Nor Port Town Arc - 03

-- V-v-você? O... o que você faz aqui? -- Perguntava surpresa enquanto procurava por um lugar para se sentar. Esperava que Kuchi usasse o tempo para observar o máximo possível. -- Então durante todo esse tempo.... era tudo um plano?

A garota suspirou. - Eu não sei o que você quer dizer com isso, mas acho que é óbvio o que eu faço aqui. - Comeu mais um pedaço do bife, e então falou. -Eu sou uma membra dos Cavaleiros da Bruma. É assim que a gente se chama. - Explicou. Colocou o punho na bochecha. - Aquela que você conheceu não existe. Meu nome nem é Anna. É verdade que eu fui assistente do seu avô, mas... o meu objetivo era ficar de olho nele. E, depois que a presença do diário fosse confirmada... bem, você viu o veneno. - Parou. Era óbvio o que queria dizer. - Mas e pensar que nossa líder planejava que você se envolvesse depois de tudo... depois de eu ter todo o trabalho de impedir aquelas cartas de chegarem até você... que perda de tempo. - Declarou.

-- Tudo um ato, então? Parece que essa cidade está mesmo podre. -- Enfim se sentava e encarava a garota. -- Cavaleiros da Bruma, huh? E qual é seu nome de verdade então? Ou isso é algum tipo de segredo?

- Você pode me chamar de... Lady Stardust. Stardust é suficiente. - Falava, como se se apresentasse a qualquer um, menos a um inimigo. Era óbvio que estava tirando sarro da cara de Estelle: aquele era o nome de uma canção de um cantor famoso da época. Comeu um pedaço de cebola frita. - O que você acha? É um bom nome, não é? Davis Thije Las é um gênio.

-- "Lady Stadust?" Estelle sentiu até mesmo uma leve vontade de rir. Era incrível como as pessoas mais cruéis que encontravam tinham tanta disposição para serem engraçadas. -- É, com certeza ele é, Lady Stardust. -- Seria um bom nome para se usar no circuito de lutas ilegais da Ilha da Baleia. -- Essa janta não chega nunca?

Kuchi finalmente falou. - Eu não estou impressionada com seu nome tanto quanto com o fato de que você não está utilizando Ten. Por acaso você não consegue usar Nen? - Era algo que Estelle não conseguiu perceber ao entrar na sala. Agora que Kuchi falava... Lady Stardust não possuía qualquer quantidade de Aura provinda de seu corpo. Mas não parecia ser Zetsu: a sensação só era... diferente. - Bem, se eu não pudesse, você teria acabado de me revelar o segredo de vocês. - Sim, mas eu não sou estúpida o suficiente pra achar que uma membra de uma organização criminosa como a sua não saberia disso. - Deu de ombros. - Faz sentido. Bem, que tal jogarmos um pouco? Por que não brincamos de... enigmas? Eu gosto bastante de brincar disso. Quem quer que acerte três primeiro vence. - Enigmas...? E o que a gente ganha com isso? - A comida ainda vai demorar, não é? É papel do anfitrião entreter meus preciosssos convidadoses no meio tempo. Aqui vai a primeira. - Não esperava confirmação. - Por quê eu não estou usando Ten agora?

-- Enigmas, huh? Estelle não era particularmente boa no tema, mas valeria a pena tentar. -- É dois contra um, tem certeza de que quer arriscar? -- Dizia quando o jogo era proposto. -- Você não está usando Ten... porque não precisa. Só um idiota suicida atacaria nessa situação. Vocês tem soldados por todos os lados, e.... e você sequer é a líder dessa organização, certo?

- Não me importo de ser dois contra um. Afinal, é só um passatempo, certo? - Dizia. - E para a sua resposta... hmm, errado e levemente ofensivo. - Falava, sem muita cerimônia. - Eu não estou usando Ten porque não posso. Eu deixarei sua imaginação refletir sobre o motivo. - Sorria. - Ah, mas não ache que isso é desculpa pra você aproveitar e me atacar. Vocês duas morreriam antes de conectar o golpe. Muito bem, é sua vez.

-- Não pode, huh? Quem diria que a resposta seria tão simples. E nós não iriamos tentar te atacar, você não é nosso objetivo aqui. E que tipo de convidado ataca seus anfitriões, certo? -- Dizia com um pequeno sorriso. -- Agora, uuuuh, vejamos... -- Parava para pensar em seu enigma. -- Qual de nós duas seria deixada como distração no pior dos casos?

- Hah, que tipo de enigma é esse? Não tem como eu responder algo assim. - Nenhuma das três tinha. Qualquer fosse a resposta, uma contra-resposta que negava o que foi dito podia ser elaborada facilmente. E, como uma regra não-escrita, nenhuma tinha qualquer direito de reclamar...! - Sua definição de "pior caso" não é muito clara, então vamos considerar que nós decidíssemos matar ambas. Se o que você disse é verdade, a garota não é uma lutadora, então ela dificilmente conseguiria comprar tempo suficiente. Mas você... é uma, e bem habilidosa. Você resistiria bastante antes de permitir que nós voltássemos nossa atenção para a médica. Isso não daria tempo suficiente para que ela chegasse onde quer que quisesse chegar? - Apontava o dedo. - Então, minha resposta é... você.

-- Sua resposta é interessante, mas... eu tenho uma regra de ouro de nunca deixar ninguém para trás, sabe? No pior dos casos, nós duas tentaríamos fugir. Agora... acho que é a vez da minha parceira, certo? -- Estelle torcia internamente para que Kuchi estivesse usando bem o tempo comprado.

- Eu aposto que você leu essa em algum mangá. - Falou, protestando contra a resposta. - Minha vez. Você já ouviu falar em haikai, Stardust? - Bem, naturalmente. Porque? - Eu lhe mostrarei um enigma nesse formato. Então--



- Mas a pergunta é: quem sou eu? - A garota perguntou. - Isso não parece muito justo. Mas vamos lá... eu acho que é... uh... uh... - Pensava. - Fim do tempo. A resposta é rei. Acho que esperava demais de você. - Eu deveria saber. Isso é apropriação cultural, sabia? - Ria. - Muito bem, minha vez. Um homem uma vez comprou um carro novo, e quando entrou, não conseguia de maneira nenhuma alcançar, com os pés, o acelerador e o freio. Indignado, o homem visitou um alquimista na cidade que lhe deu uma poção para que ele crescesse alguns centímetros. O homem a tomou e tentou novamente, sem sucesso. Tentou mais uma vez, sem sucesso. Tentou várias vezes, tomando mais da poção a cada vez, mas não conseguiu. Qual era o problema?

-- Uuuuuuuh... -- Estelle tomava alguns segundos para pensar. -- Realmente não faço a mínima ideia.

- A garota ria. - O problema era que ele estava sentando no banco do passageiro em vez do banco do motorista. - Ria novamente. - Hmm... zero a zero, hein. Vamos ver se conseguimos mudar isso agora. Mande seu enigma, garota.

-- O empate parecia perseguir o resultado do jogo. -- Vamos lá. Em uma vila remota, há um homem. Certo dia, a política chega na vila e descobre que ele casou 20 vezes, mas não o prende, apesar de poligamia ser crime. Por quê?

- O homem é um padre ou algo equivalente e foi responsável por vinte casamentos. Não foi ele que se casou vinte vezes. - Dizia, com confiança. - Não é?

-- Bravo! Você acertou. Um a zero. A vitória está quase nas suas mãos agora

- Muito bem! Como você está em desvantagem, irei mandar um extremamente fácil agora. Na verdade, um feito especificadamente pra você. - Com movimentos exagerados, começava a recitar um poema.



- Pausava. - O nome desse homem era...? - Kuchi puxou a manga de Estelle. - Você... você não precisa responder isso...

-- A provocação não atingia tanto assim Estelle. Ela poderia responder corretamente, do jeito que Lady Stardust gostaria de ouvir, mas vencer esse joguinho não era tão importante assim. -- Ele pode ser qualquer homem. Mas com certeza não é Thomas Bright. Ele não perdeu nenhuma dessas coisas, especialmente sua ambição e sua neta.

- Plim-plom. Correto! Qualquer homem. É impossível conhecer a vida de todas as pessoas deste mundo, não é? Talvez exista alguém mais que tenha fracassado assim. - Dizia, não perdendo a oportunidade. - Acho que agora é a vez da garota, certo? Vamos fazer só mais esse e dar um basta. A janta de vocês já deve estar chegando.

- Muito bem, meu enigma é apenas uma pergunta. - Focava seus olhos em Stardust. - Quem irá derrotar você, seus companheiros, sua líder e quem mais se intrometer, aqui, nesta noite? - Dizia com um sorriso. Stardust não respondia, retornando com um olhar afiado. Finalmente, abria a boca. - Eu não sei, quem? - Não? Então deveria olhar melhor pra quem está na sua frente no momento. - Ria.

- Um carro entrou com a comida.

-- Estelle apreciava o enigma de Kuchi. -- Finalmente a comida! Deve demorar muito pra trazer até aqui, não é? Com tantos quartos e corredores. Um atalho cairia bem... -- Desviava o assunto anterior, fingindo que sequer haviam jogado.

- Stardust tossia para matar o assunto, seguindo a liderança de Estelle. Parecia que a batalha já havia começado. Não havia realmente algo de especial sobre o jantar, como Estelle havia requisitado, e apesar da relutância, Kuchi eventualmente cedia e começava a comer.


- Passavam algum tempo comendo, trocando olhares esporádicos com Anna -- ou melhor, Lady Stardust --, e assim que terminavam, como se estivessem sendo observadas, o Mordomo de anteriormente chegava na sala, com dois cultistas ao seu lado. - Boa noite novamente, senhoritas. Nossa senhora requisita a presença da Srta. Bright. Apenas da Srta. Bright. - Huh?! Mas nós dissemos-- - Não deve demorar muito. Você tem nossa palavra que será bem tratada no meio-tempo.

-- Apenas as minha presença, huh? Claro, claro... -- Estelle olhava para Kuchi e depois voltava seu olhar para o mordomo. -- Vocês tem uma garota machucada e uma que não sabe lutar, acho que se quisessem nos atacar, já teriam feito, huh? Vamos.

- Kuchi ainda pensava em protestar, mas cedia, deixando Estelle com um "tome cuidado". A garota era guiada até o andar mais alto da mansão, passando por vários corredores e portas antes de finalmente chegar em seu destino.


- A porta que se colocou na frente de Bright era maior que qualquer outra que ela já havia visto ali. Sua composição era dupla, possuindo a gravura de uma criatura que se assemelhava a um humano -- mas sem características que possibilitavam a distinção de seu sexo -- enfrentando o que aparentava ser... um dragão. A pintura era marcante, composta de cores fortes e pinceladas de muito poder, com um leve tom de surrealismo devido as formas que pareciam ter facilidade em ceder em espirais. Os cultistas que a acompanhavam a instruíram a abri-la, e assim que o fazia, era tomada por um frio repentino.

»Tema


- A porta atrás dela havia desaparecido. Suas roupas substituídas por um casaco enorme e aconchegante. Era como estar acordado, e então adentrar, repentinamente, em um sonho. Ou pelo menos era isso que aquela transição fazia parecer. Nos seus arredores, uma montanha. Diferente de todas que já havia visto ou ouvido falar, com a sensação de ventos nortistas balançando seu cabelo e lhe fazendo agradecer que, quem quer tenha criado aquilo, tenha tido a empatia de lhe dar roupas adequadas para a ocasião. Havia neve até onde seus olhos enxergavam, e nenhum pedaço de terra lhe parecia familiar: era impossível se situar. E mesmo assim, ela estava ali, naquele local desconhecido, envolta de prováveis inimigos, com apenas uma sensação latente que lhe dizia para ir em frente. Seus sentidos lhe diziam para prosseguir, em um caminho único em meio às colinas, para quem quer lhe esperasse no fim daquilo tudo.

-- Prosseguir. É isso o que faria. Não tinha como voltar atrás. "Se eles quisessem me matar, já teriam matado", pensava. Fazia sentido. Mas precisava se vingar. Não iria cair, seja lá qual fosse o truque. -- Tem alguém aqui? -- Bradava. De certa forma seu treino havia valido a pena, estava levemente acostumada com o clima. -- Eu estou aqui! Apareça!