Nor Port Town Arc - 02

- Houve uma certa pausa. Por alguns segundos, o homem cuja face ainda permanecia um mistério se manteve em silêncio. E então, com uma perceptível dificuldade, falou. - Já faz bastante tempo, pequena Estelle. Você não lembra de mim, já que a única vez que eu a segurei nos braços, você ainda era uma bebê... mas... eu era um grande amigo do seu avô. Meu nome é Rhode Ettlande, eu sou um Hunter. - Pausou. Fora o início, sabia que isso não era de interesse para Estelle, não agora. - O que nós estamos enfrentando... ou quem... é um fantasma do meu passado e do seu avô. O fato de que tudo isso está acontecendo especificamente hoje... eu não acho que é coincidência. - Deu uma pausa novamente. Sua respiração era levemente ofegante. - Isso não é algo que eu quero discutir com você por esse meio. Me encontre no porto. E esteja pronta para uma noite extremamente longa. Kuchi, o que você vai fazer? - A garota deu de ombros. - Bem, eu sou uma médica, mas... eu prometi ao meu mestre que veria isso até o fim.

-- Estelle ouvia tudo em silêncio. Sua mente trabalhava. Era estranho, mas sentia-se... madura. De alguma forma, sua alegria infantil parecia haver desaparecido, assim como seus pensamentos alegres e otimistas. -- Estou indo imediatamente. -- Suspirou novamente. -- Vamos? -- Perguntava para Kuchi, mas não esperava a resposta e já começa a se mover, embora a passos lentos.

- E-ei, um momento... tem uma tempestade lá fora, col-- ei! - Suas palavras eram inúteis. Estelle simplesmente não ouvia. Deixavam a residência, que se concentrava em uma área mais remota da cidade. O porto ficava a uma distância considerável, precisando cruzar dois distritos distintos para alcança-lo. Mas o pior inimigo naquele momento não era a dormência ou a distância, e sim a tempestade que pintava o céu em um azul-escuro e um cinza negro. A chuva estava forte, e os ventos pareciam cortar a pele de Bright toda vez que sopravam em direção ao interior do continente. E no meio disso, o vermelho do incêndio que agora se alastrara para um segundo distrito permanecia no horizonte, lhe lembrando de sua missão. Se virou para observar o local de onde saía, as palavras "O Albatroz Caolho" nomeavam uma antiga loja de instrumentos e ferramentas de uso geral, seu interior agora irreconhecível do centro de comércio que uma vez foi. Colocou um pé na frente do outro, antes de ser impedida por uma capa de chuva cobrindo seu corpo. Seguindo logo atrás, a garota de cabelos brancos parecia irritada. - Eu entendo como você se sente, mas apressar as coisas assim só pode levar a um resultado, e você sabe qual. Você é minha paciente, e enquanto isso durar você não vai morrer. Não por negligência, sua ou minha. - Falou, em um tom autoritário, enquanto colocava sua capa. Olhou para frente, vendo as ruas que envolviam os canais agora encharcadas pela chuva e pela água perturbada abaixo das mesmas. - Vamos.

-- Os olhos de Estelle haviam perdido enfim o calor. No meio a chuva, brotavam lágrimas. Não sabia onde começavam as gotas de chuva e onde começaram as lágrimas, mas seu rosto logo estava encharcado. Ouviu as palavras de Kuchi e enxugou o rosto rapidamente. -- Obrigada... -- Disse fragilmente. -- Vamos... -- Concordou.

- Parecia que seu corpo se movia apenas por pura força de vontade, já que suas pernas choravam a cada passo. O que encontrava Estelle no caminho era uma cidade morta. Além de Kuchi, nenhum rosto. Ninguém que conhecia. Nenhum som além da chuva, do vento e dos seus próprios passos, o que criava um aperto solitário inexplicável em seu coração. Tinha que se segurar para não chorar. Nem mesmo sabia de onde tanta força emocional havia saído, mas estava sendo o suficiente para que não desabasse em desespero.
E com emoções complicadas se remoendo o tempo inteiro no seu interior, a garota alcançou o porto após algum tempo.


- Fico feliz que conseguiram chegar aqui. Foram seguidas? - Kuchi respondeu com a cabeça negativamente. - Ótimo. Agora... - Se aproximou de Estelle, em meio à chuva. O porto TAMBÉM estava vazio, com todos os esforços focados em acabar com os incêndios que se alastravam pela cidade. O homem era velho. Muito velho. Talvez mais velho que seu avô havia sido antes de morrer. E mesmo assim, havia certa juventude no meio que o mesmo se portava, como uma chama de eras passadas que se recusavam a apagar. Colocou a mão sobre o ombro de Estelle. - Você cresceu. O Thomas ficaria muito orgulhoso se pudesse te ver agora. - Falou, com certa melancolia. Olhou para um relógio digital em seu pulso, que era extremamente fora de lugar. - Bem, o barco deve chegar em mais ou menos cinco minutos. Por onde você quer que eu comece?

NPC's/Players presentes:

-- Havia sido um dia cheio. Mas queria saber tudo, precisava saber tudo. -- Do começo. Eu quero saber tudo. Todos os detalhes. E quero agir. Quanto mais cedo atacar, mais cedo tudo isso acaba. -- Diferentemente do habitual, Estelle falava no singular, via tudo isso como algo que ela deveria resolver.

- ...entendo. Então... eu vou começar do início. - O homem se sentou em um banco próximo, melancólico, enquanto a chuva atormentava seu corpo.

Ele contou para Estelle uma história.
A história de dois amigos que se conheceram durante um evento patrocinado pela Associação Hunter, para estudantes da Universidade de Saherta, onde descobriram partilhar seu amor por desbravar os segredos deixados pelos antigos habitantes daquele mundo -- mas além disso, de desbravar o que existia além de Moebius, inabalada mesmo pelos caminhos distintos que ambos tomaram após aquele dia.
Além disso, explicou o eventual encontro entre o homem conhecido apenas como Thomas Bright com uma sereia de cabelos negros, e sua eventual queda perante seu canto hipnotizante e seu conhecimento proibido.
"Mas levar uma criatura assim conosco é..." protestou seu amigo, após ambos conseguirem autorização para viajar além da borda dos oceanos e encontrar o que quer que esperasse a humanidade além dela.
"Você não vai acreditar em mim, Rhode? Apenas força e socos não farão dessa expedição um sucesso. Nossa mente, o conhecimento... também será uma peça chave em nossa tarefa. E essa mulher é justamente o que precisamos. Eu não sou uma prova viva disso? Você pode ser um Hunter, mas eu sou um professor! E a caneta é mais poderosa que a espada." retrucou o primeiro homem, convicto.
Apesar de demonstrar certa resistência, seu amigo cedeu, e a mulher de cabelos negros e vestes orientais embarcou com eles em direção ao novo mundo.
Aquela havia sido uma viagem dura. Muitos morreram no caminho, muitos homens e mulheres bons, mas a sede por conhecimento fez os três perseverarem e encontrarem a terra firme após meses de viagem. O novo mundo havia sido finalmente alcançado. Não eram pioneiros, mas chegar até ali significava uma perfuração a mais em seus segredos, cada vez mais profunda. E de pouco a pouco, aquela terra exótica se mostraria cada vez mais compreensível para mentes humanas.
A jornada por aquele continente foi longa e árdua, afim de descobrir mais, de saciar suas mentes que procuravam cada vez mais conhecimento. E foi em uma floresta tropical, provida de criaturas gigantescas, admiráveis e acima de tudo perigosas, que seu destino foi selado.

A batalha contra uma criatura que poderia quebrar um homem no meio com um mero movimento havia se tornado uma causa perdida. Nem mesmo o poder do homem que se intitulava como Hunter Arqueólogo podia se comparar contra a besta do mundo desconhecido. Uma causa perdida, até que uma voz ecoou...
"E pensar que eu veria alguém aqui novamente depois de tudo... vocês humanos nunca aprendem, não é mesmo?", o homem cujo nome logo se revelaria como a resposta para a sigla DF atacou o ser, facilmente impedindo que continuasse sua investida mortal contra os membros daquela expedição. Os próximos dias foram passados ao lado daquele habitante inusitado, que contava histórias e mais histórias sobre suas aventuras naquele mundo perdido e como não planejava voltar, nunca mais, para Moebius. "Esse é o lugar em que eu posso realmente me tornar livre.", falou. "E de qualquer maneira, voltar agora só colocaria o mundo mais próximo de sua destruição.", palavras que permaneceram nas mentes preocupadas dos dois amigos, mas que acenderam a chama da curiosidade na mente da sereia. "Eu estou escrevendo um livro sobre esse lugar. O primeiro volume... acho que entreguei para os últimos humanos que vieram até aqui. O segundo volume já está completo, talvez eu o lance independentemente daqui a 20 a 40 anos. Quem sabe?"

Aquelas montanhas eram gélidas o suficiente para que pensassem que o inverno de alguma ilha nos polos de Moebius havia chegado até eles, porém muito pior. E mesmo assim, o sangue de ambos os amigos ardia em um calor explosivo assim que seus olhos observavam seu acampamento tingido com o vermelho do sangue de seus companheiros, incendiado por um item ancestral que ia além da compreensão até mesmo de suas mentes. A sereia, que agora revelava sua verdadeira forma, permanecia no topo da montanha, mantinha o homem que até então havia servido como um pilar para todos ali como refém de suas artimanhas até então ocultas. "Huh... e pensar... que isso já tinha caído na mão de vocês...", o homem daquele mundo estava ferido, mortalmente. "Eu não esperaria me encontrar com você diretamente aqui, mas isso facilita muito meu objetivo. Bem, ***, me diga onde ele está.", a sereia retrucou. "Ah, mas considerando sua posição no primeiro volume, você nunca faria isso. Não, não, não, não. Isso não é bom. Se o que você disse lá é verdade, então o segundo volume possui a verdade, certo? Eu irei tomá-lo, muito obrigado.", falou a mulher, se aproximando do círculo de chamas que envolviam seu refém, o item em sua mão impedindo que se machucasse.

E pensar que aquele homem faria algo daquela maneira... que irresponsável! E mesmo assim, talvez isso tivesse sido responsável por salvar o mundo, ou pelo menos adiar sua destruição. "Senhor Don, por favor! Me entregue o livro!", o Bright gritou, tentando fazer caminho pelas chamas. "Acho que não tenho outra escolha... você acha que eu queimaria o trabalho da minha vida? Nem pensar. Mesmo que isso crie a possibilidade de algum dia isso cair nas mãos deste diabo, eu sei que a humanidade encontrará um caminho. Não falhe comigo, Bright!", o morador do mundo perdido gritou, jogando seu pequeno diário nas mãos do professor de arqueologia. Era óbvio que isso apenas desviaria a atenção do demônio de cabelos negros para o inofensivo professor, se seu amigo não intervisse no mesmo momento, utilizando sua habilidade com as artes ancestrais de manipulação de Aura para propulsar sua fuga. E não viram o autor independente desde então.

A viagem de volta foi uma mistura de tristeza, luto e o agridoce da traição. Não foi até metade do caminho que Thomas, até então catatônico, abriria o diário a que lhe foi confiado. "Diário de Don Freecs, Volume 2", a capa dizia. Assim que o abriu, uma peça negra caiu de uma bolsa amarrada em sua orelha. Uma esfera, propriamente dita, e com ela um bilhete. "Isso é a única coisa que pode acabar com o fogo eterno vindo daquela lâmpada. E pensar que teria um formato assim... os antigos eram realmente estranhos em seus instrumentos. De qualquer maneira, vai continuar aqui até que eu a encontre novamente."

Em Moebius, os dois amigos não mais sentiam que as coisas eram como antes, e decidiram que, a partir dali, seus caminhos deveriam ser distintos. Reportaram o caso para a Associação Hunter, que, em uma súbita perca de interesse em aquilo tudo, arquivou o caso.
O primeiro homem se tornaria a partir dali um Blacklist Hunter.
O professor se aposentou e decidiu viver uma vida pacata em uma cidade afastada.
E profundamente machucados pela magnitude de uma traição que havia custado a vida de seus aliados por um motivo que não podiam nem mesmo compreender, seus caminhos somente se cruzaram uma única vez, anos depois, em que o diário foi selado, a pedido do Bright, até que "o tempo fosse certo".
E assim, o tempo passou.

- Mas pensar que ela voltaria logo agora... acho que o Don não foi suficiente.

-- Estelle ouvia atentamente a história. Mesmo no momento emocional em que se encontrava, uma parte de si estava feliz por ouvir algo novo sobre seu avô, assim como sobre um Hunter Arqueólogo. A história era longa, mas conseguia encontrar paciência para a escutar por inteiro. -- Isso explica... muita coisa. Imagino que você já tenha um plano de ação, então?

- Eu... eu gostaria de dizer que sim... mas minhas pernas me falharam alguns segundos atrás. - Tremia. - Eu sou um Pro Hunter... e mesmo assim... eu estou com medo. Eu sei que ela está lá. Eu até arrumei um barco para chegar até lá. Mas... o que eu posso fazer? Aquela mulher não é humana. Não, não é. E ela tem aliados poderosos tanto dentro quanto fora da Associação pelo que eu investiguei nos últimos dias. O que pode um Hunter velho e duas garotas fazerem contra alguém assim? - Riu, nervosamente. - Eu já falhei com o Thomas uma vez. Eu deixei ele morrer. As cartas só me alcançaram quando já era tarde demais. E eu estou prestes a falhar com ele de novo... eu não sei o que fazer. Eu não sei.

-- Estelle parava para pensar. Seu desejo era invadir o esconderijo de seus inimigos e os derrotar ali mesmo. Mas ainda existia racionalidade na garota. Ela sabia que não conseguiria, não sozinha. -- Quanto tempo nós tempos? Horas? Dias? -- Existia mais de uma alternativa. No pior dos casos teria que ir sozinha, mas era algo que gostaria de evitar.

- Horas, no máximo. Eles já conseguiram o que queriam, que era o diário. O que falta agora é salvar o Porto de Nor das chamas. Parece tudo uma atração alternativa extremamente sádica. - A garota dizia, clicando a língua. - Aquela mulher usa um item amaldiçoado antigo para incendiar as coisas. É impossível apagá-los sem atacar a fonte. E... tudo que é queimado... só vira areia. Não cinzas, mas areia.

-- Não temos outra opção então. É matar ou morrer. -- Dizia de maneira determinada. Iria até o fim, não deixaria que o incêndio continuasse, sentia a responsabilidade sobre seus ombros. Talvez fosse uma missão suicida, afinal até um Pro Hunter havia ficado com medo, mas que opções tinha? -- Eu... eu vou. Nem que seja a última coisa que eu faça.

- O homem suspirou. No fim, parecia que a resposta de Estelle não o agradava, nem um pouco. Mas não sentia-se no direito de reclamar qualquer coisa. - Então eu acredito que precisamos elaborar um plano de ação. Simplesmente andar até o covil em que os inimigos estão não é inteligente. - Falou a segunda garota, indiretamente confirmando sua participação. - ...mas isso pode esperar até estivermos secos e descansados. O barco chegou.

Uma imensa embarcação de madeira se aproximou do porto, sua forma anteriormente escondida pela força da tempestade. O Pro Hunter levantou sua cabeça, observando o transporte que havia finalmente chegado até ali. Havia um símbolo exposto sobre a proa, mostrando o que aparentava ser um corvo com apenas um olho talhado sobre a madeira. Do deque, uma forma negra pulou para o porto, de uma distância que naturalmente nenhum ser humano poderia alcançar, logo mostrando sua forma para todos. De acordo com as histórias que Estelle conhecia, aquilo era, provavelmente, as vestes de um pirata. - Você demorou bastante, Brood. Mais um pouco e você só encontraria cadáveres aqui. - O homem coçou a cabeça e logo respondeu. - Então eu deveria ter me atrasado um pouco mais, velhote. Talvez assim você parasse de me incomodar toda vez que precisa de um escravo pra trabalhar pra você. - O "pirata" respondeu, com acidez. - Esses são os reforços? Piratas? Eu ficaria surpresa de não ser interrogada pela Associação depois que tudo isso acabar, Sr. Ettlande. - A garota disse, realmente incrédula. - Não se preocupe com isso. A associação não vai fazer nada com esse cara. E no topo de tudo, ele é um velho amigo. - Não parece que temos tempo para discutir isso aqui. Eu já instruí minha tripualação, Rhode. Estamos apenas esperando você para seguir para o local. - Bem... então já podemos ir. Vamos decidir um plano de ataque no caminho, antes de se aproximar demais. Tudo bem com você, Estelle?

NPC's/Players presentes:

-- Estelle ouvia atentamente o diálogo entre os dois homens e as intermissões de Kuchi. Pareciam se conhecer há muito tempo, mas ela não se lembrava de já ter ouvido falar em algum "Capitão Brood". Bem, toda ajuda era bem vinda, cada soldado aumentaria as chances de vitória. -- Vamos lá. Para frente é o único caminho agora.

- Os quatro finalmente adentraram o barco e âncora foi recolhida, iniciando o caminho até a ilha onde o inimigo provavelmente se encontrava. Era uma sensação estranha estar em um (provavelmente auto proclamado) navio pirata, mas Estelle dificilmente se importaria com isso agora. O resto da tripulação além do capitão permanecia focada em sua tarefa: levar o barco em meio à tempestade para o seu destino.



- Logo foram levados aos aposentos do capitão, que observou a tempestade pelas janelas, com as costas para os outros três, e guardou o grande casaco que agora estava encharcado. - O que vocês estão lidando com... é aquela mulher de novo, Rhode? - ...eu tenho quase certeza que sim. E parece que ela não está agindo sozinha dessa vez. - Eu entendo. Você me falou disso na carta. E o patrocinador dela é... - Imediatamente olhou para Bright. - Você sabe algo sobre isso, garota. Pelo que me falaram você está envolvida até o nariz nessa história toda.

-- Estou. Mais do que gostaria, estou. -- Mais uma vez, Estelle resumiu o que havia acontecido desde que chegara no Porto de Nor. -- ... e é isso, basicamente. -- Sua atenção logo se voltava para a mulher misteriosa. -- Mas o que importa é...essa mulher que causa tanto terror, o que vocês sabem sobre ela? Ela não tem fraquezas?

- Considerando que ela é Japponesa, provavelmente os crimes de guerra do país dela. - Brood brincava, sendo reprovado pelos outros dois. - Você é o que teve maior contato com ela até agora, Sr. Ettlande, e que tem seguido os passos dessa aparente vilã a bastante tempo. O que você tem para nos dizer? - A garota perguntava, indo direto ao ponto. - Bem... eu não sei muito além do que eu já disse. Ela se chama Yukihime -- o que aparentemente é um título em japponês -- e como o Brood falou, é japponesa. Para ser sincero, eu nem mesmo possuo certeza se ela é humana. Possui um vasto conhecimento quanto a Nen e um arsenal de itens mágicos que... - Pausava. Escolhia as próximas palavras com cuidado. - ...provêm do Continente Negro. Ela quer o Diário de Don Freecs, ambos os volumes, para encontrar alguma coisa naquele lugar, mas eu não posso dizer o quê. "Uma princesa de uma terra distante que busca reaver o que lhe foi negado...", ...foi como o Thomas a descreveu uma vez para mim, provavelmente sabendo de algo maior do que nós sabemos. - Olhava para as próprias mãos. - Ela não é uma lutadora. Eu não sei nem se ela tem alguma habilidade de Nen, apesar do domínio sobre o assunto. São as relíquias mágicas que ela possui que fazem dela um perigo. Foi assim que ela incendiou o porto. - Era respondido com um suspiro do capitão. - Bem... isso não ajuda muito, ajuda? O fato permanece que, apesar de tudo, ela possui um poder de fogo considerável, e se o que a garota falou é verdade, possui um exército de criaturas de Aura ao seu dispor. Mas se ela conseguiu o que queria, que era o Diário, então que assuntos ela ainda possui a tratar que envolvam queimar todo o Porto de Nor?

-- E se tentássemos separar ela dessas armas? Se elas são a única fonte de poder que ela tem, então tirar dela é a melhor opção. -- Disse de forma determinada. -- Claro, com certeza isso não vai ser fácil, mas se essas armas são tão fortes assim, não vejo outra saída.

- Eu acredito que esta seja a forma mais lógica de se aproximar do problema, mas... - Como faríamos isso? Como poderíamos ao menos chegar perto, considerando o exército que nos aguarda? - Kuchi perguntava. Se conseguissem realizar o plano de Estelle, tudo correria bem, mas era impossível não perceber o elefante na sala. - Isso sem falar no fato de que vamos invadir o que é essencialmente a ilha de um Barão. É nessas horas que devemos agradecer a imunidade política da Associação. - Dava de ombros. - Ela pode ter um exército, mas vocês possuem minha tripulação. Além de saqueadores habilidosos, também somos lutadores muito poderosos. - Finalmente se virava para os três. - Já ouviram falar na Grande Fuga de A.R.K, que aconteceu 12 anos atrás? - Não posso dizer que ouvi. - Bem, foi uma coisa que aconteceu, e nós estávamos lá, lutando contra os Zodiac, para salvar nosso antigo capitão. Estarmos de pé aqui hoje não é uma prova de nossa força? - Falou, com claro orgulho. - Foi lá que eu derrotei O Grande Monge do Dragão, Harada, um dos Zodiac. - Harada é um samurai. - Sim, ele virou depois de perder pra mim. - Sorria.

Rhode interrompeu. - Você não pode usar sua habilidade para se aproximar, Brood? - Habilidade...? - É, não existiria maneira de ser um gatuno de sucesso neste mundo sem se aproveitar de Aura. Vamos apenas dizer que eu tenho certa... facilidade... em me infiltrar em certos lugares. - Respondeu o capitão. - Eu posso utilizar a minha para confundir o inimigo, mas no momento que eles tentassem atacar eu já não conseguiria fazer muita coisa. O que me lembra... Bright, você sabe utilizar Nen, não é?

-- Estelle afirmava positivamente com a cabeça. -- Eu sei todo o princípio básico do Nen. Quanto ao meu Hatsu... bem, ele não está totalmente desenvolvido, e tem aplicação apenas para o combate. -- Fazia uma pequena pausa. Também poderíamos tentar chamar a atenção do exercito e invadir sem eles perceberem. Mas o plano de vocês é bom. Bem, eu estou disposta a tudo.

- Entendo. - O homem respondeu, desapontado. - Bem, eu sou uma médica, então vocês já sabem minha resposta para essa pergunta. - No fim, a sugestão da garota é algo a se considerar. Eu irei mandar alguns barcos de reconhecimento se aproximarem mais da ilha e observar mais dos arredores. Depois disso, iremos decidir definitivamente o que fazer. Eu recomendo que vocês descansem enquanto isso -- eu com certeza irei. - E dispensou os três, que logo deixaram os aposentos do capitão.

- Apesar da tempestade, o barco conseguia ficar relativamente equilibrado, talvez por alguma habilidade ancestral. Ettlande foi o primeiro a falar. - ...acho que tentarei comer algo enquanto aguardo. Fiquem alerta, vocês duas. - E então deixou o local, sem mais nenhuma palavra. Kuchi se aproximou de Estelle. - E você, garota, precisa vir comigo. Vamos ver como o veneno e seus ferimentos estão. - Puxou Bright pelo braço, forçando a garota a vir consigo.


Seguiram para um dos quartos do navio. Não era realmente apropriado como enfermaria, mas serviria como uma de emergência. - Não parece que você está em perigo mais, mas por precaução você vai precisar tomar alguns remédios por uns dias. - Falou. Segurou o braço de Estelle, utilizando a iluminação rústica do interior do navio que balançava para observá-lo. - Há tantas escoriações nos seus braços e pernas, muitas delas claramente recentes. Tão nova, e já viu tantas batalhas... - Falou, com certa melancolia. - Eu queria saber o que levou você a se envolver com tudo isso. Não precisa responder se não quiser, eu só estou... curiosa.

NPC's/Players presentes:

-- Não foi algo que eu escolhi, sabe? -- Disse cabisbaixa. -- Quer dizer, eu poderia ter saído há muito tempo, mas não sou esse tipo de pessoa. Eu não consigo ver alguém pedindo ajuda e ignorar... principalmente quando sinto que tenho parte na culpa. -- Estelle seguiu resumindo brevemente tudo o que havia acontecido após sua primeira tentativa no Exame Hunter, omitindo apenas o que não podia falar sobre. -- Então... acho que tenho muita culpa nisso tudo. Os machucados servem como lembranças, como lições. -- Seus olhos estavam tristes, mas ao mesmo tempo focados.

- Entendo. - A garota falou, também cabisbaixa. - Acho que é tarde demais para convencer você a não se arriscar tanto, considerando essa resposta. E pensar que alguém tão jovem teria uma determinação assim... - Era a primeira vez que percebia, mas Kuchi, apesar da aparência, agia como uma garota muito mais velha do que sua própria idade. - Se você sobreviveu até aqui, quer dizer que seu potencial é imenso. Quem quer que tenha ensinado você a lutar deve ser extremamente competente. Eu me pergunto onde essa pessoa está agora, que você precisa tanto? - Não era uma provocação, e sim uma dúvida genuína.

-- Estelle abria um pequeno sorriso ao pensar o que Rift estaria fazendo. -- Provavelmente fazendo alguma bobagem. Mas seria bom ter ele aqui, sabe? O Rift seria de grande ajuda em um momento como esse. Mesmo que eu sempre acabe salvando a vida dele. -- Terminava seu comentário com uma pitada de humor.

- Me parece que você tem uma opinião boa sobre ele, apesar de tudo. - Ria. - É a mesma coisa com meu mestre. Parece que ele pode fazer tudo, resolver qualquer problema, a qualquer momento. - Falava. - Eu não acho que estaria aqui hoje se não fosse por ele, mesmo com seu costume de me enviar em missões complicadas, como esta de agora. - Tomava uma fita de esparadrapos em sua mão. - Foi ele que me ensinou a lutar, a utilizar Nen... e a tirar vidas. Mas antes disso, a valorizá-la. Acho que foi por isso que eu escolhi me tornar uma Hunter Médica. - Envolvia os braços de Estelle com o curativo, escondendo as escoriações. - Meu mestre, Kuga, diz ter "um plano maior" para todos os estudantes dele. Provavelmente alguma ideia mirabolante que explodirá no rosto dele, considerando o histórico. - Ria novamente. - Eu acho que onde quero chegar é que eu admiro sua resolução de querer preservar a vida, mesmo com outras palavras. É algo precioso e não existe nada igual neste mundo. E eu espero incorporar esse ideal também. Mas... - Subitamente parou. - Onde você está indo agora... ninguém vai ser tão considerável assim. Se a hora chegar, você conseguiria matar alguém, Estelle?