Hyoki Rokuro - Capítulo 6

-- Não fiquei sabendo não, mas espero que saia. Vai ser interessante ver um Dinovaldo usando uma Negralhadora-- O garoto ria enquanto imaginava o quão improvável essa cena parecia. Ele olhava para a fila de espera, e então olhava para os lados, e já olhava para Jun sorrindo, porque sabia que ia fazê-lo rir com essa piada -- Pô, não tem lugar pra sentar.

-- Qualquer coisa você finge passar mal e a gente espera deitados numa maca -- Hyo dava risada enquanto sussurava com Jun. As pessoas olhavam para os dois, pois muitos já tinham visto eles e ele sempre causavam barulho desnecessário com suas conversas altas e risadas. Era o modo de se manterem descontraídos.

-- Não demorava muito até que finalmente Hyo fosse chamado, eles eram guiados por uma enfermeira em um uniforme rosa pelos corredores brancos do hospital, até finalmente chegarem na sala do médico habitual do rapaz, que fica no terceiro andar do prédio.Após cumprimentos e alguns exames rotineiros, o garoto estava pronto para ir embora, até ter sua atenção chamada. -- Ah, senhor Rokuro.Sente-se um pouco, precisamos falar sobre sua condição.

Pessoas no Recinto:

-- Eu já estou sentado, não ta rolando levantar -- Hyo sorria, mas estava preocupado com a notícia que poderia seguir. Quando alguém falava daquele jeito, provavelmente iria seguir de más notícias.
Mas não era nada que não poderia ser imaginado ou pensado, afinal, ele já tem esse problema há anos. Cabisbaixo, ele esperava a resposta -- O que tem minha condição, doutor?

- Esse é o raio-x da sua espinha, que tiramos na nossa última sessão. -- Genzaburou mostrava a "foto", mas tinha algo claramente estranho com ela, ou no caso, não tinha absolutamente nada de estranho, o que para Hyo era anormal. -- Como você pode ver, o ferimento já foi curado completamente.Na verdade ele já tinha se tornado irrelevante a meses, o que me deixou extremamente intrigado com sua condição. -- Se o que o médico falava era verdade, então Hyo não devia mais ter tanta dificuldade de se mover, mas ao contrário disso, ele nem sequer era capaz de fazer a fisioterapia ainda. -- Nos chegamos a conclusão que você desenvolveu um raro caso de Yips.


- Isso é impossível! -- Jun parecia reagir com espanto à conclusão do médico que logo retrucava. --Você já conhece sobre o assunto então? -- O Yukimura se recompunha, respondendo em uma voz bem mais tímida do que a de sua exclamação anterior. -- Não muito, é uma espécie de síndrome de paralisia muscular.Mas é uma doença de atletas e o Hyo obviamente não é um!


Não exatamente. -- O doutor parecia calmo, conforme continuava sua explicação. -- O Yips é uma incógnita até hoje na comunidade científica e não temos certeza do que exatamente os causa, embora seja um fato de que a grande maioria dos pacientes sejam atletas.Em linhas gerais, ela acontece quando o seu próprio cérebro inibe algum tipo de movimento, fazendo isso se manifestar em espasmos, câimbras ou paralisias musculares momentâneas. -- Ele pausava por um momento, entregando os resultados de exames para Hyo. -- Em outras palavras, é algo majoritariamente psicológico.Não tem nada que possamos fazer por você por enquanto.O que você tem que fazer agora é arranjar um jeito de retirar as amarras da sua mente de seu corpo, eu não garanto resultados, mas recomendo que procure um psiquiatra.

-- Psi... Psicológico...!? -- Hyo congelava ao ver os resultados. Como raios aquilo poderia ser psicológico? Tudo que ele imaginou há muito tempo foi se curar, se livrar de todas aquelas correntes que o prendiam, estar livre de uma doença que o limitou... Hyo socava o apoio para as suas mãos da cadeira de rodas enquanto segurava o choro. Ele estava visivelmente irritado, mas fazia o que podia pra não explodir. Respirava fundo, apertando a cadeira de rodas, e então deitava sua cabeça na palma das mãos, apoiando-a em suas pernas. Ele ficava assim por alguns segundos, pensando, segurando para não chorar. Depois disso, levantou-se, com o sorriso mais sincero possível, e, cheio de confiança, sorriu para o doutor-- Vai ser um prazer não te ver mais, doutor.-- Ele estava genuinamente feliz. Era notável. Colocou os resultados no seu colo e sorriu para Hyo, apontando par ao lado de fora do consultório -- Vamos pra praia, Jun, é o que combinamos, não é?

OST

-- Jun estava visivelmente incomodado, mas parecia agir em respeito à reação de Hyo, fechando os olhos e respirando fundo, e respondendo com um sorriso. - É, é melhor a gente ir logo. -- O caminho do hospital até  a estação de trem era silencioso, com ambos ainda no processo de entender seus sentimentos.A linha que pegavam estava bem vaga, os dois ficando sozinhos no vagão do trem.A paisagem da cidade parecia se mover em alta velocidade pela janela, e o som dos apoios de mão que balançavam e batiam nas barras de ferro criavam uma melodia única daquele ambiente. -- E pensar que já estamos no final da primavera hein, ir a praia sempre me faz lembrar do verão. -- Seu tom fazia o melhor pra que o Yukimura parecesse bem, mas seus sentimentos reais transpareciam.O verão era, afinal de contas, a estação em que tudo ocorreu anos atrás.

-- As estações passam e eu nem noto. E eu não to falando só das do trem -- O garoto ria, soltando a piada. Ele não estava triste, de verdade, afinal, uma doença psicológica não era tão impossível de curar quanto uma física. Hyo cutuca a mão de Jun -- Eu sei o que você ta pensando,mas não precisa ficar tão preocupado comigo. Viu? Eu estou feliz -- Hyo apontava para o seu próprio rosto enquanto fazia um sorriso forçado. Mas apesar da notícia, ele estava bem feliz. Talvez não entendesse a gravidade de seu problema agora que as coisas mudaram, mas ele parecia realmente saber e entender aquilo como uma notícia boa -- Depois de um acompanhamento com um psicólogo eu posso melhorar de vez. Não é como se eu tivesse tido minhas pernas decepadas, é só o meu corpo me traindo.

-- Com o que Hyo dizia, Jun finalmente mostrava um sorriso. -- Sua mente te traindo, você quer dizer. -- Deixava sair uma pequena risada.O barulho alto dos freios do trem invadiam a mente dos dois, anunciando à chegada na estação de Zenpou e então, em menos de 5 minutos chegavam na praia.Yukimura empurrava a cadeira de rodas com cuidado pelas partes mais rasas da areia, e conseguiam chegar a beira do mar sem atolar, de alguma forma.A brisa leve carregava pequenas ondas que quebravam na margem, transformando-se em pequenos volumes de água que tocavam as rodas da cadeira e os pés de Jun. -- Quando você melhorar, a gente tem que ir pra Tengoku ainda. -- "Tengoku" ou paraíso, é uma seção da praia escondido por um matagal e uma seção de pedregulhos, que fica ao lado da praia habitual.É bem desconhecido por turistas, mas é popular entre os nativos de Haruka, apesar que Hyo não teve realmente como desfrutar, já que é impossível de chegar no local em uma cadeira de rodas.

-- Tengoku... Heh... Espero poder andar.-- Erguia as suas pernas com o máximo de força, tirando os pés do apoio e colocando na água. Ele parou por alguns momentos e imaginou-se levantando. Imaginou-se leve, num momento maravilhoso na praia. Ele respirou fundo e abriu um sorriso no rosto. Estava calmo, feliz, esperançoso.-- O Sol. "Obrigado, Igor."-- Suas esperanças se renovavam. E agora, ainda mais que nunca, ele via Igor como ainda mais que um pedaço da sua imaginação.

OST

-- Por alguns minutos, os dois simplesmente encaravam o horizonte.Nenhum podia saber o que o outro estava pensando, mas sabiam que seus tópicos não se diferenciavam muito: a vida, o passado...e o futuro.Após o que parecia uma feliz eternidade, Jun quebrava o silêncio. -- Ei, a minha família vai numa viagem nas férias de verão, eles me pediram pra chamar você também.Bem, não que eu não fosse chamar de qualquer jeito. -- Falava sorridente, com o olhar fixo no mar.

-- Mas é claro que eu vou, eu sou parte da sua família. Ou é assim que vocês me fazem sentir, afinal, são pessoas ótimas. Eu espero que as coisas tenham melhorado pra você, sabe...-- Hyo sorriu pra Jun, encostando as costas na cadeira -- Espero que se sinta tão bem vindo na sua casa quanto eu me sinto.-- Olhando para as ondas, Hyo ficava um pouco envergonhado -- Infelizmente eu não posso falar o mesmo pra minha casa, já que nem eu me sinto bem vindo lá.

-- Bem, a sua família é tão problemática quanto a minha costumava ser, mas eu tenho certeza que você ainda vai dar a volta por cima.Até lá eu vou estar por aqui pra você...bem, depois também. -- Ria, enquanto se debruçava sobre o apoio de empurrar a cadeira. -- E sobre a viagem...bem, nós vamos passar uma semana na casa do meu pai em...Okinawa. -- Aquela palavra resgatava incontáveis memórias dentro dos garotos.O lugar onde seus destinos começaram a se mover, era difícil saber o que ele traria aos dois jovens.Talvez uma regressão, talvez a continuidade.Independente do resultado, era claro uma coisa: depois de voltarem àquela fatídica ilha, alguma coisa mudaria.

O tempo parecia acelerar, os dias se passavam
ficava cada vez mais próximo
o verão das recordações.

Hyoki Rokuro - Capítulo 6: Fim