GREY SKY - Saki

Quando pegou o Jornal pôde ver então na manchete : "Aumentam os números de Suicídios em Escolas"

Havia uma única foto. Aquela foto era irritantemente familiar para ela. Uma foto de uma turma inteira, com diversas garotas e rapazes sorrindo, todos exatamente iguais, menos uma única garota, menor e com um olhar distante. Seu corpo tinha diversos esparadrapos. Parecia acuada em meio às pessoas. Na foto haviam três pessoas marcadas com um X. A garota deslocada e dois rapazes. Ao olhar bem na foto, conseguia ver um olhar zombeteiro naqueles que circulavam a garota menor.

Aquela foto fez com que a mesma carregasse um sentimento mais pesado em seu peito. Uma sensação de pânico. Um barulho ecoou por todo o hospital. O som metálico de risadas vindas de todo o lado. Tudo escureceu por um momento, e ela sentiu como se seu peito fosse explodir.

-- Não entendia aquelas emoções que percorriam dentro de si, era como algo fantasmagórico estivesse segurando e apertando seu coração.Não, não era algo tão simplório como dor.Era como uma agonia que se alojava dentro de seu ser e que se recusava a sair não importa o que acontecesse.Saki segurava a área de seu peito onde seu coração fica com uma mão e se dobrava na poltrona em agonia, como se estivesse se deitando para frente, enquanto ainda sentada.E: -- AAAAAAAAAAAAAAAARGH! -- Gritava com todos seus pulmões, mas mesmo assim aquele sentimento não ia embora.Mesmo quando finalmente estourava e deixava as lágrimas correrem sem parar, aquele sentimento não mostrava nem sinal de ir embora, como se debochasse da garota e de seus esforços inúteis.E então ela batia na mesa próxima com sua mão, mas falhava em sentir qualquer dor.Batia de novo e de novo, o som de seus gritos ecoando pelos corredores vazios e das altas batidas, falhavam em provocar qualquer sensação, mesmo quando podia ver seu sangue, também cinza, escorrendo pelas mãos.Não havia a dor, não havia o tato, não havia o calor, não havia a cor, só havia aquela sensação monocromática que não a deixava.

O som metálico foi se aproximando cada vez mais da garota, que sem reação mantinha-se em posição inofensiva, de cabeça baixa enquanto as lágrimas vertiam de sua face. Aquele ser cantarolava algo, que parecia uma canção ruidosa -- Você é...a paciente!? Nós não temos uma há séculos. -- A voz era feminina, do tipo de voz que parecia duplicada. Carregava tristeza em sua voz, porém ainda assim alguma gentileza, quase que extinta.

Saki podia ver algo semelhante à uma camisola esbranquiçada, com alguns poucos bordados denotando séculos passados. Sentiu uma mão tocar sua cabeça, uma mão ossuda, que não era quente como a mão dos vivos. Sentia buracos por toda a mão, por onde não habitava carne alguma. A sensação era repugnante, mas conseguia sentir que a mulher parecia estar tentando demonstrar carinho, por mais que seu tom de voz fosse assaz frio -- Você é...a paciente!? Nós não temos uma há séculos. -- Ela repetia, de forma quase que robótica. A garota de cabeça baixa só conseguia ver a camisola tocando o chão. Atrás da mulher era possível ver um rastro de sangue. O cheiro nauseabundo tomava as narinas da garota. A mulher parecia esperar algum tipo de resposta.

-- A sensação física do contato com aquela mão era desconfortável, mas invocava algo que não fosse cinza.Não entendia muito bem, mas parecia até algum tipo de afeição, um sentimento que quase a fazia entrar em transe, o bastante para nem se sentir envergonhada sendo vista daquela maneira. --Eu acho. -- Respondia, ainda um pouco hesitante.Não entendia nada sobre aquele lugar, ou sobre aquela mulher e nem se dava ao trabalho de questionar aquela frase, no mínimo suspeita.Só conseguia pensar que se vestia roupas de hospital deveria ser uma paciente, porque parecia simples e fácil e queria algo que pudesse engolir sem dificuldade.

Ao erguer sua face, conseguiu ver a mulher por inteira. Media por volta de 3m de altura, e tinha cabelos longos brancos, que se misturavam com as vestes de paciente. Metade de sua face era completamente ossuda, apenas uma caveira seca, sem qualquer expressão, porém com olhos EXTREMAMENTE humanos e chorosos. Um filete de lágrimas vermelhas teimava em escorrer entre a cavidade ossuda, e o som do gotejar era ouvido por Saki. Era aquilo que deixava o rastro. Do outro lado era possível ver sua face extremamente feminina, de pele pálida e marcada, com a ausência de um olho. Apenas uma cavidade vazia desse lado. A mulher estendeu a outra mão para a garota, e Saki pode ver aquilo : Seus braços eram completamente marcados de cortes e feridas profundas. A mulher sorriu com dificuldade e disse -- E-Eu...estava à sua espera, como estive à espera dos outros nos ultimos séculos...E-Eu irei... -- Ela parecia emocionada, sem saber exatamente o que fazer. Um sorriso de satisfação se fez em sua face. Levou a mão ossuda até a própria face, fazendo com que o osso do dedo indicador tocasse onde antes corria as lágrimas de sangue -- Me desculpe, eu irei...preparar a sua lápide, t-tudo bem!? Oya Oya...eu estou t-tão feliz, me desculpe por estar tão chorosa, eu juro que é de felicidade -- Podia sentir que ela realmente estava feliz. -- Caso precise de m-mim, não pense duas vezes em me chamar, Saki-chan... -- Ela então começou a caminhar em direção às escadas. A forma como se movia era como se constantemente se arrastasse -- M-Meu nome é...Chiyo, a Morte Tranquila (静かな死)

-- A minha lápide...? -- Naquele momento Saki entendia, ou ao menos achava que tinha entendido o que aconteceu. -- "Ah...eu morri..." -- De alguma forma aquela notícia não era tão chocante quanto esperaria, se qualquer forma parecia um alívio.Talvez porque tinha descoberto daquela forma?Sua forma era estranha e talvez até assustadora, mas se sentia estranhamente afeiçoada por aquela mulher.A maneira como ela agia a lembrava do que deveria ser uma vó agitada com a chegada de uma querida neta que há muito não via.Mas sentia que mesmo isso era uma fabricação dela, pois, embora não se lembrasse, de alguma forma tinha certeza que nunca tinha experimentado esse tipo de coisa antes. -- Ah sim...obrigada, Chiyo.Eu sou Saki Issei.

No momento em que o nome Chiyo foi pronunciado, tudo se tornou escuro novamente. As luzes pareceram desaparecer para logo em seguida voltarem por completo. O ambiente hospitalar deu lugar à uma cratera. A poeira se fazia presente e o som das asas dos hollows batendo irritava Saki.
Quando retomou sua consciência, estava com a Zanpakutou na mão, e agora era tinha outra forma. Era uma lâmina maior e mais esguia, onde uma pequena caveira habitava em seu cabo. Uma energia pálida se mostrava presente ao redor da mesma. Da ponta da lâmina um brilho fantasmagórico se fazia presente, começando a tomar forma de duas mãos pálidas que se esgueiravam entre a nuvem de poeira, indo na direção do pescoço dos dois Hollows.

Chiyo, a Morte tranquila se fazia presente alí, na presença da melodia da cacofonia dos Hollows


FIM DE SESSÃO