Devin Thorne \ Sete / Revolução(?)

OST
4 de Setembro de 2018


     Toc. Um suave toque de madeira tocando madeira. Mas é claro que o Thorne não podia ouvir o som feito quando seu bispo era genialmente movido até uma casa inesperada na partida de xadrez que jogava agora, afinal, o campus da Graham University estava barulhento como de costume, ou melhor, podia se dizer que estava ainda mais barulhento naquele dia. Enquanto andava pelo campus hoje, notara cartazes novos colocados em árvores e postes por alunos militantes, na verdade, poucos metros da pequena mesa de concreto onde jogava, esse mesmo movimento militante estava advogando em publico sobre suas propostas e protestos. -- Quantos você acha que voltam quebrado da manifestação essa semana? -- Isadora Tells, sua oponente perguntava casualmente, enquanto olhava com uma expressão de desprezo pro tabuleiro e clicava sua língua em seguida. Sua mão retirava sua mecha de cabelo de cor arroxeada que bloqueava sua visão da frente do rosto e então recostava na cadeira, pensativa. Os protestos acadêmicos estavam cada vez mais intensos nesse ano e um evento importante aconteceria esse fim de semana. Até agora, as relações internacionais tinham se mantido estáveis depois da guerra fria, com a queda da União Soviética, mas a balança estava prestes a ser consideravelmente alterada. Foram quase 80 anos de pesquisa, mas a nave que trouxe Ultraman finalmente tinha sido decifrada pelo governo americano. E agora? Agora uma nova linha de super armas feitas com a tecnologia extra-terrestre ia ser apresentada em um desfile militar naquele sábado. Naturalmente, a maioria dos universitários eram contra essa beligerância e um protesto massivo seria executado no dia do desfile. O grande outro problema era que desde que alguns mutantes causaram problemas em uma manifestação a 3 anos atrás, a repressão policial em protestos tem ficado exponencialmente maior, em um ponto onde manifestações sem feridos tinha se tornado um conto de fadas do passado. -- De qualquer forma, como você consegue pensar nessas jogadas ridículas?

Pessoas Presentes:

- O segredo é jogar se baseando apenas em um pseudológica. Como as táticas de guerra que mais deram certo, o segredo é não planejar para ninguém te prever. O que pode ser bom ou ruim. -- Dizia com sua habitual voz calma e monotona. Observava o tabuleiro por algum tempo e então se voltava para Isadora. - Se dependesse do governo, provavelmente ninguém nem ao menos voltaria vivo dessa manifestação. Consigo até imaginar aquele bando de militares apontando suas novas armas para os manifestantes e os ditos "heróis" - dizia a última palavra com um certo desprezo - os apoiando. Cães do governo, todos eles. O grande legado do herói Ultraman será a opressão do povo que o acolheu. Bem irônico, não?

-- Você diz tipo, ir com o fluxo? -- Comentava em resposta às instruções de Devin, mas seu tom era mais baixo, como se tivesse falando pra si mesma para não interrompê-lo. Apesar de parecer ter entendido, seu estado com o tabuleiro ainda era de decepção total. O presidente atual dos estados unidos, Ronald Rush, era um símbolo do conservadorismo que vinha se popularizando ao redor do globo. Como consequência, ele e suas medidas eram bem impopulares no meio acadêmico, mas ele ainda fazia um papel representando o repúdio e insegurança que a grande maioria da população sentia sobre toda essa situação com os mutantes. -- As coisas 'tão fodas ultimamente. O governo não parece nem considerar mutantes humanos mais. Eles dizem toda aquela ladainha de instituir uma paz mundial, mas eu sinto que eles fizeram essas armas pra manter rebeliões em cheque.

- Os mutantes são apenas a desculpa conveniente. Se não existissem mutantes, pode ter certeza de que eles usariam qualquer desculpa para manter a suposta paz mundial. - Voltava a encarar o campo, tentando prever qual movimento sua adversária iria fazer. Existem milhares de possibilidades de possibilidades no xadrez e elas aumentam com cada jogada feita, tentar adivinhar era quase que um jogo de azar. - A pior parte dessa onda criada pelo Rush é que ela também cria uma onda que serve de antítese. Alguns países elegerão conservadores, outros irão eleger liberais, e isso deixará nosso mundo ainda mais polarizado. No fim até mesmo os heróis foram engolidos pela política.

-- A linha entre um vilão e um herói é como o público vê eles, afinal. Mesmo que você se recuse a se render pro governo ou uma força política, pessoas de máscara e fantasia não podem se defender num tribunal. -- A garota comentava de maneira desanima, parecendo ter finalmente pensado em uma jogada ou ao menos fazer uma aposta, finalmente movia seu cavalo para uma casa. Uma jogada ok, mas não lá essas coisas, na visão de Devin. -- O governo e mídia podem simplesmente te acusar de qualquer crime, pagar algumas pessoas para testemunharem e pronto: você é um vilão. -- Suspirava. Para alguém que cursava jornalismo, Isadora era estranhamente motivada a falar contra a mídia. Talvez tivesse algo a ver com seus dois anos de vantagem em relação ao garoto, quando se tratava de tempo na universidade.

- Hmmm... - Dizia enquanto observava a garota fazer sua jogada. - É para isso que servem os advogados, os inocentes serão sempre protegidos e inocentados. A Constituição sempre garantirá nossos direitos. - Dizia com uma clara ironia, segurando o riso no meio da frase. - Quem perder irá pagar todo o almoço, certo? - Dava um pequeno sorriso para a garota depois de planejar sua jogada.

-- Até parece. Se eu fosse ficar apostando esse tipo de coisa com você, você podia me chamar de "mamãe" logo. -- Dispensava sua "oferta generosa" com um tom sarcástico. Isadora não era ruim no xadrez, na verdade ela tinha um entendimento sólido do jogo, o bastante para ser considerada uma boa jogadora. Mas, enquanto ele não era nenhum super gênio campeão nacional, o nível de Devin já havia há muito chegado ao profissional e por isso não tinha praticamente ninguém na universidade que conhecia que podia lhe oferecer um real desafio...

8 de Setembro de 2018
OST
     Era madrugada, quatro da manhã. Em quatro horas, a partir da base militar que ficava na zona leste de Sun City, o desfile das novas armas começaria, significando que seu processo de preparo já devia ter começado. Thorne se via em seu apartamento. O que faria essa noite? Essa manhã? Talvez se fosse só um estudante comum, poderia simplesmente dormir, com um sentimento de revolta ou indiferença e continuar a viver sua vida conformado. Mas a questão em mãos era extremamente relevante a ele. Não como o jogador de xadrez, Devin Thorne, mas como o mutante vigilante, Whispering Owl.

Tinha que descobrir mais sobre essas armas. Lá fora, em algum lugar, alguém sabia, alguém sabia... Talvez em algum bar qualquer, onde a escória costuma se reunir. Bandidos, pedófilos, traficantes... sabia onde eles estariam, era só procurar um bar caindo aos pedaços com um letreiro de neon e toda a nata da sociedade estaria lá. Caminhou em direção ao armário e o abriu. As roupas na frente protegiam uma abertura secreta, abertura esta que dava para um cofre. Do modelo antigo, que pode ser aberto apenas através de uma senha inserida manualmente. Não confiava nos modelos digitais, principalmente nos que abriam através das digitais. Sim, com seus poderes em teoria poderia impedir qualquer informação de sair de seu apartamento, mas mesmo assim era perigoso. Abriu o cofre e colocou suas roupas. Agora não era mais Devin Thorne, era Whispering Owl, a brutal identidade que havia herdado de seu pai. A roupa dava uma boa camuflagem que era necessária para quem anda totalmente no escuro, evitando tudo e todos. O gancho de escalada que sempre carregava era muito útil, tornava perseguições e fugas bem mais fáceis. Carregava também um celular de um modelo extremamente antigo, normalmente usava para ligar para a polícia ou hospital depois de derrotar algum bandido ou vilão qualquer. De resto possuia também alguns itens básicos para detetives. Depois de checar se tudo estava no lugar, resolveu sair para a noite. Já sabia aonde ir, iria direto para o Bar do Joe Caolho, o favorito da escória bem informada e onde já era bem conhecido por sua brutalidade para conseguir estas informações.

- Poderia ir diretamente até Joe Caolho, mas em uma situação destas ver um rosto desconhecido poderia ser algum sinal. Os olhares se voltavam para Whispering Owl e ele sabia disso, sua presença não era desejada naquele lugar. Caçadores de recompensas e mercenários que se chamavam de heróis bebiam ao lado de ladrões e vilões, era uma reunião do pior tipo de pessoa. Mas agora não importava, tinha um alvo bem maior que esse tipo de verme pequeno. Sentou-se ao lado do homem misterioso. Não olhou para ele, mas estava óbvio para quem falava. - Nunca te vi. Quem é você? O que faz no meio de tantos vermes? - Dizia, sendo direto como sempre. Sua voz saia diferente de dentro da fantasia, era rouca e mais grossa que o normal.

-- O homem se virava para Devin, o encarando por alguns segundos que pareciam uma eternidade. Sem saber por que, o jovem sentia que por trás daquela máscara, o homem tinha aberto um sorriso de maneira satisfeita, em contraste de sua resposta em um tom sem emoção alguma: -- Nameless. Nada mais, nada menos. -- Notando agora, o homem estava com um copo de uísque meio cheio com uma grande esfera de gelo. Sua atenção era voltada pra ele, especificamente para a mão direita de Nameless que vestia uma luva do que parecia ser couro grosso. Ele mergulhara seu dedo indicador no uísque e o mexia tranquilamente. O mais bizarro é que após alguns segundos disso, junto aos barulhos do gelo clacando com a parde de vidro do copo, o nível de líquido no recipiente parecia ter diminuído consideravelmente. Finalmente, ele tirava sua mão de lá, com uma luva completamente seca. -- Eu estou procurando alguém, e você? Me parece meio contraditório visitar um lugar pelo qual sente esse tipo de ressentimento. --

- A escória se reune aqui. Preciso da escória. Informação. Só dá para conseguir em lugares assim ou subornando oficiais do governo. Exibição de armas hoje em algumas horas. Sabe algo? Irei sair daqui quando eu souber. Mesmo que tenha que quebrar alguns ossos. - Sua fala era marcada pelas rouquidão, pausas e impessoalidade. Ás vezes Devin se perguntava se seu verdadeiro estilo era esse ou o que usava durante o dia. -Lugar pode ficar quente. Sair pode ser uma boa opção.

-- Entendo, entendo. -- O homem falava de maneira que sugeria algum interesse, mas seu tom continuava contraditoriamente monótono. Os dois estavam definitivamente formando um par muito bizarro de discussão. -- Infelizmente eu não tenho nenhuma informação relevante sobre isso. -- O homem se levantava, seu copo de uísque estava vazio, mas só agora o coruja percebera a mudança. Antes de ir embora, ele simplesmente deixava algumas palavras misteriosas. -- Mas eu sei de uma coisa. Se você fizer as coisas sem pressa, você provavelmente vai presenciar algo interessante. -- Toc, toc, toc. O som de madeira tocando na madeira, mas é claro que naquele bar barulhento onde as pessoas discutiam acaloradamente e jogavam ilegalmente, o suave som da sola de madeira dos sapatos do homem tocando o piso não chegaria aos ouvidos de Whispering Owl.

- Observava o homem saindo do bar, seu rosto se voltando para Joe Caolho logo depois. Levantou. Não tinha tempo para pensar no que Nameless havia dito, deveria descobrir o que quer que fosse acontecer logo. Invadir a base do exército parecia loucura, mas talvez fosse uma opção. Joe Caolho estava servindo um cliente quando Whispering Owl se aproximou jogando-o para o lado. Encarou o homem caolho, seu único olho parecia um vazio pronto para engolir tudo. - Sabe porque vim aqui. Ouviu, sempre ouve. Quem tem a informação? Não quero queimar este lugar ainda.

-- O homem não parecia minimamente intimidado pela pose da coruja. Seu olho era o olho de alguém que já tinha vivido por muitas situações de alto risco pra ser intimidado pelo primeiro cara estranho em uma fantasia que aparecesse. Joe simplesmente pegava o copo que tinha que acabado de ser deixado, levava-o até a pia, deixando água correr por ele, apanhava um pano e começava a secá-lo. -- E onde está seu pagamento? Você realmente espera que eu te diga algo de graça?

- Encarou o homem brevemente. - Sabe o que posso fazer. Queimar o lugar. Acionar toda a polícia. Aumentar as chances de câncer. Só preciso de informações. Ninguém se machuca. - Seguia com o tom ameaçador. A maioria das pessoas no bar seriam fáceis de lidar. Aumentar um pouco a temperatura já faria boa parte deles desistirem de tentar lutar. Adicionalmente enviar uma onda de rádio falsa para uma torre policial seria ainda pior para todos ali. Joe Caolho sabia disso, esperava. Tentar negociar era perda de tempo, só iria significar uma perda para ambos os lados.

- É exatamente o contrário. Você vai me dar as informações pra que não fazer isso. - Agora vinha a parte realmente ameaçadora. Todo o ar dentro do bar começou a esquentar. Nada pesado demais, aumentou apenas alguns graus, o bastante para todos notarem e esquentar algumas bebidas, mas não forte demais parar gerar alguma explosão ou fazer surgir uma onda cancerigena em todos alí dentro. Isto aliado com a fama de brutal que Whispering Owl tinha deveria ser o bastante. Joe Caolho sabia que uma ameaça vindo desse tipo de gente se concretiza. - Informação. Agora.

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'D100' : 29

-- Tudo bem, eu vou te dizer o que eu sei. -- O homem dizia, fazendo um sinal para que ele parasse. Apesar de suas ações, não parecia tão abalado, como se lidasse com esse tipo de coisa o tempo todo. Se aproximava do ouvindo de Devin, para que não fosse ouvido pelos outros clientes do bar, alguns inclusive que já tinham virado sua atenção para os dois que dialogavam ali.-- Pelo que eu ouvi dos meus informantes, essa arma nova é só um tigre de papel. Eles estão fazendo algo enorme e intimidador, mas não tem anda particularmente forte ou útil nela, dizem até que toda essa história de tecnologia alienígena é mentira. 

- Whispering Owl ouvia atentamente o que Joe Caolho dizia enquanto fazia a temperatura do lugar diminuir. - Protestos. O que sabe deles? Muita conversa aí fora. Governo vai usar a força. Alguns dizem que vai.

-- Correntes de estudantes e militantes de toda parte estão organizando protestos, alguns em aberto e outros em segredo. Parece que eles pretendem juntar milhares de pessoas e bloquear as principais avenidas da cidade pra impedir o progresso do desfile. -- Joe dizia, quase que sussurrando. Citando também o nome dos principais focos onde essas manifestações aconteceriam. Mas a informação que Devin realmente queria vinha depois. -- Mas parece que o governo não está preocupado. Parece que estão dizendo que não importa o quantos apareçam ou o que façam, não tem nada que vão conseguir fazer pra impedir o progresso deles...Isso é só um palpite meu, mas eu estou apostando no exército agindo ativamente, nada tão mole quanto só uma força policial.

- Entendo. Sempre bom fazer negócios com você. - Virou-se e saiu sem sequer olhar para trás uma vez, quem estava lá não era merecedor disso. Se meteu rapidamente em um dos becos escuros da cidade. Poderia tentar atacar um militar e roubar informação, mas isso traria atenção demais e a polícia já não gostava muito de ouvir o nome de Whispering Owl. Por hora iria vagar procurando por algum crime e entrar em ação, faria isso por no máximo 40 minutos. Seu objetivo agora era aproveitar os protestos para tentar descobrir mais.

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'D100' : 73