Kyrie Dragonia THE FIRST

--Seu ambiente era nebuloso, ou era a primeira impressão que tinha, mas se estivesse mais consciente perceberia que seus sentidos é que estavam turvos.Mas, naquele momento, nem a força para notar isso estava em seu corpo.Não entendia muito bem, mas podia se mover, ou melhor, se movia.Era uma sensação estranha, como se estivesse se movendo contra sua vontade, mas ao mesmo tempo quisesse se mover daquela mesma maneira.Seu braço carregava um regador que usava para molhar uma pequena fileira de flores.Sua visão não conseguia discernir qual flor era aquela, mas era quente, de uma maneira confortável.Sua cor era amarela.Talvez o mesmo se pudesse se dizer daquele céu azul, e do seu coração vermelho pulsando sangue.Naquele momento, todos aqueles eram amarelos. . . --
-- Em sua mão não mais estava um regador e sim uma coisa longa acinzentada.A seus pés, uma estranha flor estava esparramada, mas era grande de mais para ser uma flor.Talvez fossem várias flores?Ao menos sabia que não eram as flores de antes, porque essas flores eram vermelhas.Mas isso significava que algo tinha mudado?Provavelmente não.Claro, como antes, seu corpo não se movia obedecendo sua vontade.Mas tinha feito exatamente o que queria.?.?O céu, a lâmina, o coração -- Sons de turbina de avião, e um leve despertar.Sim.O cenário que via agora era branco e tinha certeza que controlava seu próprio corpo...Mas por que será?Kirye tinha a sensação de que aquelas palavras agora eram vermelhas. --
-- Tinha sido um voo longo desde Greenwich, de maneira que seu corpo ainda estava meio grogue pela falta de movimento e o dourado exuberante dos corredores incomodavam suas retinas.Mas seu rito de iniciação tinha se concluído e agora estava com seu digimon, prova de seu valor dentro do Círculo Sagrado.Kirye fora escolhido para trabalhar por algum tempo no ramo de Yokohama da organização e agora estava a caminho de sua audiência com o líder do lugar, um poderoso digimon conhecido como Athos. --

Pessoas no Recinto:

- O dourado de seus cabelos levemente bagunçados quase se misturavam com o plano de fundo do local, seu corpo movimentando-se calmamente em passos comportados e bem ensaiados. Ele estava prestes a se encontrar com alguém provavelmente bem importante, mas sua mente dificilmente se preocupava e seu coração continuava batendo normalmente, o rapaz levando aquilo na mais pura e limpa naturalidade. Seus passos ecoavam pelo corredor, Kyrie mantendo um opressor silêncio que colocava um ar de dignidade sobre si, em conjunto a sua postura impecável. Ele possuía um DigiMon agora, mas não acreditava que muita coisa havia mudado. - "Ainda somos meros servos de Deus, incompletos e imperfeitos." - Pensava consigo mesmo, observando o Digivice em seu braço por alguns momentos antes de retornar à sua postura inicial.

-- Conforme prosseguia pelo largo corredor, seus passos ecoavam firmemente, demonstrando a sua postura rígida.O ar do lugar era tão silencioso que chegava a ser imponente.Certamente o bastante para fazer qualquer pecador se sentir culpado e oprimido, mas Kyrie nada tinha a temer diante dos olhos de Deus, portanto era imune tal efeito. -- Você deve ser Kyrie Dragonia, estou certo? -- Era uma voz formal.Podia ver claramente de onde via, da frente última e maior porta daquele corredor, de onde o garoto estava de frente para.Era um homem de cabelos prateados, quase todo o seu rosto coberto por um elmo negro, que complementava uma armadura de mesma cor.Uma armadura preta com adornos rosa choque e uma grande cruz no peitoral, não precisava de muito pra saber o que aquilo significava.Aquele homem era um Templário Mestre.

Pessoas no Recinto:

- Cumprimentou o Templário com um ar de respeito, como demandava o canônico do Círculo Sagrado. - Precisamente. - Falou em um tom comportando, mantendo sua expressão relativamente neutra. - Kyrie Dragonia, da Inglaterra. - Respondeu quase que imediatamente, focando seus olhos no homem em sua frente. - Vossa Paternidade é um Mestre Templário, correto?

-- Exatamente.Sou Emissary Clarity, igualmente da Inglaterra, mas transferido para o ramo de Yokohama. -- O homem dizia, fazendo um cumprimento de tom cordial. -- Além desta porta está a câmara do senhor Athos.Você foi autorizado a entrar. -- Suas palavras eram sérias e gélidas, como se esperaria de alguém de alto cargo naquele lugar.Era estranho pensar que alguém de tamanho prestígio estivesse servindo de porteiro, mas não teria tempo para questionar isso, uma vez que ele abria as portas duplas, dando o sinal para que Kyrie adentrasse. --


--A câmara era um lugar surpreendentemente grande para algo no subsolo.Diferente do resto dos corredores que eram iluminados por candelabros no teto, aquela sala não tinha nenhuma iluminação antrópica.Era um local simples, um chão completamente dourado e 4 pilares de ouro em pontos próximos dos cantos da sala, organizados como as vértices de um quadrado um pouco menor que o recinto.O que parecia ser o corpo de uma enorme e translúcida cobra azul estava entrelaçado nos pilares da parte da frente, coberto por correntes de metal que pareciam extremamente pesadas.Contornando o da direita, o corpo finalmente acabava no centro entre os dois, revelando uma face de dragão com uma máscara azul escura e uma grande barba.Aquele corpo parecia conter dentro de si relâmpagos aprisionados que eram fortes o bastante para iluminar toda aquela sala. --

Pessoas no Recinto:

- A simples presença daquele ser seria suficiente para mandar calafrios na espinha de qualquer um, e apesar de reconhecer a magnitude da existência daquele que estava em sua frente, não conseguia se trazer a sentir-se apreensivo ou assustado. Ele confiava em Deus acima de todas as coisas, então quem seria contra ele? Falou. - Sr. Athos, eu presumo? - Dizia de maneira respeitosa, colocando seus olhos na forma azulada da serpente. Não pouparia adjetivos em sua mente: era extremamente bonito. - Kyrie Dragonia. Eu vim aqui pelas suas ordens. - Confirmava, seus olhos fixados em um único ponto.

-- Como você presume.Fez bem em vir até aqui, senhor Dragonia. -- Sua voz era incrivelmente imponente.Seu tom era baixo, mas suas cordas vocais eram tão grandes que aquilo era o bastante para que o som ecoasse claramente por toda a sala.Era até duvidável se os ouvidos do garoto sobreviveriam a ao tom natural de voz do dragão relâmpago.Apesar disso, era uma voz majestosa e agradável de se ouvir. -- Como você deve saber, a nossa religião não se disseminou tanto nessas terras, por isso precisamos de todo o pessoal que pudermos juntar. -- Devido a criação em um orfanato para estrangeiros, sob a tutela de um padre japonês, Kyrie naturalmente sabia a língua e portanto era perfeitamente qualificado para estar lá. -- O motivo que eu lhe chamei aqui foi para lhe conhecer, mas também para falar sobre o seu futuro...pelos próximos meses você será acompanhado por um mentor que lhe guiará durante suas missões até que acumule alguma experiência.

- A voz do grande dragão o pegava de surpresa, mas não podia dizer que ficava realmente abalado. O tamanho do ser já havia o preparado, levemente, para o que vinha a seguir. - Hmm... eu tenho conhecimento. - Respondia a primeira afirmação do ser, mantendo sempre seu tom de respeito. Enquanto estudava a distribuição de sua religião ao redor do globo, havia se deparado com as informações sobre o Japão em algumas oportunidades. - Eles reverenciam ídolos e deuses falsos... isso é preocupante. - Uma parcela insignificante da população japonesa seguia seus ensinamentos naquele tempo, algo que o Dragonia considerava um imenso ato de heresia. Colocava a mão sobre o peito. - É nossa missão trazer a justiça divina a eles. Pois nenhuma blasfêmia contra nosso Deus deve sair impune neste mundo. - Era aquilo que o guiava, o pensamento que o fazia seguir a frente. E o que justificava a maior parte de suas ações até aquele ponto. - Se me permite perguntar, Vossa Paternidade... quem será este meu mentor?

-- Athos fechava seu par de olhos superiores, parecendo mostrar alguma aprovação pelas palavras de Kyrie e voltava a falar. - Ele é alguém que originalmente fazia parte desse ramo, mas tinha sido transferido para a unidade principal a algum tempo atrás. -- Sua voz mantinha seu tom baixo, porém imponente, fazendo até mesmo que o ambiente parecesse estremecer.Pelo que tinha dito, ao menos podia saber que seu mentor não era Emissary que tinha conhecido alguns minutos atrás. -- Mas deixarei que ele se apresente por si próprio.Você está dispensado, senhor Dragonia.O senhor Clarity irá lhe dar suas próximas instruções.

- Entendo. Com sua licença, então... - Se despedia de maneira respeitosa, virando-se para o grande dragão enquanto seguia em encontro a Clarity, que provavelmente ainda estava nas portas da câmara. Pelas palavras de Athos, seu instrutor seria alguém de provável grande experiência naquele ramo, então certa expectativa se criava em seu interior.

--Você não parece afetado. -- O homem de armadura negra comentava quando notava Kyrie saindo da sala. -- Para um recruta, tens certamente nervos de aço.Mesmo alguns membros mais experientes tem dificuldades em impedir suas pernas de tremer quando se deparam com aquela sala. -- Seu tom era um pouco mais descontraído do que antes, mas sua maneira de falar ainda apresentava toda a formalidade que tinha demonstrado antes.

- Não era a primeira vez que ouvia aquilo. Bem, provavelmente daquela maneira sim, já que geralmente as pessoas lhe taxavam de insensível, mas dificilmente se deixava levar por isso. - ...por que eu deveria ter medo ou apreensão? Diante do nome de Deus, nada possui qualquer poder sobre mim. Até mesmo a presença majestosa de Sua Paternidade não é nada perante o poder de nosso Senhor. - Explicava, mantendo sua expressão séria. Logo cedia, porém, esboçando um sorriso. - Ah, mas eu sou imperfeito. Não posso dizer que não me senti surpreso assim que ele disse as primeiras palavras. - Se justificava, dando uma breve risada. - Ele avisou que você me guiaria agora.

-- Não vou exatamente lhe guiar, mas de fato, tenho suas próximas instruções. -- O homem dizia.Suas mãos se moviam no ar que não fazia muito sentido a princípio, mas logo percebia que ele estava navegando por seu neuro linker.Uma pequena mensagem, contendo um mapa com um local marcado e o horário de "Terça Feira, 9 AM" chegava no aparelho de Kyrie. -- Esse será o seu local de encontro com ele.Mas como tenho algum tempo, posso responder suas dúvidas se tiver alguma. -- Talvez por ser a primeira vez do rapaz dos Dragonia ali, era esperado que ele estivesse minimamente perdido ou confuso sobre alguma coisa.

- Na verdade, eu tenho algumas questões sim. - Mantinha seu tom cordial e comportado, uma expressão neutra em seu rosto. - Sobre o ramo de Yokohama... o Sr. Athos é o líder, não é? Ele é o único Digimon na organização? - Existia qualquer outro ser com uma presença de tamanha magnitude? A dúvida pairava sobre a mente de Kyrie. -  Não, deixe-me refrasear a pergunta. Quem são os outros membros do alto clero?

- Hmm... entendo. - Mantinha sua postura. Ele ainda estava bem baixo na hierarquia, se comparado a Emissary ou a Athos, algo que realmente lhe incentivava a seguir em frente. Seu temor a Deus e confiança em seus ensinamentos eram a força motriz que o levavam em frente, mas teria um limite do que poderia fazer se continuasse na posição que estava. - Eu não sei realmente como fazer minha próxima pergunta, mas vou tentar meu melhor. - Limpava a garganta de maneira elegante colocando uma das mãos na boca, enquanto a outra permanecia em uma posição de respeito nas suas costas que parecia inquebrável. - Com todo respeito, por que Vossa Paternidade está... como posso dizer... na tarefa de abrir as portas para a sala do Arquebispo? Eu esperaria que alguém de menor posição me esperasse aqui.

-- Na verdade nós não temos alguém pra cumprir esse tipo de função, já que elas são...um tanto quanto desnecessárias. -- O homem explicava, Kyrie conseguia entender um pouco que eles não gastariam pessoal nesse tipo de coisa quando estavam com falta de mão de obra generalizada. -- Mas eu precisava de uma audiência e acabei descobrindo que não era um momento oportuno, porque você estava vindo para se encontrar com ele, então simplesmente esperei aqui pela minha vez.

- Ah, entendo. É assim que deve ser, afinal. - Dava um breve sorriso. "A humildade antecede a honra" era um dos ensinamentos do Livro Sagrado, e o fato do Mestre Templário em pessoa estar disposto a desempenhar aquela função demonstrava que o mesmo aparentemente seguia esse preceito. - E uma última pergunta... - Dava uma breve pausa. - Você sabe que tipo de pessoa meu mentor é? - Estava legitimamente curioso.

-- Tudo que ouvi foram rumores, então não sei se estão corretos. -- Começava seu fraseamento mostrando algum tipo de tom apologético, e logo prosseguia a contar o que tinha ouvido a respeito. -- Ele é experiente e respeitado como mentor, já tendo ensinado diversos de nossos recrutas em diferentes ramos pelo mundo, mas dizem que é uma pessoa um tanto quanto jovem e excêntrica para sua posição...Confesso que estou um tanto quanto curioso pra conhecê-lo também.

- Alguém jovem e excêntrico...? - Isso não servia para muita coisa além de atiçar a curiosidade do Dragonia, que colocava a mão na cintura e observava o teto. - Mas se ele já tem experiência nessa área, eu provavelmente estou muito bem encaminhado pelos próximos meses. - Sorria, demonstrando real interesse. Quem poderia ser? Que tipo de pessoa ele seria? Ele ajudaria Kyrie a aprimorar suas habilidades e levar a justiça de Deus até os hereges, sujos e infiéis? Se perguntava em uma grande expectativa.

- Como esperava, estar em uma cidade grande era extremamente alienígena para ele. Tudo era tão massivo e exagerado que se sentia perdido apenas por estar de pé ali. Apesar de tentar se manter sério em frente a tudo aquilo, uma única coisa era obrigado a admitir. - Acho que vai demorar um pouco pra me acostumar com tudo isso. O quão caipira eu posso ser? - Suspirava, demonstrando real frustração pela primeira vez em anos. Era todo o Japão assim? Tão diferente do que ele tinha se acostumado em sua pequena vila, ao norte da sua amada Inglaterra? Sem tempo para ficar se preocupando com isso. Se dirigia até o interior do prédio, mirando o terraço. Esperava não ter que lidar com qualquer tecnologia desconhecida, pois realmente não saberia como prosseguir.

-- O plaza do lugar era limpo, e o chão parecia poder até mesmo refletir a sua imagem.Podia ver secretárias em um balcão no canto falando com homens de terno e a maior fila que já tinha visto para um elevador em sua vida, que constituía de umas 20 pessoas.Felizmente, não demorava mais que uma subida para que conseguisse se enfiar num elevador grande, mas apertado devido a ele e outras 5 pessoas.Demorava um tempo mas finalmente chegava em seu destino, o terraço.Quando chegara lá, já não tinha mais ninguém o acompanhando na subida.Pra sua surpresa, o local só tinha uma pequena sacada, já que o restante do lugar era inclinado, mas podia, de fato, ver uma figura na parte inclinada, ou melhor, acima dela.Um rapaz de camisa social branca, gravata azul marinho e calça social negra parecia estar flutuando em um pequeno pilar de chamas negras. -- Eu estava pensando que você não viria, Kyrie. -- O rapaz dizia, acenando com uma mão.Seu tom era surpreendente descontraído, ainda mais considerando que o horário no digivice do garoto marcava 9:12, um atraso de mais de 10 minutos.

Pessoas no Recinto:

- Ficava relativamente surpreso. Realmente não esperava que fosse alguém TÃO jovem assim. Demonstrava a surpresa em sua face, mas em momento algum duvidava da possível capacidade do rapaz em sua frente. - Minhas sinceras desculpas por isso. A culpa foi totalmente minha. - Falava em um tom apologético, reconhecendo o próprio erro. Se ele tivesse saído um pouco mais cedo e sido mais diligente, poderia ter evitado tudo aquilo.

-- Bem, pelo que eu li de você, presumo que seja sua primeira vez em uma cidade grande? -- Dizia, seu tom era simpático, e não parecia se importar tanto assim com o atraso.Finalmente, algo inesperado acontecia, as chamas na qual ele flutuava se mexiam, tomando a forma de um grande pássaro, com até mesmo partes orgânicas sendo visíveis.A criatura carregava o mentor até a onde Kyrie estava, e ficava pairando no ar a uma altura em que os dois ficassem face a face. -- Eu sou Bernarnd Kurashima, mas pode me chamar de Bernie.Esse é o meu parceiro, Shiki. -- O pássaro levantava sua face e dizia em um tom sério. -- É um prazer conhecê-lo. -- Seu timbre de voz era um pouco grave de mais e chegava a ser intimidador, mas não havia malícia por trás.

Pessoas no Recinto: