Hyoki Rokuro - Capítulo 11

Quarta (8/7)
    Hyo encarava o prédio da escola a sua frente com uma grande vontade de fraquejar.Tinha decidido começar seu primeiro dia de aula depois de sua grande recuperação nas férias indo à escola a pé depois de muito tempo, mas mal sabia ele o quão horrivelmente ineficiente e cansativa era a tarefa de mancar até a escola como primeira coisa na manhã.O lado bom era que definitivamente não precisava mais de auxílio para andar finalmente.Era o início de um novo semestre para o garoto, e também de uma nova era em sua vida onde tinha decidir o que fazer com o poder e conhecimento que tinha adquirido naquele tempo.

-- "Será que as pessoas vão me reconhecer agora? Antes eu era mais famoso como garoto aleijado ou como palhaço? Gostaria de ter alguém pra tirar essa dúvida..."-- Apesar da dor, Hyo estava mergulhado em seus pensamentos. Ele se sentia feliz com tudo aquilo, como se sua necessidade de ser levado de taxi tivesse acabado, mas ele tinha até esquecido do quão cansativo é andar tanto assim. Passo por passo ele se aproximava da escola. Seu rosto não demonstrava o cansaço que ele estava realmente sentindo, por fora, estava radiante e feliz. No fundo, as duvidas sobre os desaparecimentos ainda existiam, mas ele não gostava de pensar sobre teorias das conspiração durante o dia, nem as suas nem as de outras pessoas. Eram assuntos muito complicados para um dia de escola.

-- Mimando suas pernas cansadas, Hyo pegava o elevador para seu andar e finalmente abria a porta para sala.Não surpreso, a sala estava agitada e divida em rodas de conversa aqui e ali de pessoas conversando sobre suas férias, ou tendo aquela tão esperada discussão sobre todos os episódios lançados no mês passado de "Nekoman Zeta", o próprio programa que fez o garoto ver as lágrimas do tempo. -- Ora, se não é o jovem Hyoki! -- Quem cumprimentava era Fudou, que misteriosamente apesar de estar na sala não fazia nada sobre o estado de caos generalizado em que ela se encontrava.Era talvez a primeira vez que se encontrava com ele pela primeira vez em um dia na sala de aula em meses.

Pessoas no Recinto:

-- Professor, quanto tempo. Pareceu mais que um mês, em!-- Hyo acenava enquanto adentrava a sala em passos mancos. Era estranho. Quando ele chegava na sala de cadeira de rodas, ou até de muleta, todos podiam ver que ele tinha chego. Eles se viravam pra ele e pensavam suas coisas, talvez até zombando, ou trabalhando a sua empatia e desejando pela sua memória, ele realmente não sabia, mas ele era notado na hora. Por algum motivo, confortava-o que eles não faziam isso. Ele se sentia tão humano quanto todos eles. Hyo caminhou para o seu lugar habitual. Ele não tinha tantas amizades fortes naquela sala, e também não planejava fazer nenhuma, ele pensava que amizades escolares não duram muito tempo depois disso, apesar de ele e Jun serem a prova viva de que o contrárioo pode justamente acontecer. Ele coçou seu queixo, pensando em como deveria estar o pessoal do seu clube. Talvez devesse passar lá quando a aula acabasse

-- Olá Ueda! Como foram suas férias? Leu alguma coisa interessante? -- Hyo batia três vezes na mesa para chamar atenção dela antes de falar. Ele ficou de pé na frente dela, tentando fazer de um jeito diferente. Geralmente, ficava encostado na mesa, usando suas mãos para manter-se em é com facilidade. Apesar do seu cansaço, ele fazia isso para causar uma impressão diferente para as pessoas. Um novo semestre também significava novos começos

-- Ah, Rokuro. -- A garota parecia surpresa de vê-lo ali, mas não era nada difícil de entender. -- Eu não tinha visto que você tinha vindo hoje.Desde quando você começou a andar? -- Claramente não tendo visto ele mancando até a carteira, era bem óbvia a razão pela qual ela fazia essa super-simplificação de seu estado.Parecia ter completamente ignorado ou simplesmente adiado responder a pergunta do garoto devido ao choque de ver o aleijado da turma de pé, se sustentando.

-- Bom, eu vinha treinando desde que era um bebê, mas finalmente me toquei que eu tinha que usar a força das pernas pra ficar em pé durante a viagem. -- Ele ria, tentando descontrair o clima. É claro que todo mundo ia estranhar o cara que nunca tinha andando aparecer de pé e felizão como se nada tivesse acontecido. Ele puxou uma cadeira, sentando nela com ela ao contrário e começou a falar sobre a história do seu problema ser mais psicológico do que qualquer outra coisa. Alguns termos difíceis que ele tinha memorizado sobre a medicina, mas nada que fizesse o seu cérebro travar.--- ... resumindo, agora eu tenho fator de regeneração nivel três e sou um mutante nível Ômega, além dos meus ossos serem de adamantium.

-- Não é? Uma referência na minha vida e não fui eu quem fiz, mas quem diria né? Enfim, o que importa é que as coisas estão bem agora. -- Ele se esforçou para não referenciar Saint Seiya dessa última vez. Uma batalha interna poderosa, na sua cabeça apareceu a imagem das suas forças referenciadoras sendo derrotadas finalmente, mas falar isso era como uma referência interna. -- Acho que é o bastante para se falar das minhas férias. Afinal, foi o mais importante das minhas férias"ou pelo menos o mais importante que eu posso te falar sem ter que invocar um monstro fantasmagórico e chamar atenção da escola inteira"-- Ele soltava um sorriso envergonhado. Não lembrava nem se tinha trazido a presa, talvez tivesse deixado ela em casa. Afinal, não é como se algum daqueles monstros fosse aparecer em plena luz do dia... Não é? Tentou manter um bilhete mental de lembrar-se de checar se tinha trazido ele

-- Eu também não fiz nada muito memorável. -- Comentava. -- Mas respondendo a sua pergunta de antes, eu realmente li algumas coisas nas férias.Eu tentei pegar algo mais moderno pra ler e vi uma dessas tais "light novels"...Eu tenho a impressão que os autores mais modernos tentam de mais, a que eu li era algo sobre garotas mágicas, mas com algum tipo de tom perturbador e melodrama exagerado. -- A menção do livro parecia trazer lembranças ruins. -- Mas deve ser por isso que fica só como Light Novel.Eu duvido que algum dia fique popular um anime sombrio sobre garotas mágicas, isso seria contraditório de mais. -- Ria.

-- Eu não duvido nada. Não é como se essas coisas bizarras não pudessem ser populares. Sério, você já viu as cópias mal feitas que fazem de Super Sentai lá nos EUA? Não faz nem sentido. -- Ele coçava a cabeça e pensava com si mesmo "é claro que ela não sabe, idiota, ela tem cara de quem assiste Power Rangers?". Ueda era um desafio para ele, principalmente quando a ideia era debater em uma conversa normal.-- Ahm, foi mal... Eu me empolgo fácil.

-- Relaxa, nem é tão notável quando você mesmo não faz o trabalho de dizer. -- Ria, provocando o garoto sobre seus hábitos pouco confiantes. -- Eu nunca cheguei a ver, mas conheço mais ou menos a ideia.Eu sei que é bem popular no ocidente, entre as crianças ao menos.Bem, nisso não muda muito de super sentai, né. -- Como esperado de qualquer cidadão do sol nascente, apesar de seus gostos destoantes, era óbvio que a garota ao menos conhecia a série que Hyo citava.

-- Bom, não é tão difícil ser popular com a criança. É só ser... Colorido e barulhento.-- O cérebro de Hyo fritou naquele momento. Em um flash, todas as suas séries favoritas apareceram, e ele notou que o seu gosto era extremamente infantil. "Colorido e barulhento" era um bom modo de explicar 90% dos seus gostos. -- Mas, bom, o que eu quis dizer é que... Ahm... Eu acho que é uma falta de criatividade da parte deles, não? Ele só não é considerado plágio por questões técnicas como a liberação dos próprios produtores, mas ele usa exatamente as mesmas cenas de luta. Sério, eles nem regravam nem nada. Os capacetes facilitam, né

-- Eles não são adaptações?Talvez eles nem se sintam na obrigação de mudar tanto. -- Dizia, demonstrando um pouco de interesse nas questões de produção da série de tokusatsus americana. -- Falando nisso eles adaptam tudo mesmo?Eu imagino que deva ser bem engraçado ver todos aqueles monstros vestidos de hitler que eles faziam nos anos 80 sendo lançados no ocidente que é mais conservador sobre isso. -- A verdade é que apesar de saberem sobre isso, no Japão, a Alemanha na segunda guerra mundial nunca foi tão vilanizada assim, o que gerou bastante liberdade artística pra tratarem sobre nazistas em diversas obras.

-- Acredito que isso seria o equivalente pra eles se tivéssemos que enfrentar um inimigo chamado Fat man e Little Boy. Eu não consigo engolir os americanos... Eles me dão raiva em muitos assuntos.-- Sair de um assunto de tokusatsu para um que englobava um pouco de geopolítica não era para qualquer um. Felizmente Hyo não era qualquer um, assim como Yoshi. Falando em cultura americana, agora que lembrou-se do nome da garota, não pôde deixa de soltar um sorriso. -- Ei, Ueda, qual o melhor sabor de sorvete pra você? Eu sei que fugi do assunto, mas me surgiu a dúvida.

-- Meu sorvete favorito... -- Parecia realmente indecisa, ou talvez sem ideia sobre o assunto.O tipo de pergunta que  realmente pega as pessoas de surpresa e caso você não tenha algo bem definido, te deixa em uma duvida mortal. -- Hmmm...eu diria que coco queimado.Mas é meio difícil de achar e costuma ser meio caro, então não chego a tomar muito. -- Talvez em algum país tropical por ai isso fosse normal, mas onde eles viviam, era, se é que isso era possível, puro elitismo sorveteriano.

-- Coco queimado? Inusitado... Mas eu tenho certeza que eles tem num lugarzinho que eu conheço eles tem isso. O que acha de irmos lá um dia?-- Hyo mostrou um sorriso amigável para Ueda. Estava chamando ela para um encontro? Nem ele mesmo sabia. Mas sentiu-se confiante a ponto disso então foi. -- Ai a gente pode continuar nossa conversa sobre tokusatsus e sua influência na geopolítica. Sério, isso parece tema de TCC de sociologia. Vou repensar minhas escolhas pra faculdade-- Fugiu um pouco do assunto do sorvete, mas fez isso por parte para se colocar num rumo normal na conversa. Ele ficou um pouco nervoso de como a primeira coisa que falou saiu, mas não desistiria no meio do caminho, aquilo era só uma tática para acalmar-se.

-- Nunca imaginei que você fosse um connoisseur de sorvetes, mas vamos sim. -- Respondia naturalmente, para surpresa de Hyo que tinha levado tudo aquilo à um exagero mental incrível e já estava quase se arrependendo do que tinha feito sem sequer ver o resultado. -- Repensar?Você já tinha algo em mente?Eu nunca vi você falar nada sobre seu plano de carreira...não que eu tenha ouvido você falar sobre qualquer coisa. -- Brincava.

-- Olha, pra ser honesto, nem eu vi eu falando sobre planos de carreira. Mas quem sabe um sociólogo de tokusatsus? É uma opção. -- Ele brincava e então olhava para o relógio da sala, vendo quanto faltava para acabar o almoço. Ele estava extremamente aliviado de que não tinha dado nada errado com a sua tentativa de chamar Yoshi para tomar um sorvete. -- "O que é um connoiseur? É tipo um sommelier?"-- Hyo não conseguia deixar de imaginar-se fazendo um bico enquanto falava palavras francesas. Ele soltou um pequeno riso e depois voltou a sorrir pra Yoshi-- Bom, eu não tenho o seu número ainda.-- Ele apontou para o celular depois de tirá-lo do bolso

-- Hyo brincava, mas mal sabia ele que não eram poucos os sociólogos que realmente pesquisavam a respeito de vários fenômenos sociais da mídia popular, incluindo tokusatsus e que aquilo era realmente um plano de carreira válida, em especial no japão. -- Me empresta seu celular um pouco. -- Ela pegava o celular do garoto e adicionava a si mesma no LINE dele, basicamente o zap japonês que as pessoas geralmente usavam, em contraste com o ZarubaZopster que praticamente só ele, Jun e meia duzia de chineses e mais meia duzia de fujoshis usavam.Ainda tinha tempo confortável para almoçar, mas realmente deveria almoçar logo ou não teria mais.

-- Bom, Ueda, então podemos combinar alguma coisa depois, em? Agora eu vou almoçar.-- Extremamente assustado do quão bem aquilo tinha ido, ele levantou-se. Ter andando aquele tanto mais cedo tinha cansado ele, gasto suas energias, e agora sua barriga lhe lembrava disso. logo depois de despedir-se da garota e sair da sala, sua barriga deu um ronco bem poderoso. Ele caminhou para a cantina em meio a grunhidos abafados pelo som da barriga roncando.

-- Ei Jun, ta aí meu brother?-- Telepatia? Claro que não, Personas não dão esse poder. Hyo comunicava-se com seu amigo pelo bom e velho celular. Por um momento depois, esqueceu que tinha pensado em passar no clube que tinha se inscrito há algum tempo. Claro, a temporada de se iniciar em clubes era no começo do semestre, então o clube deveria estar bem cheio agora. O tempo que ele entrou no clube e a sua abstenção iriam fazer parecer que ele também é uma das pessoas novas, o que não deixava de ser verdade. Lembrando-se da sua checklist mental, ele procurou a bolsa para ver se conseguia achar a presa usada para invocar o seu Persona. Nunca se sabe quando todos vão virar caixões e monstros surgiram, nesse mundo pelo menos.

-- Talvez para sua surpresa, a presa se encontrava em sua bolsa.A tinha colocado nela naturalmente de manhã, naturalmente até de mais para se lembrar, o que era estranho pra algo tão incompatível com sua rotina normal. -- "Estou indo pra sala do clube agora." -- Jun dizia em sua mensagem, o que era esperado.Diferente de Hiyoki que não faz parte tão formal assim de um clube, o Yukimura não tinha quebrado por muito tempo sua rotina no clube, já que os de esporte continuam operando facultativamente durante as férias de verão.