01 - Acima de Tudo, Não Perca Seu Desejo de Prosseguir

>>OST

Os primeiros dias tinham sido infernais. Sayo tinha sido uma das que havia corrido pela cidade, chegando no final sabe-se-lá-onde. Tudo estava vazio, seu corpo tremia e parecia que estava tendo o pior pesadelo de sua vida. Horas se passaram. Primeiro teve medo, com o medo veio a fome. Mas fome? Não deveria sentir fome, sabia pelo manual de instruções que esse tipo de mecânica não existia, no máximo poderia sentir fome no mundo real e seu corpo ser "avisado". Mas esta fome era real, sentia a necessidade de comer. Lembrou-se de seus itens iniciais, entre eles tinha comida, comida que antes serviria apenas para recuperar seu HP, mas desta vez matou a fome, e tinha... gosto? Talvez, ou algo muito parecido. Era ração militar, afinal de contas.

A noite caiu e a garota acabou por dormir, mais por cansaço que por vontade. Quando acordou tudo tinha mudado. Agora não estava mais sozinha, podia ver pessoas, monstos, animais. Nenhum parecia dar grande importancia para a garota, que apenas se encolheu e ficou em um canto, escondida por árvores em um pequeno declive. Lá ficou por mais um dia, comendo mais uma parte da ração quando a fome chegou. No outro dia teve a mesma sorte. Dado momento viu um grupo sendo liderado por um homem usando uma pesada armadura, pendou em pedir ajuda, mas seu corpo simplesmente falhou. Sua voz não saia, tudo abaixo de seu pescoço parecia dormente. Acabou dormindo novamente, mesmo sem querer. Era o terceiro dia agora, sua comida não duraria para sempre, mas que poderia fazer? O sol já estava se pondo quando, de repente, uma criatura a avistou! Era pequeno, repugnante, verde e carregava um porrete em suas mãos, se aproximava correndo, e, por sorte, a garota conseguiu mover seu corpo novamente. Correu, e correu, e correu e correu. Já havia despistado a criatura. Mas percebeu algo nvoo com a adrenalina correndo em seu corpo. Não podia mais ficar apenas se escondendo, deveria sobreviver.

Era outro dia. Sua comida já estava no fim, deveria durar apenas por 2 ou 3 dias. Em sua frente via uma pequena criatura amarela, armada apenas com uma pequena faca, mas que parecia ser um dos ditos mob. Estava escondida atrás de uma pedra, o que iria fazer? Atacar? Fugir? Esperar ainda mais? O tempo corria...

- Era difícil pensar. Uma pressão indescritível estava instalada em sua mente, que viajava em sentimentos de medo, apreensão... e até mesmo curiosidade. Por que isso estava acontecendo com ela? Por que um ato tão minúsculo, originado por um capricho passageiro, havia lhe custado tanto? Ela não conseguia aceitar. Ela não podia aceitar. Engoliu seco, uma expressão de choro aparecendo em seu rosto. Queria ir embora daquele lugar, queria ver a realidade novamente. Já havia passado o momento em que tentava se convencer de que tudo era apenas um pesadelo, então agora... não sabia mais o que fazer para confortar a si mesma. Desembainhou a arma que havia obtido inicialmente com certa tremedeira, tentando ao máximo segurá-la corretamente. - O-o que foi? Saia daí logo. - Não sabia se a criatura conseguia lhe ouvir, muito menos lhe entender... mas não custava tentar.

A criatura se virou rapidamente. Emitia apenas grunhidos, seus olhos olhavam com uma certa curiosidade para Yukimura. Parecia inofensivo, o que tranquilizou a garota por alguns breves momentos. Mas então mudou. Ira podia ser sentida, seus grunhidos ficaram mais altos e correu com a faca em mãos. Suas pernas pequenas pareciam dar um ar de lentidão à criatura, mas seus movimentos eram rápidos. Em um breve instante já estava próximo demais a Yukimura, e sua faca parecia mirar no torso da garota.

- Parece que eu perdi minha chance de dar um ataque surpresa. Muito bem, Sayo. - Reprovava suas próprias ações, segurando a espada com as duas mãos, que tremiam. Engoliu seco. - "Você pode fazer isso. Você pode fazer isso." - Repetia para si mesmo, tentando se acalmar. Aquilo não era mais um jogo: não tinha ideia do que aconteceria se morresse ali, então não estava exatamente disposta a arriscar. Levantou a espada com das duas mãos, que ainda tremiam... e então deu o seu máximo para atingir a criatura com um corte lateral.

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'D6' : 3, 2

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'D6' : 1

A pequena criatura avançou, avançou e finalmente se jogou com a faca em mãos. Yukimura, por medo ou talvez por uma sabedoria inconsciente, foi mais rápida, moveu sua espada larga e fez um corte que atravessou por todo o corpo da pequena criatura, que foi arremessada para trás. Sangue jorrava, a ferida estava aberta. Uma mistura de carne e sangue estava no chão, causando uma visão aterrorisante e um cheiro repugnante. A criatura, no entanto, não se abatia, ainda estava de pé e segurando sua faca, parecia disposta a continuar. Sua energia havia diminuído, no entanto, dando abertura para Sayo terminar o combate ou deixa-lo a sua miséria.

- A visão do sangue lhe dava uma indescritível náusea, fazendo com que relutasse momentaneamente. Era muito real, como uma brincadeira de mal gosto. Respirou fundo, tentando conter seu estômago, enquanto suava frio. Não importava o que fizesse, aquela era a realidade agora. - Vá embora... vá embora... - Evitando entrar em contato visual com a cena desconfortante, desferiu outro ataque lateral na direção da criatura.

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'D6' : 3, 3

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'D6' : 5

O ataque era devastador. Apesar do choque da garota, conseguia atingir o monstro com força, o decepando. Para seu alívio, após ser derrotado todo sinal do monstro sinal. O sangue, o couro e até mesmo o cheiro, todos desapareceram, ou melhor, é como se nem ao menos tivessem existido. O aroma voltou a ser o da natureza, o cheiro de verde voltava a encher suas narinas. Havia sobrevivido a seu primeiro combate, e o tinha feito com maestria. Nem sequer um arranhão, Yukimura realmente poderia sentir orgulho de si mesma.

Agora não havia mais o que fazer. O único monstro que estava na região, ou que podia ser visto, havia sido derrotado e o caminho estava livre. Todos os caminhos, no entanto, pareciam iguais. Uma imensidão de verde, não importa para onde olhava. Atrás de si haviam árvores, mas para a esquerda, direita ou frente via apenas uma plánicie verde.

- Demorou um pouco para abrir seus olhos, seu medo em muito se sobressaindo sobre sua coragem naquele momento. Assim que o fez, porém, respirou em alívio, percebendo que qualquer sinal da criatura havia, de fato, sumido. Seu coração desacelerava, sua mente se acalmava mais. Caía sobre si mesma no chão da floresta, não tão preocupada com suas roupas àquela altura. - Por que as pessoas jogavam isso...? - Se perguntava, legitimamente confusa. Permanecia alguns segundo assim até finalmente se levantar, dispersando a terra e poeira que repousavam sobre suas vestes com alguns tapas. - Por hora... - Colocava a mão no queixo, pensativa. Decidia se dirigir até a planície próxima, para observar o que poderia encontrar e decidir como finalmente prosseguir. Seu objetivo de explorar todo o mundo era óbvio, mas não tinha ideia de como começar a fazer aquilo.

Yukimura seguiu o caminho do horizonte. Caminho, caminho e caminhou, mas parecia estar sozinha na imensidão. Nenhum jogador ou monstro estava a vista. Era, no mínimo, estranho. Em torno de 40.000 pessoas estavam online quando o GM anunciou o que iria acontecer, mas havia visto tão poucas destas pessoas. Parecia que tinham simplesmente desaparecido, talvez tenham fugido para outras direções ou apenas se refugiaram na cidade, era agora impossível saber. Começou a sentir fome novamente, e de uma forma ainda mais real.
Após mais de uma hora de caminhada finalmente avistara alguma coisa! Primeiro era apenas uma fumaça que subia para o céu, mas conforme se aproximava pode ver algo que parecia uma pequena torre. Andou mais, e então pode ver que era na verdade uma lareira! Ao que parecia estava perto de uma pequena fazenda, podia ver algumas pessoas trabalhando, aparentemente colhiam algo amarelado, e outras carregando caixas que entravam e saiam da grande casa com a lareira. Algumas vacas e cabras estavam a vista, cercadas por uma cerca média. Além da grande casa com a lareira também podia ver 3 casas menores, todas amarelas e com janelas marrons, uma delas com um grande portão vermelho.

- "São jogadores? Ou aqueles 'NPC'"? - Pensava consigo mesma assim que avistava as pessoas na fazenda. Poucos dias haviam se passado desde o início de tudo aquilo, então logo descartava a ideia de serem realmente jogadores. Criou coragem e então se aproximou mais, disposta a pedir informações para quem quer que fossem aquelas pessoas.

Sayo foi lentamente se aproximando, as pessoas, ou NPC, na fazenda pareciam não a ter notado. Um deles, que estava cuidado das cabras, finalmente viu a garota. Se aproximou com um sorriso no rosto, apoiando os braços na cerca que os separava. - "Ahoi, olá, sinhorita. Possabê o que a sinhora tá fazeno nessas banda? Sem querê ofendê a sinhora, é que nois num recebe muito visitantes por estas banda." - Seu sotaque era carregado, exatamente o estereotipo de uma pessoa do campo na vida real.

NPC Presentes:

- "É que nem o pessoal do interior da vovó!" - Pensava consigo mesma, invocando memórias de tempos mais felizes. Sua semelhança com uma pessoa real chegava ser desconfortante, estreitando ainda mais a linha entre o real e o virtual. - Eu só estou de passagem mesmo. - Explicava com um tom simpático, observando seus arredores. - Eu não esperava encontrar outras... pessoas... em um lugar com esse. Err, como eu posso perguntar... alguém como eu passou por aqui recentemente? - Perguntava, tentando descobrir se era a primeira jogadora a pisar ali. Não sabia se seria entendida se mencionasse jogadores diretamente, então tentava ao máximo ser o mais natural possível. - Não exatamente como eu, até por que poucas pessoas são tão bonitas, mas que carregavam armas e essas coisas?

-"Gente igual aventurêro, cê diz? Passaro uns sim, tavam perguntano sobre umas tar de 'quest', nunca vi esse trem não, lhe juro. Uns tava procurano trabaio tamém, mas nois só pode oferecê trabaio aqui mesmo, cum as vaca, cabra ou nos trigo, e só dá pra pagá in comida. Se ocê tivé querenu, a proposta vale ainda, mas tem que sabê trabaia direito, viste?", o homem dizia de uma forma amigável. Não precisava ser um gênio para perceber que a pequena fazenda produzia principalmente comida, talvez abastecesse alguma cidade. Aceitar o trabalho daria mais provisões para Yukimura, mas demandaria quase que todo o resto do dia.

- "Quest", essa palavra não era estranha. Se se lembrava corretamente do tutorial do jogo, eram tarefas dadas por NPC's ou outros meios que recompensavam o jogador com diversos itens e serviços valiosos. - "Se ele está agindo assim, quer dizer que eles se tornaram bem mais parecidos com os próprios jogadores do que eu poderia imaginar... uhh..." - Coçava a cabeça, confusa. - Eu vou ter que recusar o trabalho, mas agradeceria se você me dissesse para onde esses aventureiros foram. Existe alguma cidade por perto?

- "Oia, uma pena, nois bem que pudia usá mais ajuda aqui. Mas cidade de perto só tem Reyjavik mesmo, mais a sur tem uma vila que num sei o nome, uma parte dos aventurero forum pra lá. Os outro eu num sei, alguns voltaro, outros foi pra isquerda, outros pra direita, mas a maiuria foru pra sur mesmo. Se curre talvez ocê talvez pegue um grupo.", o homem dizia enquanto dava de costas, dando a conversa por terminada. Alguns passos depois, porém, voltou para a cerca. "Oushi mas eu sempre mim isqueço. Se quisé temos uns queijim e pão pra vendê, 50 bronze pelo quejo e 10 bronze por pão."

- Isso não é... um pouco caro? - Suspirava, legitimamente frustrada. Percebia algo: precisava de dinheiro se queria sobreviver naquele mundo. Desde que havia chegado, não havia conseguido nem mesmo uma moeda sequer. - Acho que só vou retornar para Reyjavik por enquanto mesmo. - Explicava enquanto começava a fazer o caminho de volta, acenando para o fazendeiro. - Obrigada pela ajuda! - Dizia antes de se virar. Suspirava novamente, colocando a mão no cabelo. - Tch... eu estou sem dinheiro, perdida e não conheço ninguém... tem como isso piorar?

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'D6' : 6, 4

Longo e árduo foi o caminho, em algumas partes sentiu como se não fosse chegar nunca, mas enfim estava diante dos portões de Reyjavik. Sua comida havia novamente diminuído, e quando dormiu sentiu frio, seu corpo parecia já estar no limite, mas havia ao menos durado o bastante para chegar. No portão via dois guardas, ambos a olhavam, mas não pareciam disposto a fazer coisa alguma. Talvez fosse por azar, mas novamente não havia avistado nenhum jogador.
Tudo mudou ao passar pelo portão. A cidade estava populada, enfim. Podia até mesmo ver algumas pessoas que pareciam reais comprando alguma coisa em barracas, pessoas com roupas luxuosas andavam mais a frente. Não percebeu de imediato, mas um jogador se aproximou e ficou a seu lado. Quando a garota o percebeu, o homem-gato abriu um sorriso. - "Andou perdida, garotinha?", dizia de uma forma leve, sua voz parecia pertencer a um homem de, no mínimo 30 anos. "Você era novata quando isso tudo ainda era um jogo, certo?"

NPC Presentes:

- E-eh?! - Era pega de surpresa pela voz do homem-gato. Seu tempo considerável em imageboards anônimos na internet logo invocavam um termo extremamente pejorativo. - "F-f-furry...!" - Pensava consigo mesmo, olhando para o homem com certa precaução. Balançava a cabeça, relutantemente concordando. - Era meu primeiro dia quando tudo começou...

- "Furry? Haha, você é realmente nova no jogo. Para piorar, aposto que não descobriu nenhuma das novas mecânicas, certo? Já esteve em algum combate ao menos, garota?", o homem-gato perguntava. Parecia bem intencionado e sua voz era reconfortante. Era praticamente a primeira vez que a garota ouvia a voz de uma pessoa que aparentemente era real em todo o jogo, então talvez seus sentidos a tivessem enganado. - "Mas, puuur, aqui não é lugar para conversar. Venha, vamos para uma taverna que fica aqui perto, lhe pagarei uma bebida. Ah, meu nome é Wilheim Mercurius Hohenheim von Österreich. Pode me chamar por qualquer um destes nomes.

- Oe oe, espere um pouco! - Relutava ir adiante, chamando a atenção do homem-gato. - Olha, eu até entendo que você esteja tentando ser legal, mas... não acha que está indo um pouco rápido demais?! - Não podia evitar sentir certa desconfiança, mantendo os olhos abertos. - Quer dizer, como você se você fosse uma garota e um estranho com rosto de gato tentasse te levar para uma taverna? Vamos... desacelerar um pouco as coisas, certo? Err... Wilheim! - Suas palavras não eram exatamente hostis, mas se sentia um pouco consumida com tudo acontecendo tão abruptamente.