Interlúdio - Portanto, eu...

»Segunda (16/06/20XX)
- As ondas carregavam consigo um som familiar ao quebrarem na parte inferior do navio, lembrando Estelle que já estava chegando na Ilha da Baleia novamente. O vento parecia indiferente quanto ao sentimento que pesava em seu coração naquele momento, bagunçando seu cabelo levemente, assim como todas as pessoas ao seu redor. Enquanto o barco se aproximava cada vez mais do porto, quatro formas conhecidas já se tornavam evidentes no horizonte: três pontos avermelhados acompanhados por um que unia o branco ao preto. Chegaria em apenas alguns minutos.

NPC's/Players presentes:

-- Heh, mal posso esperar pra contar para o Rift sobre como eu venci uma Hunter profissional com apenas um soco. O Caesar vai amar a história. -- Estelle dizia enquanto andava. Sua primeira parada podia ser apenas uma, é claro: a casa de seu mestre.

- Enquanto imaginava como o reencontro com todos iria acontecer, o barco se atracou no porto e permitiu, finalmente, que a garota descesse na Ilha da Baleia. O fluxo de pessoas era grande, mas não conseguia perceber nenhuma face conhecida descendo do barco, o que provavelmente era para melhor. E naquele porto, uma voz familiar ecoou -- ESTEEEEEEEEELLE! - Podia sentir o chão tremer com os passos rápidos de Sienna, que se aproximava em uma velocidade que se rivalizava à de Estelle em seu ápice. A garota sentiu um abraço. A menina dos Roscoe, praticamente em lágrimas, começava a disparar. - E-e-e-e-eu fiquei tão preocupada! Não esperava que o Exame Hunter fosse tão perigoso, mas d-depois das histórias que o C-Caesar me contou...! - Dizia, engolindo o choro. - Você não foi a única! Eu duvido até que o Rift tenha conseguido dormir esses d-- ADADADADA! - Refia tentava passar a mão pelo pescoço de Rift como modo de provocação, mas era inevitavelmente impedida pela mão de seu irmão, que parecia pressionar seu pulso. - Bem, depois de ter um parceiro de treino como o grande Caesar, era de se esperar você voltar tão cedo. - O rapaz de cabelos negros dava de ombros, convencido. E então, finalmente... seu mestre se referiu à ela, com um sorriso. - Já faz um tempo.

NPC's/Players presentes:

-- Estelle abria um sorriso de "hehehe" que demonstrava nervosismo. Como contaria essa história? Rift com certeza iria ficar irritado. Caesar iria rir. -- Então... eu meio que fui.... meio que fui, sabem... hehehe.... eu fui expulsa do Exame depois de nocautear uma examinadora que tentou testar minha paciência... hehehe... ops. -- Passava uma das mãos na nuca enquanto explicava.

- Houve silêncio. Nem mesmo Rift, que até então parecia ter a resposta para todas as perguntas do mundo, preferiu ficar calado. - Vamos pra casa. - A garota ruiva falou.

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- Era ótimo provar da culinária da Ilha da Baleia novamente após uma abstinência de aproximadamente uma semana, mas... - Eu provavelmente vou me arrepender de perguntar, mas você poderia POR FAVOR explicar essa história direito? Você não sabia que não se pode atacar um aplicador?! - Ela não deveria ter passado automaticamente nesse caso? Se ela consegue derrotar um Hunter sem ter uma licença, isso não faz dela ainda melhor que um Hunter licenciado? - Ai meu Deus, eu não acredito que vou ter essa discussão com você de novo. Um Hunter faz mais do que lutar, ele-- - Era interrompido por sua irmã. - Então você admite que ela é melhor que a Hunter que ela nocauteou. - Rift logo retrucava. - Sim, quer dizer não, mas, tipo, esse não é o ponto, como eu ia di-- - Então você admite. - OK CERTO. Estelle, apenas explique o que aconteceu.

-- Estelle ria mais tranquilizada com toda a situação. Era ótimo ter uma refeição realmente boa novamente. Primeiro ela começou explicando o que havia acontecido na primeira fase do exame, e então a prova que fizeram na segunda. Contou como foi chamada, junto com seu grupo, para a sala com a examinadora. -- Aí ela, essa tal de Aria, me disse que Hunters devem ter sempre a recompensa em mente, e que eu não deveria ter recusado o dinheiro. Eu fiquei com raiva, porque, sabe, pra mim um Hunter é bem mais que isso e eu não me importo com dinheiro. Então ela fez uma proposta: eu poderia passar para a próxima fase, mas alguém aleatório seria automaticamente rejeitado. Eu me irritei, sabe, me irritei ainda mais. Aí juntei meu nen na mão e acertei um grande soco nela! -- Gesticulava o movimento de um soco, quase derrubando sua comida. -- Ela tentou empurrar a mesa em mim, mas o soco conectou e ela caiu no chão sangrando. Depois disso ela disse que era só um teste, sabe, e falou que eu estava aprovada, mas que iria ser eliminada por ter batido nela. Fazer o que, é a vida. -- Dava de ombros. -- E vocês, o que fizeram nesse meio tempo?

- Heeeein? Mas Hunters não deveriam ser tipo, as pessoas mais fortes? Ou o padrão caiu de uns tempos pra cá? - Caesar dizia com um tom afobado, obviamente provocando o único Hunter no lugar. - Já eu acho que você se saiu muito bem, Estelle! Quem essa tal de Aria acha que é, afinal?! Ela apanhou foi pouco. - Como sempre, Sienna apoiava Estelle, com certo brilho em seus olhos. Aparentemente sua admiração havia aumentado ainda mais. - E tem sempre o próximo ano, não é? Essa não é sua última chance. - Refia dizia em um tom simpático. Alguns segundos, e Rift finalmente falava. - A vida continuou normalmente aqui, e pelo que parece tudo foi bem mais emocionante lá no Exame. Mas eu tenho que perguntar... você não é a pessoa mais frustrada com esse resultado, Estelle? - A garota havia agido pelo momento. Como Estelle Bright realmente se sentia com tudo aquilo?

-- Estelle parava um pouco para pensar. -- Frustrada...? Huh, um pouco, talvez ter que fazer novamente na próxima vez. Mas pelo que eu fiz, não, nem um pouco. Acho que ser fiel a si mesmo é mais importante que qualquer coisa. -- Concordava com a cabeça para a sua própria frase. -- Além disso, ainda aprendi duas lições valiosas: é preciso controlar as emoções e nem pra ser um hunter não é preciso ser forte. -- Abria um sorriso.

- Então acho que tudo deu muito certo no final. - Confessava, com um sorriso sincero. A tarde lentamente se aproximava enquanto todos terminavam seus almoços enquanto Rift compartilhava suas próprias experiências na sua tentativa do Exame. Quando o Sol já pairava em um árduo calor sobre o céu, a residência dos Levian lentamente se tornava mais vazia, com Sienna indo pescar com Caesar e Refia tirando um cochilo após a comida. Rift chamava Estelle, com seu tom sério de sempre. - Estelle. Algo aconteceu enquanto você estava fora. - Disse, enquanto ambos estavam na sala de estar. - Alguém chamado Horace Bright... mandou algumas coisas para você. - Não era um nome estranho. Nem um pouco. De jeito nenhum. Era o pai de Estelle, que não via a muitos meses.

-- M-m-meu pai mandou algo pra mim? -- Estelle dizia surpresa, quase dando um salto para trás. -- Onde está? O que é? -- Dizia curiosa. Após todo esse tempo, era a primeira vez que se comunicaria mesmo que indiretamente com um familiar.

- Rift tentava acalmar a garota. - Não é nada tão emocionante quanto você imagina, mas você nunca falou do seu pai pra mim alguma vez... então imagino que seja importante. - Rift se levantava, abrindo uma gaveta de uma escrivaninha próxima de onde tirava uma pilha de cartas. Havia aproximadamente sete no total. - Eu tomei a liberdade de ver a data que elas foram enviadas, já que todas chegaram abruptamente de uma única vez, então... - Entregava-as para Estelle, que era pega de surpresa. A primeira carta havia sido enviada em fevereiro... aproximadamente seis dias depois de aquilo tudo começar, enquanto a última havia sido enviada a menos de uma semana.

-- Uma história para outra hora, Rift. Mas é bom que você estão tão interessado na minha família. -- Estelle não podia deixar de provocar. Mas o importante agora eram as cartas. Logo abriu a primeira e se preparava para abrir as próximas em sequência.

- Prontamente abria cada carta. A caligrafia e vícios de seu pai, característicos do Porto de Nor, pareciam levar a garota de volta para sua terra natal, podendo ouvir o som dos vendedores de peixe e das ondas quebrando no cais.

A primeira carta falava de como seu pai estava ansioso por notícias e pelo retorno da garota com sua licença Hunter.
A segunda carta falava de como ainda aguardava uma resposta, mas estava muito orgulhoso da mesma.
A terceira carta exprimia sua preocupação, mas ao mesmo tempo confiança em uma resposta de Estelle.
A quarta carta dizia como ele escreveria até ter um retorno.
A quinta carta contava o fato de que o avô da garota havia ficado doente repentinamente.
A sexta carta mostrava o desespero de seu pai por notícias da garota.
E a sétima carta avisava Bright sobre o falecimento de seu avô.

A tinta das últimas palavras da sétima carta estava levemente manchada, como se um líquido tivesse tocado na mesma antes que secasse.

-- Estelle ficava sem reação. As cartas caiam de sua mão, assim como as lágrimas dos olhos. Todo o mundo ficava preto por um instante, e do nada uma luz gigantesca tomava conta de tudo. Era como se estivesse cega. Um barulho fazia um constante "bzzz" em seus ouvidos. Sua saliva parecia começar a ter um gosto salgado. Sentiu vontade de vomitar. Suor lhe caia pelos olhos, misturando-se às lágrimas. Milhões de pensamentos atravessaram sua cabeça, mas todos estavam misturados. Repentinamente, seu corpo caia ao chão. Mas não sentia dor, o impacto era nulo. Tudo ficou preto.

- Por um momento, o mundo de Bright se tornou desprovido de tempo. Tudo acontecia instantaneamente, e ao mesmo tempo demoravam um período infinito. Não era algo realmente possível de se explicar. Formas se envolviam e se misturavam ao seu redor, mas apenas a luz podia ser percebida, como se seus sentidos deixassem parcialmente seu corpo. E mesmo assim -- ...-telle! - Uma voz familiar era sempre bem vinda, mas não era de qualquer maneira a que ela queria ouvir no momento. Rift estava confuso, nervoso e incerto sobre o que fazer. - O que houve?! Bright! Fale comigo! - Viu a face incerta de seu mestre quando sua visão lentamente começou a retornar.

-- Rift... ele... Rift... -- Estelle tentava falar, mas as palavras não saiam de sua boca. Era como se existisse uma trava em sua garganta, não consegui falar. Todos os lados para os quais olhava pareciam molhados, mas não chovia... -- Nor... P-por... de Nor... enho qu... ir... -- Sua respiração se tornava ofegante, era como se estivesse com um peso de uma tonelada sobre o estomago.

- Como se fizesse um favor ao desespero da garota, a inconsciência logo tomava sua mente.

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- Seus olhos abriam com certa dificuldade, pesando e ardendo como se tivesse chorado durante vários dias seguidos. Sua visão lhe mostrava um teto a qual já havia se acostumado, e sua inspeção dos arredores logo confirmava suas suspeitas. O quarto de hóspedes da residência dos Levian, sem dúvidas. Como já comum a esse ponto, havia uma forma avermelhada ao seu lado, iluminada pela luz da lua que fazia seu caminho até o interior do local. - ESTELLE! Você acordou? O que aconteceu? Dói em algum lugar? - A visivelmente confusa Sienna havia, mais uma vez, acompanhado Estelle em seu tempo desacordada. Parecia que de fato, a garota dos Roscoe possuía uma grande admiração e respeito pela garota dos Bright. - Eu vou chamar o Rift! Um momento!

-- Finalmente recobrava a consciência. Estava mais tranquila. Havia conseguido absorver a informação tranquilamente. -- Sienna... eu vou voltar para o Porto de Nor... tem algo importante lá... ou tinha... preciso ir... -- Ainda estava abadita e sua voz demonstrava isso. Saia trêmula e monótona.

- A garota já havia disparado antes que Estelle pudesse terminar. Não era exatamente indiferença, ainda mais considerando a história de Sienna, mas sim pura preocupação. Achava, de fato, que Rift seria capaz de lidar com tudo aquilo melhor que ela. Não demorava muito para que alguém batesse na porta, o rapaz de cabelos vermelhos aparecendo na fresta. - Tudo bem aí? - Falava, finalmente entrando. Colocava uma cadeira em frente à cama e adotava uma posição que demonstrava seriedade. Estava confuso, muito confuso. - ...eu acho que você deve ter recebido uma notícia não muito boa naquelas cartas. O que houve, Estelle?

-- ...meu avô morreu, Rift. -- Estelle dizia diretamente, sua voz ainda completamente abalada. Não precisava de muito mais que isso. -- Vou... para o Porto de Nor... não sei quando volto... ou se volto... -- Seu objetivo de ser uma Hunter não parecia mais uma ambição. Não havia mais motivos para aquilo.

- ...entendo. Meus pêsames. - Rift não sabia os específicos, mas pela reação de Estelle, aquilo havia a impactado de uma maneira tão profunda que o rapaz não conseguia nem mesmo começar a imaginar. - Eu... concordo que você deve voltar pra casa por enquanto. Você mesma deve decidir o que fazer a partir de agora. - Não era hora de se preocupar com Ryoma, SHIN ou o Continente Negro... no momento, Estelle havia perdido uma parte de si, e Rift parecia entender isso perfeitamente. - Eu vou preparar uma passagem pra você no primeiro barco de amanhã. Tenha certeza de descansar esta noite. E... - Sua expressão logo se tornava mais séria e melancólica, enquanto tocava a mão de Bright com sua própria. - Desculpe. - O que Rift quis dizer com aquele pedido de desculpas provavelmente nunca será entendido por alguém além dele mesmo.

-- Estelle apenas acenava para Rift, concordando. Não sabia o que ele quis dizer, mas não era o momento de questionar. -- Agora... agora eu te entendo, Sienna. E obrigado, Rift... -- Dizia.

- O sino que marcava o início oficial da noite tocou, com as luzes na Vila da Baleia finalmente se acendendo.