -- Trabalho. Trabalho em uma fazenda no coração da ilha. -- Abria seu mapa e apontava para o local marcado enquanto também exibia seus documentos. -- Aqui, ó.

O homem já ficava um pouco irritado com a garota atrasar a fila daquela maneira, mas suas próximas palavras deixavam bem claro seu desapreço recém-descoberto por Estelle. - Certo. Eu sou legalmente obrigado a informar que sua permissão de trabalho neste país tem uma duração de seis meses, e caso você dure tudo isso terá ou que renová-lo ou pedir uma permissão permanente... - A próxima parte escapou a mente de Estelle. Não entendia muito além de que Rift havia deixado tudo preparado para ela.


-- Em um dia frio de inverno, em que a neve perfurava sua pele como estalactites em uma caverna no mais profundo e gelado oceano, Rift apareceu, com um casaco de pele de um urso em risco de extinção ainda com uma etiqueta marcando um valor exorbitante preso em seu ombro. -- Ei, cotovia. -- Se referiu a Estelle, pobre garota abandonada do lado de fora, tendo que passar seus dias inteiros em trajes maltrapilhos enquanto pegava água do poço mais próximo. Ia e voltava, ia e voltava, humilhada por todas e esquecida por Deus. Deixando seu charuto extremamente caro sair da sua boca por um momento, Rift falou. -- Eu encontrei outro trabalho pra você, fedorenta. É melhor você ir lá e pegar os meus Jennies, tá certo parça? - E jogou um passaporte para a garota. -- Esteja grata por poder trabalhar pra mim. Agora eu irei entrar, possuo um encontro com Caesar e Sienna onde tomamos vinho caro e rimos de gente pobre. -- E com isso deixou Estelle sozinha, apenas seu balde com água lhe servido de companhia.


É óbvio que nada disso aconteceu, mas se alguém perguntasse para Estelle o por que de ela estar ali, existia uma chance não nula de isso ser a resposta. De qualquer forma foi permitida entrada, com sua mala sendo dada a ela novamente.

-- Certo, então... lá vou eu. -- Dava os primeiros passos para depois da inspeção. -- Ah, obrigada pela paciência, seu guarda. -- Guardava seus documentos, olhava para o mapa e seguia seu caminho, agora aproveitando as paisagens naturais. Não valia a pena se estressar pelo Rift.

Não demorou muito para a garota se ver fora da cidade, a brisa do oceano lhe acompanhando a todo momento. Era... uma sensação complicada. As montanhas que lhe cercavam não falhavam em lhe banhar em uma chuva de maravilhamento e curiosidade enquanto o resto das pessoas continuavam em suas vidas normais, mas saber que em algum lugar naquelas ilhas Ryoma lhe aguardava colocava uma certa preocupação no mais profundo de sua mente, mas...

Continuar, Estelle teria que.




A cadeia de montanhas era longa. Muito longa. E seu mapa indicava que teria que andar um bocado até chegar no seu destino, apesar que o fato de que chegaria ainda durante a manhã lhe confortava. Os picos distantes pareciam preocupados demais com suas vizinhas nuvens para se preocupar com Estelle ou como seu tamanho exorbitante a faziam sentir, com fazendas e templos ocasionais sendo a única coisa preenchendo sua visão enquanto continuava para a fazenda que lhe esperava.



Demoraram algumas horas tediosas, mas finalmente chegava em seu destino. Era recebido com o berrar de ovelhas e o mugir de vacas, se tornando cada vez mais próximos a medida que se aproximava da maior casa da fazenda, cuja chaminé já mostrava a hora do almoço, que provavelmente seria onde deveria reportar sua chegada.
Ainda assim, nada disso aconteceu.
Uma mão repentinamente tocou seu ombro quando estava aproximadamente na metade do caminho até a residência, lhe forçando a virar para trás com uma reação involuntária. - Perdão, lhe assustei? Eu tentei lhe chamar mas acho que você não ouviu. - Quem estava lhe tocando era um homem alto, sua voz mimicando a brisa que gentilmente tocava o corpo de Bright. Em suas mãos estava um cajado de madeira e próximo a ele algumas ovelhas pastavam descompromissadas. - Você deve ser a nova garota. Eu sou Gonald Dupan.

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-- Ahhh uuuh... -- Estelle era pega distraída. Puxava o pendrive da sua mala rapidamente. -- O Rift me pediu pra te entregar isso aqui, seja lá o que for.

O homem ria do claro nervosismo de Bright. - Você deve dar isso para o Tyrell, ele deve estar na casa agora. - Apontava para a residência a que Estelle se dirigia, uma vermelha construção que se destacava em meio ao verde e as montanhas distantes em paralaxe. A madeira carmesim daquela casa representava um portento curioso: seu senso de familiaridade expulsava o sentimento de não-pertencimento invocado por aquela terra distante e seus picos nunca antes presenciados. Seus sentidos lhe informavam em uníssono, indo contra seu consciente: Estelle estava em casa. - E... bem, não precisa ficar tão nervosa assim, me desculpe se te assustei. - Seu tom apologético parecia acompanhar a gentil brisa que, como uma mãe que segura sua prole pela primeira vez, dominada por um sentimento que colapsa em mais puro amor e necessidade de proteção quando investigado por si mesmo, impedia que a garota adentrasse um estado de alerta. E mesmo assim as implicações nenhuma sensação de aconchego poderia esconder: que aquele homem que carregava o cajado como sinal de seu ofício e as ordenadas ovelhas como sinal de seu gênio havia se aproximado de Estelle, uma usuária de Nen, sem que a garota percebesse.

O milharal ao seu lado abandonou seu estado de inércia e deu lugar a um choro levemente familiar. - Nós lealmente precisamos fazer algo sobre essas lagaltas! - O rapaz que apareceu batia nas roupas, como a expulsar não só poeira, mas outras formas mais desagradáveis. Parecia demorar um pouco para notar Estelle, prestando atenção apenas no alto homem que a acompanhava. O fato de permanecer de cabeça baixa devido ao seu claro cansaço não lhe ajudava. Arfava. - Essas polcalias de ins... ei, eu já não te conheci antes? - Talvez nessa ocasião "conhecer" teria sido uma palavra muito forte. O rapaz em sua frente era um dos membros do grupo pouco vivido de Estelle no último Exame Hunter. A única coisa que Estelle lembrava era que o mesmo era Xinês e se chamava Ling. - Bem... como o mundo é pequeno né.

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-- Gonald Dupan era realmente uma figura que deveria prestar atenção. Surpreender uma mestra do Nen não era tarefa fácil, com certeza ele estava escondendo o jogo, não era um simples pastor. Na verdade, é bem provável que seu cajado na verdade seja uma bainha elaborada escondendo alguma espada lendária. Mas o outro rapaz ela percebeu. Não se lembrava bem de quem era, mas o percebeu. -- Ah, oi, Cebol-quer dizer, Ling, era o que eu ai falar. Ling. Porque é o seu nome. O que você faz aqui?

- Uma expressão curiosa instalou-se na face do rapaz quando ouviu a pergunta de Estelle. Como se não tivesse a intenção de falar o que dizia, mas algo bem mais rude, respondeu com um tom de voz diferente. -Tlabalhando, oxe. - As implicações quanto ao resultado do exame eram óbvias, mas pairava um clima em que dizê-las em voz alta não era exatamente apropriado. Mesmo assim, ver o rapaz ali, poucas semanas desde as provas, era realmente uma surpresa. Mas nós humanos não entendemos o tempo, semanas tornam-se anos imóveis e estagnados dependendo do ponto de vista, sem absolutos. - Você... vilou uma hunter? Tá aqui pra um tlabalho?

-- Estelle podia mentir. Na verdade, se sentiu muito tentada a mentir. Não por maldade, mas sim porque seria engraçado, não tinha muita vontade de fingir ser uma Hunter. Primeiro porque todos os hunters são fracassados. -- Nah, estou aqui a trabalho também, preciso encontrar o... como é o nome? Tyrell, é isso. -- Suspirou brevemente -- Mas quem precisa de Hunters? Eles são bem fracos. Aquela lá que aplicou a prova mesmo... um soquinho e mandei ela pro hospital. Talvez eu seja uma... uma caçadora de Hunters. Algo do tipo. -- Dizia enquanto mostrava um sorriso malicioso no rosto e estufava o muque.

- Então você é uma Hunter Hunter ? Assim, eu não ilei julgar, mas me palece uma péssima ideia... - Dava de ombros, com um sorriso descontraído. Colocava o chapéu em seu pescoço novamente na cabeça e preparava-se para retornar ao trabalho. - Vai ajudar muito ter mais mãos por aqui, então seja bem-vinda. O Tylell deve estar na Casa agola, então é melhor você ir até ele logo. Se não encontlar ele é só pelguntar pala algum esclavo. Eles devem saber. - Cumprimentava com um gesto desconhecido para Estelle, e então despedia-se.

-- Estelle queria perguntar algo sobre o termo "esclavo", mas só entendeu que era exagero do Xinês, que não parecia muito chegado ao trabalho. Não que ela também fosse. O melhor a se fazer era procurar Tyrell na Casa, e então para lá se dirigiu.

- O caminho era curto e tudo que podia ver ao seu redor, além do horizonte montanhoso, eram pessoas trabalhando e levando suas vidas indiferentes. Claramente, era uma fazenda de extensão considerável. O cheiro da terra e dos animais uniam-se em um amálgama de sensações que excitavam suas narinas para um sentimento de estranheza; não poderia ser mais distante da brisa inodora da Ilha da Baleia ou do constante atormento dos peixes de Nor.  



- A porta abriu quando aproximou-se da varanda. Ouviu alguns murmuros, mas nada que pudesse ser distinguido como frase. Dois homens deixaram a residência avermelhada, sem realmente prestar atenção na garota. Um moreno de alta estatura e cabelo curto acompanhava um rapaz mais baixo, de pele mais clara e cabelo ondulado. Ambos adornavam roupas azuis bem elaboradas, que exalavam importância e fineza. Terceiramente, um homem mais alto que os dois, que mal poderia ser imaginado como sendo capaz de passar pela porta, acompanhou-os até dois cavalos próximos conversando com ambos em uma língua totalmente alienígena para Bright. Suas vestes muito mais simples o colocavam num nível de importância claramente menor que os outros dois cavalheiros. Subiram em seus alazões e então partiram, deixando o terceiro homem a observar. Suspirou na linguagem universal da frustração, e retornando, finalmente reconheceu Estelle. Ele deveria ter o dobro do seu tamanho. - Oh... perdão, eu não tinha percebido você. Você deve ser a Estelle, certo? Rift avisou que você estaria chegando a qualquer momento hoje. - Sua voz era profunda, serena e com um leve tom melancólico.

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