01 - Aquele Que Luta Contra Monstros

>>OST
Eternal havia tentado por dois dias ajudar qualquer um que parecesse precisar, mas a tarefa estava se mostrando cada vez mais difícil, na verdade impossível. Nas primeiras horas o desespero geral foi incontrolável, muitos corriam, outros se jogavam, alguns até mesmo vomitavam, o que antes sequer era possível no jogo. Dentro de algum tempo Reyjavik se encontrava quase destruída, parecia ter sofrido uma raid das mais poderosas guilds.
Após algumas horas o desespero destruídor havia diminuído. "Todo aparelho VR desliga automáticamente depois de 20 horas, apenas se acalmem", era o que mais podia ser ouvido na capital. Surtiu efeito, boa parte dos jogadores estavam agora mais calmos, alguns sentavam e trocavam histórias sobre como era o jogo em seu auge, ou como ele perdeu tanta popularidade em tão pouco tempo. Pelo que parecia, metade dos jogadores haviam ficado na cidade, a outra metade estava do lado de fora, talvez se aventurando ou apenas esperando o logout automático.

As horas se passaram e a apreensão voltou. Nenhum logout, todos continuavam no jogo mesmo após um dia inteiro ter se passado. De repente, metade havia se transformado em aproximadamente 1/3. Quem saiu perdeu a chance de ver o reaparecimento dos NPC. Mercadores, guardas, moradores... todos brotaram magicamente, e agora pareciam fazer mais que suas antigas rotinas padronizadas. Mas a maioria não havia percebido, diferente de Ryuusei, estavam deprimidos, nervosos ou aterrorizados. Sentiu fome, o que era incomum no jogo. Após algum tempo comeu uma parte de sua ração militar, que agora parecia até ter um leve gosto.

O tempo passou, dois dias preso. Estava próximo ao portão de entrada da cidade, mas apenas NPC passavam por alí, embora estes NPC pareciam cada vez mais humanos. Não fosse por suas raças ou equipamentos, poderia jurar que eram também pessoas. Do lado de fora conseguia ver apenas a vila que produzia alimentos para a cidade, assim como alguns fazendeiros. Á sua esquerda, o bairro mercante estava lotado de NPC, e alguns jogadores pareciam fazer compras (aparentemente eram os mais aventureiros comprando poções e itens dos mais variados). Á direita estava vazia, é onde ficam as casas a venda e dos NPC, um bairro gigante, porém, no momento, desabitado.

-- Ja fazia dois dias que estavam em uma situação normalmente inimaginável.Haviam arranjado até uma maneira de impedir o log out de segurança dos aparelhos VR, então provavelmente estariam preso naquele mundo até realmente desbravarem tudo.Esse tipo de situação já tinha sido prevista na ficção há muito tempo, e mesmo que não fosse um grande consumidor de mídia, conhecia algumas das tropes mais clássicas.Não podia deixar de sentir calafrios ao pensar que talvez morressem na vida real se perdessem todo o HP dentro do jogo. -- "Nesse caso, os jogadores tem realmente que se manter unidos ou isso vai acabar mal." -- Beaters eram uma existência comum em VEDO, como um MMO, mas isso era devido às várias conveniências do jogo como mini mapas e afins e eles não teriam mais esse luxo.Por hora faria seu caminho até o lugar que fosse mais populado por players na cidade e tentaria recrutar pessoas para formar um grupo.

Reyjavik era uma cidade grande, imensa para os padrões de um VRMMO. Comparando com o mundo real, teria o tamanho de uma cidade média-grande industrializada. Mesmo assim, a quantidade de jogadores era grande, o que fazia ser possível avistar pelo menos um a cada esquina. A maioria simplesmente o ignorava, alguns diretamente, outros tomavam o caminho contrário para sequer precisarem conversar. A cidade fedia a medo. Os mais corajosos apenas voltavam para comprar itens ou repousar em alguma taverna, e deste tipo quase não se encontrava. Começava a se cansar. Isso também não acontecia antes, o vigor era praticamente ilimitado.
Atravessava uma pequena ponte no centro na cidade, em direção a Praça do Explorador, quando olhou para baixo e viu uma garota. Estava vestida apenas com uma armadura leve, mas não carregava arma alguma. Em sua direção vinha um... um monstro?! Dentro da cidade, o que era antes impossível, estava um goblin, armado com um pequeno porrete e uma tanga.

-- Um monstro dentro das cidades...? -- Parecia algum tipo de pegadinha, mas não se lembrava de qualquer magia que permitisse criar uma ilusão como aquela dentro de uma cidade.Existe a possibilidade de ser um novo patch também, mas seu corpo já tinha se movido antes mesmo que pudesse pensar a fundo.Saltava, de modo a aterrissar atingindo o goblin com sua espada.

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#1 'D6' : 1

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#2 'D6' : 3

A atitude foi correta, o golpe saiu errado. Apesar de mirar no goblin, Ryuusei caiu entre ele e a garota, perdendo a chance de acabar com a luta em um ataque surpresa. O monstros avançava mais rapidamente, se jogando com seu porrete na direção de Ryuusei.

NPC Presentes:

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#1 'D6' : 1

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#2 'D6' : 3

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'D6' : 6

O movimento de Ryuusei parecia perfeito. Moveu seus braços, posicionou o escudo e esperou pelo ataque. Já tinha feito tantas vezes antes, o contra-ataque encaixaria e o monstro morreria. Mas estava errado. O golpe do goblin veio rápido demais, seu escudo ainda estava na metade do caminho quando o porrete acertou seu rosto em cheio, jogando para longe o rapaz. Cada músculo do seu corpo doeu com o impacto do golpe, e ainda mais quando atingiu o chão gelado. Para sua surpresa viu surgir em sua cabeça em gigantes letras vermelhas "HP -10". Não sabia exatamente o quanto tinha de HP, visto que não era mais possível acessar seus stats, mas pelo estado em que ficou, 10 era muito mais que a metade. - "V-você está bem? - Dizia a garota aterrorizada, de seus olhos saiam lágrimas e seu corpo tremia. - Fuja, a-ainda dá tempo."
O goblin estava parado, observava Ryuusei com olhos perversos. De seu rosto nasceu um sorriso, e de seu sorriso ecoou uma risada estridente. Balançava seu porrete no ar, parecia se divertir com o sofrimento alheio.

-- Não, mas nós temos que lutar de qualquer forma. -- Dizia, se levantando com dificuldade.Era comum sentir impacto nos golpes, mas era a primeira vez que sentia dor em um mundo virtual.As regras daquilo estavam realmente distorcidas.Não tinha mais tempo a perder, se preparava e partia em uma investida pronto para acertar o oponente com um golpe diagonal descendente de sua espada.

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#1 'D6' : 6

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#2 'D6' : 6

No começo, quando recebeu o golpe, Ryuusei não entendia ainda como estava agora funcionando o combate no jogo. Talvez por ser acertado com tanta força, ou por estar pretegendo alguém ou ainda por uma pura habilidade natural, seu ataque acabou sendo perfeito. O pequeno corpo do goblin acabou partido ao meio, desaparecendo logo em seguida.
O corpo de Ryuusei tremia, no entanto. Sentia a adrenalina correndo por cada parte de si, mas também sentia a dor do golpe que havia recebido. Por alguns momentos perdeu o equilibrio, mas a garota desarmada o segurou antes que caísse. Voltou a si, a dor parecia começar a sumir.
- "O-obrigada, eu... eu nem sei como te agradecer. Meus equipamentos, me... tomaram de mim mais cedo, assim como quase todo o meu dinheiro. - A garota parecia triste. Ainda tremia, mas de seus olhos não saiam mais lágrimas. - Meu nome é Mi- LadyDream.

-- Mas isso deveria ser impossível... -- Mas pensando bem as regras desse mundo já não são mais as mesmas.Mesmo assim, o GM tinha dito que o objetivo era que todos apreciassem uma aventura, porque ele deliberadamente faria algo tão revoltante como isso ser possível?De qualquer forma, precisava se colocar de pé então o fazia. -- Eu sou Eternal, o quão experiente você é no VEDO original? -- Perguntava.Isso era uma coisa importante a se saber, iniciantes com certeza teriam muito a sofrer pra se adaptar nesse novo mundo, em comparação a veteranos.

- "Não. Eu comecei a jogar tem uns... 3, acho que 4 dias. Meu irmão jogava muito, comecei a jogar apenas para fazermos duplas. Mas... ele não estava aqui quando aquilo aconteceu. - As lágrimas pareciam voltar ao rosto da garota. Assoou o nariz e voltou a falar, o que parecia não fazer havia algum tempo. - "Eu... eu nem sei como jogar direito! Um grupo de jogadores pegou meus itens e meu dinheiro, eles fizeram isso com quase todo mundo na Praça mais cedo e saíram. Eu deveria ter saído quando tive a chance, você deve ser o único aqui que não é novato."

-- Isso é terrível.Tch, o que esses caras tem na cabeça? -- Não conseguia entender como eles podiam fazer isso com outras pessoas em uma situação como aquela.Mesmo que a comunidade de MMO não fosse das melhores, esperava alguma consideração quando se tratava de pessoas reais, mas aparentemente os tinha superestimado. -- Tem alguém na praça ainda?

- "Alguns devem ter ficado, mas estão sem itens. Alguns entregaram até mesmo as armaduras. Eu ouvi um boato de que seguindo pelo rio que corta a cidade acabaria em um lugar com monstros fracos e equipamentos, mas... acho que era mentira." - Soltava uma risada obviamente triste. - "Eu pedi para que viessm comigo, mas eles estavam aterrorizados. Ninguém quis vir, acho que estão esperando que alguém complete logo o jogo ou... ou que morram na vida real. Mas... acho que ninguém aqui vai morrer na vida real por culpa do jogo. Quem planejou isso tudo não deixaria algo assim acontecer, certo?

-- Tem razão, eles não fariam isso. -- Dizia com um sorriso, tentando acalmar a garota.Ao bem da verdade, não duvidava de uma penalidade mortal, o que significava que tinha ficado bem próximo da morte a poucos momentos atrás.Mas ao mesmo tempo, aquele era o jogo em que passara seus últimos 3 anos, mesmo com tudo que acontecia, ainda queria acreditar que os administradores não poderiam ser pessoas ruins de verdade. -- Por hora, vamos para a praça, temos que juntar quantas pessoas pudermos. -- Mesmo sem equipamentos, jogadores são jogadores, eles tem o potencial de se tornarem membros valiosos.Além do mais, não podia simplesmente os abandonar a própria sorte.

- "Vamos, mas não acho que eles vão querer fazer alguma coisa..."
Seguiram em silêncio até a praça. O caminho estava normal, avistaram alguns NPC de vez em quando, mas nenhum mob ou jogador. Estava, também, reconstruído. Foi um dos lugares mais pisoteados e atacados no primeiro dia de alvoroço, mas agora parecia exatamente como quando era apenas um cenário de um VRMMO normal. As casas estavam em estado normal, alguns vendedores estavam oferecendo frutas, ervas, couro e todo tipo de material, mas eram todos (aparentemente) NPC. Após alguns minutos de caminhada, finalmente chegaram até a praça. Pôde ouvir alguns comentários dos talvez 20 ou 30 jogadores, olhavam tanto para ele quanto para a garota, pareciam surpresos em vê-la novamente. Estavam todos desarmados, com exeção de algumas adagas aqui e ali. Alguns vestiam apenas roupas de baixo e trapos, poucos mantinham as armaduras. Pelo lugar que tinham escolhido para ficar, estava óbvio que eram todos iniciantes. Um veterano teria escolhido uma taverna, se fosse para ficar parado, a estadia em algumas partes da cidade era extremamente barata, ou talvez fossem para a Passagem dos Pombos, onde estariam protegidos pelos guardas e próximos dos NPC ricos, sempre dispostos a ajudar um Explorador afortunado.

-- Os jogadores na praça pareciam bem desanimados, talvez fosse ser difícil convencê-los, ainda mais depois de tudo que sofreram a pouco na mão dos grupos mais experientes, mas ainda tinha que tentar fazer algo a respeito. -- Pessoal, me deem sua atenção por favor. -- Falava em um tom alto para todos na praça. -- É perigoso ficar por aqui, vocês estão se expondo desnecessariamente.Eu sei que vocês devem estar desconfiados, mas peço que confiem em mim.Eu sou Eternal, um dos beta testers desse jogo, eu estou procurando pessoas pra formarem grupo comigo, mas mesmo que não queiram, eu posso lhes guiar pra lugares mais propícios da cidade.

As palavras de Ryuusei causavam um grande murmúrio. Era incompreensível, talvez apenas quem estava do lado de quem tentava falar entendesse alguma coisa. Assim se seguiu por alguns minutos, estava óbvio que os jogadores alí não tinham sequer se unido para formar um grupo, talvez não tivessem experiência alguma em MMO. Alguns se levantaram e saíram, em torno de 6 ou 7, estavam longe demais para serem alcançados. Finalmente fez-se silêncio. Olharam uns para os outros e decidiram falar um de cada vez. "Eu não vou sair daqui! Já fui roubado uma vez por jogadores, não quero ser morto por monstros!", disse um deles. "Se eu morrer, quem garante que não será de verdade? Já apanhei uma vez e pareceu bem real, não quero me arriscar a morrer, não mesmo.", disse outro, o que levantou vozes e gestos de concordancia. Dentre todas as concordancias por não se aventurar, no entanto, surgiu um apoiador de Ryuusei. Um garoto de longos cabelos brancos e orelhas pontiagudas, obviamente um elfo, levantou-se "Grupo? Para onde vamos, então? Diferente do resto aqui, você deve ser experiente, e dá pra ver pela sua cara que já participou de um combate. Entre ficar esperando um milagre e seguir uma rara alma disposta a ajudar, prefiro a segunda opção".

-- Ah, finalmente...Eu sugiro para nos reunirmos na Passagem dos Pombos.Os NPCs parecem ter recuperado as suas funções, então se ficarmos em um lugar com guardas, estaremos muito mais seguros. -- Explicava, com entusiasmo. -- Mas eu não pretendo ficar parado pra sempre, eu acredito que vamos ter que explorar esse mundo uma hora ou outra.As pessoas estão com uma mentalidade infantil de mais, eu duvido que vá ser possível fazer isso sem organizar um grupo grande.Essas partys pequenas vão logo estagnar em alguma outra cidade ou retornar arrependidas. -- Previa, anunciando suas intenções.Realmente queria criar algum tipo de projeto grande e aquela era a hora, enquanto a maioria dos jogadores ainda estavam em níveis baixos.Com o tempo, o nível de força se tornaria algo extremamente relevante nas relações de poder político/social.

"Pombos" era uma antiga gíria na capital dos exploradores para descrever os mercadores e burgueses, a nobreza os havia chamado assim por serem numerosos e vistos como inferiores, a "Passagem dos Pombos" se refere ao bairro em que os burgueses e seu funcionário moraram, hoje era um dos mais ricos da cidade, competindo frente a frente com a Capital Nobre do Norte, onde ficava, ou costumava ficar, o Rei. "Aponte o caminho, se quer tanto assim ajudar.", disse um dos jogadores, que se levantou e foi acompanhado por outros. O garoto elfo que antes havia falado foi o primeiro a dar alguns passos, se dirigiu até Ryuusei e LadyDream. Eu irei fazer parte do grupo, se não se incomodarem. Deixei eles levarem meus itens porque eram, bem, numerosos demais para se enfrentar. Meu nome é Shinji Yabuki, é um prazer encontrar pessoas dispostas a ajudar."

NPC Presentes:

-- Não se preocupe com isso, com pessoas o bastante, recuperar dinheiro equipamentos vai ser só questão de tempo.É um prazer conhecer você, uma pena que essas sejam as circunstâncias. -- Dizia, um pouco desconcertado. -- Enfim, irei mostrar o caminho pra vocês. -- Dizia, guiando o grupo de pessoas que decidiram o seguir pela cidade.O primeiro passo era voltar até o portal inicial da cidade e depois seguir até o bairro dos mercadores nas proximidades e finalmente seguir reto.Com sorte, conseguiriam até mesmo a ajuda de alguns NPCs.

Seguiram pelo caminho, o que serviu para cansar muitos dos seguidores e, principalmente, Ryuusei. Seu corpo parecia estar no limite, no meio do caminho já suava e foi obrigado a fazer uma pequena pausa para recuperar o folego. Conseguiu seguir o resto do caminho normalmente, mas a única interação dos NPC era tentar vender itens. Conseguiu ver alguns jogadores, mas nenhum deles estava disposto a ajudar, a maioria já estava com algum grupo. Verdade seja dita, se juntar a este grupo em específico seria uma gigante desvantagem.
Chegaram enfim a Passagem dos Pombos. Os guardas podiam ser vistos, assim como alguns NPC ricos, mas nenhum deles parecia disposto a ajudar. Na verdade, recebeu alguns olhares desconfiados e de raiva de alguns NPC, mas chegou a seu objetivo. Seguiu até o centro do bairro, onde ficava uma pequena praça. "Aqui é o lugar?", perguntou um membro do grupo. "Aqui dá pra ficar", disse outro, sentando em um banco. Era o local onde antes guardas distribuiam comida para mendigos pela noite, também era onde se podia começar uma pequena quest sobre salvar uma garota perdida, mas sua mãe, que dava a quest, não estava no local.