Primeiro Capítulo

- Estava levemente curioso para saber o que resultaria de seu encontro com o mestre. Verdade seja, era ainda um cavaleiro novato, então não esperava receber nenhum tipo de missão por demasiado complexa. - Sim, sou eu. O nome é Lysandro. E você é...? - Levantava uma sobrancelha. Apesar disso, seu rosto continuava o mesmo.

-- Eu sou Solomon, cavaleiro da constelação de Eridano. --Dizia, mantendo seu tom informal.Não era um nome do qual tinha ouvido falar ainda, o que no mínimo significava que não era um cavaleiro veterano.Mas isso já ficava óbvio ao ver sua face jovem. -- Pelo visto vamos ser companhia um do outro pelo menos durante essas escadarias...embora duvido que nós teremos missões diferentes já que fomos chamados ao mesmo tempo. -- O cavaleiro deduzia.Esperava, talvez como um gesto de educação pro Lysandros, antes de começar a subir as escadas do santuário.

- Concordava e dava um pequeno riso. - Assim espero, duas mentes funcionam bem melhor do que uma. Diga-me, Solomon, será sua primeira missão? Não parece ter muito mais experiência que eu, embora, admita, por muitas vezes as aparencias enganem.

-- Não, mas pra ser sincero, não fiz muito mais missões do que você. -- Concordava, com um sorriso simpático, enquanto começavam a subir pela escadaria.Os degraus são firmes e duros, como se nunca tivessem sido tocados, o bastante para fazer pensar que algum de cosmo estava a ativa mantendo aquelas estruturas de pé. -- Mas é a primeira vez que recebo ordens que precisam ser ditas diretamente pelo grande mestre.Eu torço pra que isso seja um simples capricho, mas o mais provável é que essa missão vá ser algo de grande importância. -- Comentava com um tom mais sério e tenso.Colocando o indicador em seu queixo, pensativo.

Santuário de Atena - Escadaria para a Casa de Aries:

- Grande importância, você diz? Muitas expectaivas, suponho. - Continua subindo os degraus, um passo após o outro. - Mas confiar algo supostamente tão grande à um completo novato e um cavaleiro semi-experiente... o que estaria pensando o mestre?

-- Solomon demorava algum tempo para pensar em uma resposta adequada, mas finalmente tirava uma conclusão. -- Aquele homem é um veterano que lutou em duas guerras santas, tenho certeza que tudo que ele faz é pelo melhor de Atena. -- Respondia serenamente com certeza absoluta. -- Seria melhor dizer que ele confia em nós com esse trabalho.Experiência em batalhas ou missões não é tudo.Creio que ele tenha nos escolhido por outro tipo de qualidade. -- Apesar disso, não parecia que seria capaz de filtrar qual habilidade essa seria sem saber os conteúdos da missão.Não demorava muito pra que chegassem finalmente na primeira casa do zodíaco.Embora a arquitetura das 12 seja relativamente próxima, pequenos detalhes podiam ser notados.Os pilares da casa de aries são mais finos nos centros e alargam-se nas extremidades, dando uma ideia de nobreza.A face de um carneio com grandes chifres espirais é esculpida na fachada superior da casa.Como esperado, nem uma alma podia ser sentida lá dentro, uma vez que nenhum cavaleiro de aries foi escolhido desde que o último morreu.

- Um lugar impressionante, não acha? - Abaixava-se a passa a mão no solo. - Dá para se sentir a nobreza dos cavaleiros de ouro por suas habitações. Diga-me, Solomon, algum dia planeja ir tão longe? Chegar em um espaço reservado para poucos, tão poucos que é possível nomear todos que já o conseguiram, acha que é possível para qualquer humano ou reservado aos verdadeiros escolhidos?

-- Os passos e vozes dos dois ecoavam pela enorme casa conforme progrediam.Seu interior era bem iluminado devido ao fato de sua frente e trás serem quase que completamente abertos, exceto por alguns poucos pilares.Normalmente aquele tipo de lugar abandonado traria frios a espinhas de qualquer  um, mas a santidade do lugar parecia não permitir que sequer um pingo de ansiedade tocasse os dois ali presentes. -- Hmmm, um tópico interessante.A batalha entre cavaleiros é decidida pelo cosmo.Ele por sua vez não é algo completamente previsível e constante, então eu diria que até mesmo um cavaleiro de bronze poderia derrotar um cavaleiro de ouro, se fizesse um milagre acontecer. -- Solomon dava voz a sua teoria em um tom interessado. -- Mas é conseguir dominar esse tipo de milagre e torná-lo sua força normal é o que faz a força de um cavaleiro de ouro.Então eu diria que depende do potencial ou da experiência da pessoa.Na teoria, qualquer um poderia se tornar um cavaleiro de ouro, mas sobreviver o bastante na nossa linha de trabalho pra isso é o grande problema.No fim das contas é questão da sorte de quanto potencial você tem ou quanto tempo de viva você conseguiu arranjar. -- Fazia uma pausa, considerando a primeira questão que Lysandros tinha feito. -- Eu pretendo servir Atena no máximo de minha capacidade, eu me tornar um cavaleiro de ouro seria meramente consequência disso.Eu não vejo isso como o um objetivo, mas algo que, embora difícil, possa acontecer algum dia.

- Esse é o ponto. - Dizia após Solomon terminar a primeira parte de seu diálogo. Esperou pacientemente que terminasse de falar para então dar sua opinião. - E se o cosmo simplesmente tiver um favorito pré-determinado? O esforço é capaz de muitas coisas, mas que temos de prova que um destino previamente escolhido não é o principal fator do sucesso ou fracasso? - Olhava para o teto, contemplando-o por alguns breves segundos. - Frequentemente pergunto-me isto. Somos peças livres ou estamos apenas sendo controlados?

-- Seus passos paravam de fazer eco e a luz do sol se tornava mais direta, os mostrando que o templo de aries já estava para trás. -- Você já ouviu essa história?Uranus, um dos deuses primordiais, era um tirano e aprisionou seus primeiros filhos no tártaro.Revoltados contra seu pai, seus seguintes filhos, o clã dos titãs o enfrentou e derrotou.Antes de ser aprisionado, Uranus disse a Cronos, seu algoz que teria seu exato fim.Cronos se tornou um tirano, como ditado por Uranus, e foi derrotado pelo seu próprio filho, Zeus. -- Solomon terminava de resumir a história sobre como Zeus se tornou o líder dos deuses e o clã do Olimpo substituiu o clã dos titãs. -- Pra nós, os deuses são a maior existência imaginável, mas essa história mostra que se algo como um destino existe, nem mesmo eles são capazes de controlar seu fluxo...Eu prefiro pensar que algo como um destino esculpido em mármore não existe.Que esforço e determinação sempre terão significado, mesmo que não sejam capazes de realizar qualquer coisa.

- Ao mesmo tempo temos supostamente as Moiras. Senhoras do destino, tecendo a vida de tudo e todos. - Soltava um pequeno suspiro. - Mas tudo isso é metafísica. Acha que realmente importa? Eu acredito que não o bastante. Sendo verdadeiralmente livre ou apenas uma peça, minha vida continuará a mesma. Se for uma peça, fui instruído a ter estes pensamentos. Engraçado, não? - Apesar disto desta vez não estava rindo. Tinha um ar de seriedade no rosto, não triste, raivoso ou decepcionado, apenas pensativo.

-- Soa ainda mais fútil se pensarmos que se nos rebelarmos contra o destino é o nosso destino, fazermos isso é na verdade uma prova de nossa impotência. -- Se tal conceito realmente existisse, essa seria uma conversa um tanto quanto depressiva.Mas no fim das contas, é impossível para seres humanos saberem esse tipo de verdade.Antes que percebessem, tinham chegado na segunda casa.Mármore branco novamente, pilares extremamente grossos e rústicos, como enormes toras feitas de pedra.No adorno da fachada, a face musculosa de um touro, com dois chifres curvados imponentes.Mas no momento que iam dar um passo para dentro da casa, seus pés paravam em frente à simples pressão do cosmo que habita a casa, como um animal que se paralisa ao sentir o perigo. -- Parem aí mesmo e anunciem suas intenções. -- A voz vinha do fundo da casa e era difícil de discernir seu tom ou timbre devido ao eco.Pesados passos podiam ser ouvidos até finalmente a silhueta e então corpo do cavaleiro de touro ser visível.Surpreendentemente baixo, não devia passar de 1, 60.Mas um corpo extremamente largo, coberto por placas douradas grossas, que esculpiam um torso musculoso, como uma estátua grega.Duas enormes ombreiras, adornadas com um único espinho branco.Elmo circular, com abertura pra face, ostentando dois curvados  e longos chifres.Um cinturão longo, como de uma armadura espartana e pernas completamente cobertas por armadura pesada.Mas dentro disso, estava claramente a face de uma criança, cabelos negros esverdeados e sérios olhos alaranjados que mostram grande senso de responsabilidade.

Santuário de Atena - Casa de Touro:

- Parava como lhe era ordenado. Seus olhos acompanharam o garoto que a cada passo ia ficando mais visível. Esperou que terminasse de caminhar. Como havia dito antes para Solomon, as aparencias realmente podem enganar. - Sou Lysandros, Cavaleiro de Pomba, e este é Solomon, Cavaleiro de Eridano. Fomos convocados pelo Mestre através de uma carta. -

-- É como ele disse.Essa é a ordem que recebi. -- Solomon dizia, entregando sua ordem até o santo dourado, acompanhado por Lysandros.O cavaleiro analisava cautelosamente as cartas dos dois e as devolvia um minuto depois. -- Entendo, vocês são os cavaleiros que tinham sido mencionados hoje mais cedo.Eu sou Ério, cavaleiro de touro e lhes garanto permissão para passar por essa casa. -- Uma vez que falava isso, a pressão que sua presença exercia diminuía consideravelmente, como se a própria visão dele sobre aqueles que via tinha mudado. -- Uma vez que passarem pela minha casa, os outros cavaleiros de ouro provavelmente entenderão do que se trata, então deverão passar sem problemas. -- Explicava com um tom pouco mais leve.

Santuário de Atena - Casa de Touro:

- Abria um sorriso para o garoto após a confirmação. - Obrigado pela compreensão. Foi um prazer te conhecer, Ério de Touro, mas infelizmente devo me apresentar quanto mais cedo possível. - Curvava-se e seguia seu caminho lentamente, esperando por Solomon.

-- Os dois deixavam o som de seus passos para trás, deixando com eles a robusta casa de touro e voltavam para sua jornada pelas doze casas.Sua próxima parada seria a misteriosa casa de gêmeos, diferente das outras casas monocromáticas, a metade esquerda da terceira casa era esculpida em um material similar ao ébano, criando uma dicromia com o mármore branco.A casa de câncer era comum, exceto pelo "jardim" em sua frente, dezenas de pequenas estruturas cilíndricas cinzas estavam espalhadas.Qualquer um que mora no Santuário há algum tempo conseguia deduzir que aqueles são marcadores de túmulos. -- Eles não tem nomes... -- Solomon comentava, se agachando para analisar uma das lápides. -- O que você acha que esses são?Só decoração?

- Ficava pensativo ante a pergunta de Solomon. - Talvez sejam como o Túmulo do Soldado Desconhecido, na Inglaterra, dedicado à todos que caíram em batalha.

-- Hmmm, faz sentido. -- Dizia, se levantando e começando a seguir para dentro da casa. -- Dizem que o cavaleiro de câncer é o mais próximo da morte, mas não acho que colocariam túmulos sem propósito na entrada. -- A casa, como as anteriores, estava completamente vazia.Não tardava até que chegassem na imponente casa de leão.Os pilares eram mais grossos que a média, mas eram esculpidos com detalhamento diferente, passando uma ideia de força e nobreza.A próxima casa era a de Virgem.Sua entrada e saída eram completamente escancaradas e os únicos pilares laterais que sustentavam a estrutura finos, porém resistentes.Todo o lugar parecia trazer um ambiente de santidade ainda maior do que o das outras. -- A próxima casa já é a de Libra.Passamos pela metade dessas escadarias. -- Dizia, conforme subiam os últimos degraus até a sétima construção.Era seguro dizer que não havia um único ser dentro do Santuário que não conhecesse Hans Evan, o cavaleiro de Libra.Um veterano lendário que lutou em 2 Guerras Santas como cavaleiro de ouro e protege seu posto até hoje.

- Morar aqui deve ser realmente difícil. - Dizia em um tom jocoso. Diminuia a velocidade de seus passos, não por cansaço, mas para ter tempo de falar. - Vamos encontrar uma verdaddeira lenda do Santuário. Diga-me, Solomon, isso te faz se sentir diferente? Ou todo cavaleiro tem o mesmo valor independentemente de sua história?

-- Eu diria que em termos de poder eles não devem diferir muito, mas... -- Parecia pensativo, conforme subia as escadas mais lentamente, acompanhando o ritmo de Lysandros. -- Acima de tudo eu me sinto honrado de poder cruzar caminhos com alguém que protegeu Atena tão fielmente.A maioria dos cavaleiros nem tem a oportunidade de viver pra ver duas guerras santas, ele deve ter algo de especial que outros cavaleiros não tiveram. -- Concluía.Seus passos eram pequenos, mas não demoraria muito pra que chegassem na casa que já estava à vista.A estrutura da casa de libra era completamente padronizada, similar à casa de câncer, mas sem nenhum tipo de decoração além do entalho da balança na fachada da casa.

- Um homem de grandes feitos merece um igualmente grande respeito. - Dizia antes de entrarem na casa. Comparada à anterior, era por demais... simples. Não chamava muito a atenção, o que não condizia com seu atual dono. Que, falando nisto, não estava à vista. Lysandros olhou para um lado e para o outro em sua procura...

-- Tecnicamente, não precisavam fazer contato com o cavaleiro da casa, segundo o que Ério tinha dito mais cedo.Mas era impossível não notar a presença de Hans conforme avançavam pela casa. -- Então vocês são os cavaleiros que receberam as ordens para se encontrar com o grande mestre, huh. -- A voz era sóbria e interessada.O homem que a dizia estava sentado em uma cadeira que contrastava com o restante do saguão praticamente vazio, com um livro em mãos.A armadura que vestia era dourada, sua característica mais chamativa talvez fosse o fato de suas ombreiras serem de tipos diferentes, a direita curvada, contornando o ombro, enquanto a esquerda um design reto que passa por ele.Vários de seus detalhes entalham pequenas curvas e suas botas pareciam ter espécies de escamas de ouro.Hans em si, é um homem que parecia ter algo entre 50 a 60 anos, cabelos completamente grisalhos e uma face enrijecida, um de seus olhos cobertos por um tapa-olho.

Santuário de Atena - Casa de Libra:

- Curvava-se. - Sim, nós mesmo. Sou Lysandros de Pomba, é uma honra conhecer alguém tão experiente.

-- Solomon fazia o mesmo, se apresentando. -- E eu sou Solomon de Eridano.É uma honra conhecê-lo. -- Mas logo o cavaleiro de libra fazia um sinal com a mão para que cessassem. -- Não precisam de tamanha formalidade.Apesar da diferença em gerações, nós somos companheiros que arriscam a vida pelo mesmo fim. -- Falava serenamente, conforme os dois voltavam a suas posições naturais. -- É sempre um prazer receber visitas aqui, ficar limitado a essa casa é entediante as vezes.Mas infelizmente não posso mantê-los aqui por muito tempo.Espero que tenhamos a oportunidade de falarmos com calma em algum outro dia. -- O cavaleiro de Eridano logo respondia. -- Entendo...igualmente, espero que essa ocasião venha em breve.