Nor Port Town Arc - 01

»Segunda (17/06/20XX)
- Um vento agradável soprou assim que a garota colocou seus pés no chão da cidade portuária, como se a lhe desse as boas vindas depois de tanto tempo. Apesar que Bright havia se sustentado como uma pequena gigante até então, a nostalgia e a própria magnitude daquele porto era o suficiente para que a mesma se revelasse, verdadeiramente, a garota frágil que sempre foi. O cheiro de peixe, as pessoas que iam e viam, e acima de tudo, o barulho, lhe confirmava que estava, de fato, de volta. Sozinha, mas de volta, e não por um bom motivo.

NPC's/Players presentes:

-- Então estava de volta onde tudo começou. De repente, tudo o que havia vivido parecia não se passar de um pequeno delírio. Era como se estivesse ainda pensando no que faria em sua primeira tentativa no Exame Hunter. Desejava que fosse assim...
Reconhecia alguns rostos entre as pessoas que iam e vinham. Lugares lhe eram familiares. Ruas em que costumava correr, lojas que costumava frequentar. Tudo ainda continuava tão vivo. Vivo... Estelle já havia superado o trauma inicial, mas aceitar de forma total a realidade era outra história. Bem, tinha apenas um destino, e iria logo para ele.

- Estelle se tornava uma com a multidão, observando o Porto em que havia crescido -- até então apenas uma memória distante afogada em um turbilhão de acontecimentos. Fez algumas curvas, como se inconscientemente procurasse o caminho mais distante... mas que eventualmente lhe levaria ao lugar em que teria que enfrentar a realidade.


- A velha loja em que havia crescido se sustentava como um arranha-céu em sua frente enquanto as pessoas iam em viam atrás da mesma em suas próprias vidas, sua arquitetura tradicional em madeira lhe destacando em meio às diversas outras casas mais modernas ao redor. O som das gaivotas já se tornava relativamente mais distante, mostrando que, ironicamente, estava se distanciando um pouco do porto. E mesmo assim, naquele momento, desejou que o mar adentrasse toda cidade e a levasse para o mais distante possível, longe da realidade daquele vasto mundo. A única coisa que a separava do encontro com seu passado era um girar da maçaneta.

-- Respirou fundo. Era precioso se concentrar. Estava tensa. Nem mesmo quando havia apostado sua vida incontáveis vezes em batalhas havia se sentido tão nervosa. Uma ação, uma pequena ação. Girar a manivela nunca foi tão complicado. Mas deveria fazer. Respirou novamente, deu dois pulinhos e tentou abrir o sorriso mais reconfortante que conseguisse. Então finalmente girou a manivela. -- Estelle Bright está aqui! -- Anunciava.

- Seu olhar percorreu, de início, os itens da loja vazia antes de finalmente se encontrarem com o par de olhos que se expandiram em incredulidade assim que o contato visual foi firmado. Houve silêncio por alguns segundos, antes do único ser humano presente ali praticamente pular do balcão e em ir em direção à garota de cabelos ruivos, em um abraço que exprimia um calor aliviado praticamente tangível. - Eu... eu não estou sonhando, estou? É realmente você... é você, não é, Estelle?!

NPC's/Players presentes:

-- A primeira e única! -- Estelle dizia tentando ao máximo manter a positividade. -- Eu recebi as cartas apenas recentemente, estive... ocupada. Mas aqui estou eu! A boa filha a casa torna! O Porto de Nor recebe de volta sua filha mais ilustre.

- Você não respondeu mesmo comigo escrevendo múltiplas vezes... eu achei que o pior tinha acontecido...! - Tentava segurar o choro, conseguindo por muito pouco não explodir em lágrimas. - Isso não é maneira de tratar seu pai... minha garota. - Finalmente soltava Estelle, um sorriso grato em seu rosto. - Então, você se tornou uma Hunter? Saiu em alguma aventura? Eu quero saber de tudo. - Falava, guiando a garota para o interior da loja onde a sala de estar se encontrava. Parecia querer mascarar o verdadeiro assunto que em breve viria à tona... mas que não conseguiria esconder por muito tempo.

-- Estelle se sentia reconfortada com o abraço, era uma sensação que quase já havia esquecido. -- Beeeeem, eu não me tornei uma hunter, mas sou bem mais forte que um. Ah, e vivi várias aventuras, sim, conheci todo tipo de gente... -- Dizia enquanto era arrastada. -- O mundo fora do Porto de Nor realmente é gigante.

- Não parecia nem um pouco surpreso com a revelação de Estelle, dando apenas um sorriso. O que era provavelmente um leve insulto. Adentravam a sala de estar que até então permanecia apenas nas memórias da garota, as fotos nos móveis que continham recordações de dias mais feliz lhe lembrando que de fato havia vivido ali em algum momento. Conversavam mais um pouco, majoritariamente Estelle, mas a conversa seguia seu rumo natural e finalmente culminava em... - Mas eu acho que o que você realmente quer perguntar... é sobre o seu avô, não é?

-- Havia tentado evitar o assunto. Talvez fosse só uma pegadinha, uma surpresa. Seria surpreendida a qualquer momento e estaria rindo logo depois. Mas a cada segundo a realidade se mostrava mais e mais presente. Não tinha como fugir, era inevitável. -- ... sim. Como, como foi? -- Perguntava, sem jeito com as palavras.

- Enfim, a hora da verdade havia chegado. Horace permaneceu alguns segundos em silêncio, antes de finalmente se levantar e abrir uma das janelas que davam uma visão privilegiada do porto, seu olhar evitando ao máximo se encontrar com o de Bright. - ...foi como eu expliquei pra você nas cartas. Ele repentinamente ficou doente, e depois de pouco tempo... - Apertava seu punho. - Ele estava passando cada vez mais tempo no escritório dele, estudando sobre alguma coisa que não revelava para ninguém... então eu nunca poderia imaginar que... - Abaixava seu rosto. - Eu já perdi sua mãe, achei que tinha perdido você e agora seu avô... mas ver você aqui... talvez os deuses não sejam tão cruéis quanto eu imaginava...

-- Ei, ei, eu vou sempre estar por aqui. Não precisa se preocupar. -- Tentava passar segurança e conforto em sua voz. -- Alguma coisa que ele não revelava? E você... já sabe que coisa era essa?

- Você espera ser convincente depois de passar metade de um ano sem dar notícias? - Forçava um sorriso, e então se sentava novamente. - Eu... ninguém entrou no escritório dele depois de tudo. Você era mais próxima a ele que ninguém... então eu esperava que você fizesse isso no meu lugar. Eu achava que se tivesse o feito, seria a confirmação de que você nunca voltaria para casa. - Sua melancolia era óbvia. - Então, por quanto tempo você vai ficar? Eu ainda tenho que te dar uma boa surra para aprender a não fazer seu pai se preocupar dessa maneira.

-- De certa forma, era bom ouvir essas palavras. Depois de tudo que havia passado, ainda tinha um lugar para chamar de casa. -- Vou ficar o tempo necessário. Para tudo, sabe. -- Era ambígua. Nem ela sabia o que era esse "tudo". -- E duvido muito que você consiga me bater, lembra que eu já derrotei uma hunter profissional? -- Se gabava.

- Uma pena que a lei do mundo dite que os pais são automaticamente mais fortes que seus filhos. - Dizia, com um sorriso. - Você pode ficar pelo tempo que quiser. Essa é sua casa, e sempre vai ser. - Era reconfortante, após meses envoltos em aflição, ter alguém para tratá-la daquela maneira. Uma dupla falha no exame, inúmeras batalhas e a dor de abandonar pessoas que haviam sido tão gentis com ela... Estelle havia sofrido muito. Era hora de um bom e merecido descanso.


- A mesa, que parecia ficar maior toda vez que a garota se sentava nela, agora era desprovida de pessoas além da mesma e seu pai. Mesmo que nenhum ser humano merecesse sentir a dor de ver toda sua família desaparecendo lentamente diante dos seus olhos, essa era a realidade de Bright desde seus primeiros anos. - Então você quer ser uma arqueóloga, que nem ele... por que eu não estou surpreso? - Comentou. A comida... não era exatamente agradável. Na verdade, o problema não era a comida em si, mas comer peixe depois de meses comendo também peixe na Ilha da Baleia, Estelle esperava um cardápio mais... diferenciado. Mas, afinal, não era uma cidade portuária? - Não sei se você ainda quer se tornar Hunter, mas bem, há muitos livros e documentos no escritório dele. O que me lembra... você SABE que precisa ler bastante para se tornar uma arqueóloga, não é?

-- LER?! -- Estelle dizia surpresa, quase saltando para trás. -- Eu não posso só, você sabe... descobrir as ruínas? E o que eu vou ler se vai ser eu quem vou descobrir? Isso não faz sentido! -- Sentia-se inconformada. -- Mas, bem, se o vô fez assim...

- Mas o trabalho de um arqueólogo não é só isso. Você também vai ter que aprender geografia, história... e para isso, você vai ler. E bastante. - Dizia, fingindo desinteresse nos protestos da garota com o objetivo de provocá-la. - Mas se você não quiser isso, você pode sempre assumir a loja pra mim. Eu adoraria uma aposentadoria! - Falava, com uma risada. - O que me lembra... eu acho que você gostaria de dar uma olhada nas coisas dele mais tarde... ele tinha vários livros e objetos antigos, então você deve ter algum interesse neles.

-- Normalmente Estelle reagiria agressivamente a provocação, mas desta vez era diferente. Ouvir ela depois de tanto tempo não era irritante, era... bom. -- É, imagino... Talvez eu tenha, como é que se diz mesmo? Talvez eu tenha que... tenha que... -- A garota fingia ter medo de pronunciar as próximas palavras. Seu rosto estampava uma faceta de terror teatral. -- ...ler! -- Dizia espantada. -- De qualquer jeito, ainda é cedo demais pra você se aposentar. E, bem, depois da última vez, você iria querer mesmo que eu trabalhe atendendo pessoas na loja?

- Parecia que Estelle havia acertado em como responder, mas não queria dizer que seu pai perderia ainda. - Bem, tem uma curva de aprendizado, claro. Você primeiro começaria limpando os itens de pesca e cresceria daí. Demoraria anos para chegar no meu nível, mas eventualmente você estaria lá. - Ria. - Mas primeiro você tem que comer todos os seus legumes. Você ainda os odeia?

-- Eu descobri que gosto de legumes... mas só quando eles são bem preparados. -- Estelle respondia a provocação de seu pai com outra. O tempo com Rift havia transformado a garota em uma mestre nesta arte peculiar. -- Mudando um pouco de assunto... o que aconteceu por aqui enquanto estive fora?

- O tanto que você esperaria de uma cidade portuária do interior como essa. - Falava, continuando com seu prato. - Nor foi uma das paradas da Moebius Crusade, o que fez ela ficar bem ativa durante uns 3 dias... o Grupo Ryoma comprou parte das ações da Corporação Roscoe e instalou uma base perto da mansão do barão Landver, nós tivemos uma tempestade que aumentou em quase dois metros do nível do mar... - Falava. - Nada que realmente vá te interessar, infelizmente.

-- O grupo Ryouma? O grupo do notório criminoso e famoso fora-da-lei Ryouma? O que eles querem por aqui? -- Seria um movimento ou apenas coincidência? O rosto de Estelle exprimia seriedade.

- Seu pai era pego de surpresa. - Bem, eu não entendi muito bem o que você quer dizer, mas eu sinceramente não sou capaz de te responder por quê um grupo multibilionário está agindo da maneira que age. Não é como se estivesse interferindo negativamente com os negócios, então... - Respondia, com calma, tentando entender a reação de Estelle. - Que bicho te mordeu? Você está meio pálida.

-- Bem, digamos só que, hãr, como posso dizer... o Ryouma não é alguém muito confiável. -- Tentava se recompor. -- Talvez eu dê uma passada por lá.

- Sua expressão se tornava séria, tirando os talheres de sua mão. - Estelle... - Pausava. - ...você não me contou tudo que aconteceu, não é? - Horace não era um Hunter ou um usuário de Nen, e mesmo assim, o mesmo conseguia ler os pensamentos de Bright como ninguém. Era isso um sexto sentido nascido da preocupação de um pai por seu filho, ou...? - No que exatamente você se envolveu? - Era óbvio que Estelle não podia falar a verdade, mas ao mesmo, não parecia que aquele homem desistiria até ter uma resposta satisfatória.