Cenário da Prata - Capítulo 1

Seu sono era muito mais leve do que o normal. O garoto geralmente era desperto pelo barulho dos pássaros voando logo cedo. Ergueu-se da cama com um único salto, colocando as mãos no batente da janela, para logo em seguida a abrir. O sol batia contra sua retina lhe despertando por completo. O que teria de fazer hoje mesmo? parecia ter esquecido. -- Huh, era...era... -- Ele então bocejou de leve, coçando a cabeça. Seus cabelos brancos ficavam ao vento naquele momento, e então ele logo lembrava. -- Invocador! Vai vir um invocador, não é? -- Coçou o queixo de leve, bocejando novamente. -- É! Como eu esqueci disso!? Os outros já devem estar lá! -- Saiu pegando pelo chão suas roupas : Um shorts preto simples, e uma camisa branca com a estampa de um desenho da cabeça de uma vaquinha escrito embaixo "BEBA LEITE! GOSTOSO!". Não tinha tempo à perder, devia correr até lá. Sua vó havia comentado há muito tempo algo sobre sua familia um dia ter sido de invocadores ou qualquer coisa do tipo, mas o garoto nunca prestou atenção de fato

-- Se apressando, o jovem descia as escadas de ferro da guilda, que ressoavam a cada um de seus passos.Para sua sorte, não tinha chego exatamente atrasado, mas bem na hora certa.Não demorava mais de um minuto para que todos estivessem reunidos no salão, isso é, Celo, o mestre da guilda e seus 4 "companheiros de turma". -- Acho que antes de começarmos, tenho de desejar um bom dia a todos. -- Sua expressão serena era inspiradora, o mestre da guilda prateada falava como um verdadeiro pai a todos os garotos. -- Como vocês sabem, hoje vocês receberão suas guardian beasts, dando o início à reta final do aprendizado de vocês.Por isso eu quero que vocês entrem um de cada vez na sala anexada. -- O salão da guilda de prata era todo feito de ferro, uma pesada porta separando a parte principal de uma pequena sala onde assuntos mais confidenciais eram tratados. -- Certo!Eu primeiro então! -- A primeira a se manifestar era Aila, seus cabelos vibrantes refletiam sua personalidade igual e irritantemente vibrante, ou talvez, sangue quente fosse uma forma melhor de descrever.A garota dava socos no ar enquanto falava. -- Espere um pouco, o certo seria fazermos por ordem de idade.É o mais respeitoso a se fazer. -- Rise dizia calmamente, em contraste com a primeira.Era uma indivíduo de poucas palavras, então Shea não a conhecia muito bem, imaginava que ela se preocupasse com tradição. -- Não, eu realmente não ligo muito pra quem vai primeiro. -- Um pouco envergonhado, Zeno respondia gentilmente.Dois anos mais velho que a média dos aprendizes que estavam reunidos ali, ele era uma figura paterna pra maioria dos aprendizes da guilda que eram orfãos ou simplesmente por dividirem o mesmo teto. -- Realmente não importa muito quem vai primeiro, vocês não deviam fazer toda essa bagunça. -- Parecendo sempre indiferente e mais preocupado com seus próprios interesses, Euro dizia, sendo o caçula da turma, seus cabelos laranja e sua proficiência chamavam bastante atenção, em contraste de sua personalidade.

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Ele bocejou novamente, com uma expressão calma, olhando então para a camisa que vestia -- "Eu devia ter vindo com uma camisa melhor, eu acho" --  Olhou para todos envergonhado do que vestia, mas não podia dizer nada. Querendo ou não aquela camisa era provavelmente a camisa que ele mais gostava entre todas as que tinha. Coçou a cabeça, arrumando então o pequeno acessório que usava na mesma, dizendo -- Podemos...só fazer? eu não sei o que iremos fazer direito, mas...não podemos passar má impressão, não? -- Ele falava, com voz de sono. Celo falava muito sobre causar má impressão. Shea não ligava muito, mas não gostava de que ficassem brigando

-- Já sei, vamos tirar no dois ou um, tirando um vencedor de cada vez até decidirmos toda a ordem. -- Zeno sugeria, e era algo acatado rapidamente.Surpreendentemente para o garoto, Shea era o primeiro a ganhar.O garoto precisava usar relativamente bastante força para que a pesada porta de metal se movesse e finalmente abrisse, dentro dos aposentos que pareciam confortáveis, um homem de vestes completamente verdes o esperava, o garoto achava um pouco estranho um homem usar vestido. -- Então você é o primeiro?Trouxe o catalisador? -- O homem perguntava calmamente, por catalisador ele se referia a um item de importância para o garoto.Celo tinha dito para que trouxesse no dia passado.

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Pode ser. Eu nunca dou sorte com essas coisas, hahaha, nem sei por que vou participar desse dois ou um -- Ele dizia, com um curto sorriso nos lábios. Sorriso esse que morreu quando ganhou no dois ou um. Ser o primeiro não era algo bom, havia toda uma pressão em suas ações e no que faria. Respirou fundo e então fechou seus olhos enquanto dizia, de forma artificial -- Yay, ganhei. -- Ele então seguiu para a tal sala, sem falar mais nada. Parecia absorto, não acreditava que havia ganho no dois ou um. Sua expressão era de leve irritação, enquanto seus olhos pareciam marejados. -- "Eu nunca ganho nada, e justo o que eu não quero ganhar eu GANHO?" -- Ele então limpou o rosto com a gola da camisa de "BEBA LEITE, MUITO GOSTOSO".

Usando as duas mãos conseguiu abrir a porta, esbaforido quando entrou. Olhou para o Invocador alí presente e lhe deu um curto sorriso. O rosto de Shea ficava vermelho quando o mesmo chorava, e era possível ver que havia chorado. Disse para o Invocador -- Eu sou Shea S. Shiny! Bom te conhecer. -- Pensou em estender a mão, mas notou que o homem era mais sério do que o normal. Ao ouvir sobre o catalizador, arregalou os olhos. Tinha esquecido do Catalizador! Droga! Na ultima hora decidiu que faria aquilo...

Respirou fundo e retirou sua camisa, olhando bem para a estampa dela por um momento. Era a única lembrança que ainda tinha de seu pai, uma camisa idiota sobre beber leite. Seu pai, mais idiota ainda havia ido caçar dragões. Suspirou, vendo a camisa com a gola manchada de lágrimas, entregou para o Invocador. -- Esse é meu catalizador, senhor invocador.

-- O garoto tinha certeza que uma camiseta de beber leite ainda um pouco úmida não era exatamente a escolha mais normal para um catalisador, mas o homem parecia ignorar isso, assim como o fato de que Shea estava sem camisa agora.O pedaço de roupa era colocado, junto a uma pedra cinza em um grande pedaço de papel no qual um círculo estava desenhado. -- Ok, eu vou te fazer algumas perguntas e preciso que você as responda...Por que você quer se tornar um craftknight?

Sentia até um pouco de vergonha de entregar uma CAMISA como catalizador. Respirou fundo e olhou o homem no fundo dos olhos, com total certeza para dizer -- Eu acredito que existe muita coisa incrível no mundo, que só sendo um Craftknight eu vou conseguir estar perto.

-- Quando respondia, a pedra começava a brilhar levemente em uma cor difícil de identificar devido a uma baixíssima saturação. -- Entendo.E o que você vê como um craftknight? -- A segunda pergunta era feita com um tom ainda sério.

Fechou os olhos por um momento. Seu pai havia sido um Craftknight sério e esforçado, e por isso se esperava muito do garoto. Queriam que ele fosse mais pé no chão do que os outros. Olhou fixamente para a pedra e então disse -- Ser aquilo que o meu pai não foi. Ser diferente daquilo que esperam que eu seja, encontrar um caminho pra mim no céu, junto às estrelas, com as asas da Justiça, que forjarei com meu próprio suor e esforço!

-- Certo, agora a última pergunta. -- A pedra parecia alterar entre 4 cores em seu brilho, agora já mais intenso, porém irregular se comparado ao anterior. -- O que você enxerga como essencial para um bom Craftknight?

Leveza e Grandiosidade! Leveza para saber voar mesmo entre as adversidades, e Grandiosidade para abrir o caminho para aqueles que vierem atrás de você! Apenas com os dois que pode se alcançar o verdadeiro poder que há aqui dentro. -- Ele apontava para o próprio peito. Havia ouvido Celo falar muito sobre "Bondade" e "Força" mas nunca sobre Leveza. Era algo que via dentro de sí como necessário, para poder voar alto

-- Quando respondia, a gema mágica começava a brilhar em um intenso vermelho e finalmente dela aparecia um novo ser na sala.Parecida com uma garota humana, seus cabelos de um gritante vermelho eram médios e trançados, seus olhos de mesma cor afiados, como os de um felino.Vestia um kimono verde escuro.Seus pés não tocavam o chão, simplesmente flutuava, sentada em uma cadeira feita de crânios de diversos tipos e tamanhos, trazendo uma visão macabra, mas surpreendente limpa, uma vez que os crânios pareciam bem tratados e cuidados e não ruínas pútridas recém-tiradas de corpos de suas vítimas ou algo do tipo. -- O contrato foi formado, o meu nome é Oozora e serei suas asas, jovem craftknight. -- A youkai dizia com um sorriso confiante.

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Permaneceu em silêncio por alguns segundos, olhando fixamente para a gema mágica. O que iria sair dalí? Um dragão!? O que iria? parecia ansioso e com frio. A sala era gelada demais para um jovem sem camisa.  Começava a esfregar suas mãos enquanto via uma jovem começar a se formar à sua frente. Seus cabelos eram vermelhos em uma coloração que nunca havia visto antes. Vestia-se de forma muito mais nobre do que o pobre Shea jamais havia pensado em se vestir. Olhou para a cadeira e disse -- Woah. E-Eu fiz contrato com alguem legal assim!? -- Ele dizia, numa mistura de extase e maravilhação. Parecia até mesmo ignorar o fato de que eram CRÂNIOS

-- A mulher deixava sair uma risada confiante. -- É isso mesmo, você pode se sentir maravilhado, até lisonjeado o quanto quiser. -- Parecia gostar da atenção, flutuava para mais perto do garoto ainda mantendo-se em sua cadeira. -- Você pode chamar a próxima pessoa? -- O invocador "cortava" a conversa.O fato era que ainda tinham mais 4 pessoas para terem suas bestas invocadas depois de Shea.

-- Desculpe, mas eu não uso palavras que não conheço tão bem, Oozora. Eu não sou do tipo que Bajula. -- Ele dizia enquanto saía pela porta, sem camisa. Ergueu a mão esquerda para cima, fazendo um OK com a mão, indicando para o Invocador que chamaria o próximo. -- Mas pode ter certeza que de mim não vai faltar esforço. Não espere moleza também, huh? -- Observava a reação de todos ao sair ao lado de Oozora

-- Ora, mas você é um garoto honesto mesmo. -- Dizia, com um leve tom de sarcasmo, acompanhando o rapaz.As pessoas no salão da guilda ficavam um tanto quanto espantado com a forma da besta guardião de Shea.Primeiramente, enquanto criaturas humanoides ou conscientes não eram exatamente incomuns, mas para aprendizes, a ideia de "besta guardiã" sempre era associada a uma imagem feral ou irracional, o que era bastante quebrado pela aparência da mulher.Em segundo lugar, ela estava se sentando em uma cadeira de crânios, o que, de fato, era algo um tanto quanto estranho, mesmo quando se trata de criaturas de outros mundos. -- Mas olha só, não é que temos uma casa cheia logo de cara. -- Oozora dizia, ainda mantendo sua postura. -- Ha, que barato.Essa é sua guardian beast?Se ela não tivesse vestida com essa roupa de Silturn eu nem sabe--EI, isso são crânios?! --Zeno começava a conversa de maneira normal, mas logo era surpreendido também.

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Sim, eu sou honesto, e acho isso legal as vezes, sabe? É a tal da leveza, eu acho -- Dizia de forma tranquila enquanto se aproximava dos demais. Olhou para Zeno e disse -- Essa é Oozora. Foi com ela que fiz meu contrato. -- O que havia dado? Pensavam os demais. O garoto se encontrava sem camisa. Olhou para as caveiras por um momento e logo racionalizou -- "ela deve ser muito forte. Qual será a história dela?"

-- Mais importante que essas duas coisas, por que você tá sem camisa!? -- Aila interrompia, fazendo uma pergunta que mais parecia pura curiosidade do que choque. --Ah, agora que você falou.O catalisador foi isso aqui, não foi? -- Oozora não conseguia não rir, ao revelar a camiseta que levava em sua mão."BEBA LEITE, GOSTOSO DE MAIS". -- Hmmm, você parece interessante, mas perigosa.Não sei se eu aprovo disso. -- Celo dizia, mantendo seu tom calmo, mesmo assim. -- Não se preocupe, esses aqui são meus familiares. -- A mulher dava um pequeno salto de sua cadeira, aterrissando no chão, as caveiras então brilhavam com uma aura azul e começavam a se mover, por ai, guiadas pelos dedos da Youkai. -- Humanos não são os únicos que conseguem fazer outras criaturas os servirem, esses são espíritos vagantes que eu tomei pra mim. -- Enquanto conversavam, Rise já tinha entrado na sala.Deduzivelmente a segunda a ganhar o dois ou um.

Ficou vermelho quando falaram sobre sua camiseta. Olhou para o chão cerrando o punho e disse -- É sentimental e importante, ok? -- suspirou pesadamente. Levou um susto inicialmente ao ver as caveiras começando a se mover, guiadas por Oozora, e disse para Celo -- Celo, mesmo que não aprovasse...ela já está aqui, sabe? -- tentava não soar grosso, e sim realista. Coçou a cabeça de leve e logo pareceu ficar observando as caveiras

-- Entendo, você tem razão quanto a isso.Há quem diga que as bestas são espelhos da alma de seu craftknight, o que eu quero dizer é que realmente não temos escolha quanto a isso.Então, bem vinda, Oozora. -- O homem dizia, estendendo sua mão que era recebida por um aperto da da Guardian Beast. --Obrigada e não se preocupe, farei o possível pra não causar problemas. -- Após responder a mulher estalava os dedos fazendo com que as caveiras voltassem a formar o assento flutuante.O tempo passava e as crianças iam e viam após invocar suas guardian beasts.Zeno trazia uma criatura equestre alada de Maetropa, Aila um pequeno robô que voava com pequenos tubos que soltavam fogo e os outros dois preferiam não revelar o que tinham por algum motivo. -- Agora que já estão todos prontos, creio que seja hora deu falar da última provação de vocês.

Sim. -- Dizia de forma seria e direta. Confiava plenamente nas capacidades de si e de Oozora também. Esperava as instruções de Celo. Ao ouvir sobre a provação, fez-se sério, em aguardo só mesmo

--Antes de tudo, oficialmente falando, vocês já aprenderam tudo que tinham para aprender comigo. -- Celo começava a falar. -- Por isso só resta mostrar que sabem aplicar o que sabem.A partir dessa semana, pelas próximas 5, todos os sábados serão executadas partidas entre vocês.Vocês só poderão usar armas forjadas por sí mesmos no combate, e lutarão sozinhos, com exceção de sua guardian beast. -- Pausava por um momento. -- O critério de avaliação é o lema dos craftknights: "Uma espada não é força, uma espada não é habilidade, uma espada não é companheirismo.".Quero que pensem no que isso significa e se preparem da melhor maneira possível para cada luta.Ao final das 5 semanas, os dois que se graduarem com as melhores notas farão parte do torneio de graduandos de Wystern. -- O torneio de graduandos de Wystern é disputado entre 8 pessoas, 2 de cada uma das grandes guildas, obviamente alunos que graduaram naquele ano.É uma oportunidade de ouro e única na vida de um craftknight de provar seu valor e ter uma carreira de sucesso desde o começo, além de ser um modo das guildas de mostrarem seu valor.

Teria de forjar algo? Viu o sorriso na face de quase todos, e se sentiu culpado por um momento de não ter o mesmo sorriso. Sabia da importância do torneio, mas, aquilo era tudo o que um craftknight representava? Olhou para o chão estalando os dedos e fez um curto sim com a cabeça para Celo. Havia entendido, e deveria forjar suas armas

--A partir de agora vocês estão livres para se prepararem como quiserem, dispensados. -- O mestre prateado dizia com sua habitual serenidade.Agora que tinha percebido, mas ainda não tinha tomado seu café da manhã, essa que já estava quase em seu final.De qualquer forma não ia ter muito tempo pra fazer qualquer coisa antes que a tarde chegasse.