Shin Arc - Capítulo 15

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Você entende por que foi chamada até aqui, Srta. Estelle? - A voz do ancião era a única coisa em que Bright conseguia se focar naquele momento. Seus braços e pernas doíam um pouco, se esforçar além de seus limites realmente não parecia ser algo gentil em seu corpo. A garota não precisava exatamente pensar muito quanto a pergunta do ancião, obviamente os eventos da noite anterior sendo o motivo. Era a primeira vez que Estelle se encontrava com o mesmo, sua residência se sustentando como a maior, no centro do vilarejo. Havia um ar de liderança no homem, como se suas palavras carregassem incontáveis anos de experiências diversas, não sendo algo que a mesma conseguiria lidar facilmente. Já era de dia, os raios solares gentilmente adentrando a residência oriental por meio de bifurcações e portas presentes ali e demonstrando que a turbulenta noite anterior havia de fato passado. Mesmo assim, o clima não era dos melhores, um sentimento de apreensão e certo medo ecoando pela mente da garota do porto de Nor.

NPC's/Players presentes:

- Sim, é claro que eu sei. Os SHIN... acredite, eu não queria que eles viessem aqui... na verdade eu sequer sabia que eles iriam me perseguir. Dizia a garota com um semblante completamente sério e focado, algo incomum para a mesma. Não mentira, ela realmente não fazia ideia de que os SHIN iriam persegui-la, na verdade pensou que eles já estariam todos mortos juntos com sua criadora. Me desculpe, mesmo. Disse evidentemente triste. Esboçou uma reverencia que saiu forçosamente, visto a fadiga que seu corpo sentia.

- O homem não demonstrava uma reação imediatamente, preferindo aguardar de maneira paciente as palavras da garota. - SHIN... não é? - Dizia pensativo, enquanto permanecia com seus olhos fechados. - Hmph, um nome adequado. Até mesmo Kouha não foi capaz de pará-los facilmente. - Tocava seu queixo com uma das mãos, ainda sem abrir seus olhos. Sua voz era paciente e nenhum resquício de real hostilidade podia ser sentido pela garota. Na verdade, era extremamente difícil ler sua expressão. - Não acho que tenho qualquer direito de se envolver em seus assuntos, apesar de tudo, pequena Estelle. - Não era um título muito agradável para a garota. - Na verdade... eu só gostaria de perguntar uma coisa, de início. - Parava por alguns momentos, limpando a garganta. - Você já havia ouvido falar do povo Kurta antes de chegar aqui, não é?

-Sim, sim. Eu já tinha ouvido... mas não sabia muito, só que os olhos de vocês ficam vermelhos, nada mais. Dizia Estelle, sendo novamente completamente sincera. Será que o Ancião desconfiava que ela tinha feito de proposito? Mas eu cheguei aqui por acidente, fui salva pelo Yuri, você deve saber.

- Hmm... então o povo deste mundo ainda não esqueceu de nossa existência... - Dava uma breve risada, ainda com seus olhos fechados. - Mas isso que você disse é verdade. O povo Kurta desperta olhos vermelhos quando expostos a fortes emoções, assim como nosso poder é extremamente ampliado. - Tomava um gole de uma bebida presente na mesa que separava os dois, em um gesto elegante. - Isso foi o suficiente para que os outros povos criassem certo... temor em relação a nós. Em pouco tempo, os Kurta foram taxados de verdadeiros demônios, culpados por qualquer desgraça que ousasse se espalhar pela terra. As tribos desse mundo esconderam-se, distanciando-se de qualquer contato com o mundo civilizado e adotando um modo de vida completamente dependente da natureza. - O homem continuava a falar, sem esperar qualquer reação de Bright. - E assim nós continuaríamos... se não tivéssemos sido forçadamente expulsos de nosso próprio mundo. - O ar ao redor de Estelle mudava, assim como quando havia discutido sobre o continente perdido com Kouha. Substituindo a forma da residência oriental, um grande campo verde que se estendia até onde seus olhos podiam ver aparecia, esbanjando um bonito céu azul praticamente livre de qualquer nuvem. Seus arredores eram compostos de várias residências e estruturas que se assemelhavam muito aos daquela vila. - Isso é o que vocês chamam de... "Calamidade", ou algo assim. - Bright não conseguia entender muito bem suas palavras. - Mesmo em um mundo totalmente novo e desconhecido, nós respeitamos nosso modo de vida tradicional e oculto, afinal, era o único meio de viver em paz. Até que... você apareceu, pequena Estelle, e tudo que seguiu. Você entende onde eu quero chegar, não é?

- Você quer dizer que eu atrapalhei o modo de vida pacífico de vocês, não é? Fazia sentido, mesmo sem querer havia trazido destruição para um lugar extremamente pacífico. Se sentia mal, muito mal, no fundo, mas estava tentando encarar as coisas por um lado positivo, ao menos tinha aprendido mais e os danos podem ser consertados. - Se quiser eu posso sair, deixe apenas que eu me despeça da Kouha antes. Ah, e claro, me mostre o caminho.

- Perdão, eu realmente não gostaria de colocar nessas palavras. - Sua expressão escurecia um pouco, abaixando a cabeça em um gesto de respeito a Estelle. - Mas me parece que os Kurta realmente são um povo amaldiçoado... sempre que colocados de cara com o desconhecido, uma tragédia ocorre. - Segurava seu cajado contra as duas mãos, apoiando sua testa sobre as mesmas. Estelle podia perceber a Aura do idoso mudar, junto com seus arredores que voltavam finalmente ao normal. - Eu não poderei conceder seu pedido, pequena Estelle. Afinal... - Levantava seu rosto, uma expressão neutra, mas uma Aura hostil agora presente no mesmo. Era forte demais. Não era algo que Bright podia de alguma maneira aguentar. - Eu não irei mais arriscar qualquer de meus irmãos novamente. Nem por mais um minuto. Kouha lhe trouxe aqui sabendo muito bem das regras desta vila, e veja o que aconteceu. - A sensação no peito de Estelle não era das melhores.

- Eu não vou fazer mal algum, só me deixe falar com ela por uma última vez... prometo que será a última, após isso irei sair da vila. Implorava Estelle, tentando esconder todo o peso que carrega em seu coração. Que direito tinha de poder ver novamente a garota que ela indiretamente quase matara? Mas mesmo assim, queria poder falar com ela mais uma vez, se desculpar...

- Você tem mesmo certeza... que possui controle sobre isso? - Respondia a primeira afirmação de Estelle com uma última pergunta hostil, claramente se referindo às ações dos SHIN. Levantava-se, seu semblante de idoso frágil quase que desaparecendo totalmente. - Eu já tomei minha decisão. Deve haver um mapa para a saída da floresta na casa de Kouha. Não me faça repetir. - E com isso, saía do local, deixando Estelle sozinha com seus pensamentos. A voz do ancião era substituída pelo calmo canto dos pássaros e criaturas da floresta.

"Droga", era só o que pensava a garota. Talvez lágrimas estivessem descendo de seu rosto, mas não conseguia raciocinar o bastante para ter certeza. Talvez eu devesse... não, eu não tenho direito de fazer isso, já estraguei demais as coisas por aqui. Lentamente, então,
Estelle se levantou e se dirigiu à casa de Kouha pela última vez.

Estelle não queria fazer barulho, sua saída deveria ser silenciosa. Lentamente procurou e encontrou o mapa que tinha lhe sido dado. Foi em direção à cama de Kouha e encostou a mão na testa da garota. - Desculpa... e adeus. Para você também, Yuri. E para o Matthew.
Murmurou apenas, talvez nenhum deles tivesse ouvido, era o objetivo. "É hora de sair, talvez se eu der sorte acabe encontrando o Rift". Encarou o mapa e a porta, que abriu para seguir seu destino...

- Acho que é isso. Espero poder encontrar o Rift em Zaban. Sentia um estranho calor em seu rosto, era como se sua temperatura estivesse subindo apenas naquela região. "Eu não devo chorar, droga." Conteve as lágrimas, no fim sabia que a vida era uma grande lição de apenas deixar ir, se desapegar. Irei seguir o caminho mais curto, e farei ele ser ainda menos longo.
Sem olhar para trás, sem chorar, mas com um grande peso no coração, concentrou e liberou sua Aura nos pés, pegando uma grande velocidade, e seguiu seu rumo pela costa em direção à Zaban City.