Ryuuseigai Hunt Arc - 05

»Sábado(01/03/20XX)

- Sua visão ainda era prejudicada pela falta de luz, não sendo capaz de enxergar um mínimo do que estava em sua frente. Kuroo tinha seu corpo violentamente pressionado contra a parede, oprimido por uma força invisível e livre de qualquer forma, atacando todos os seus membros em conjunto. Não podia se mover. Mesmo no máximo que tentava... seu corpo nem mesmo parecia responder. Podia ouvir passos ecoando entre a escuridão, um modo de andar desconhecido, uma aura desconfortante que torturava sua pele, que tinha seu estado de Ten violentamente atacado em meio ao breu que se instalava no local. Além disso, não havia sons. Podia sentir uma breve e rápida reação imediata em seu lado, mas após isso, apenas o cruel silêncio ocasionalmente quebrado pelo andar do ser desconhecido. - Boa tarde, Sr. Kuroo. - Dizia a voz enquanto se aproximava, sua forma ainda desconhecida para os olhos do homem de cabelos brancos.

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K-Kisama! -- teve por volta de um segundo de reação para o que é que fosse, protegendo parte de seu corpo contra o pesado fluxo que lhe encarava logo naquele momento. A adrenalina corria em seu corpo como reação natural, aguçada pelo susto levado e pela escuridão. A respiração se tornava mais pesada e seu corpo agitado, com desprendimento maior de força. Não pode deixar de sorrir ao sentir a pressão. Por que estava ficando duro com aquilo? Exibiu em meio a escuridão um meio sorriso de prazer, escorado numa parede -- Diga!

- Você parece mais agitado do que eu esperava. Talvez o Dante tenha exagerado um pouco mesmo. - Se aproximava um pouco mais, o suficiente para que Kuroo finalmente visse seu rosto, em meio a escuridão que seus olhos já se acostumavam. Era um rapaz de altura média e corpo esguio, seus cabelos brancos desarrumados ofendendo um pouco sua forma outrora comportada. Albel... não estava no local.

- Desculpe por me introduzir desta maneira, mas boatos dizem que você tem um comportamento violento. Não poderia me arriscar. - Dizia com legítima... educação. Não parecia ter tanta hostilidade assim contra Kuroo, mas também não exprimia a Aura de um aliado do rapaz. - Eu preciso que você venha comigo. Nosso chefe quer ter uma conversa com você.

Fechou seus olhos por um momento e disse, com um tom irritadiço porém ainda assim com certa graça -- É, eu não posso relaxar nem sequer por um minuto, não é mesmo? -- Coçou a cabeça de leve. O que usariam com ele? Tortura? Provavelmente. Engoliu seco e logo prosseguiu -- Você é mais educado do que o outro, não nego. Me pergunto que tipo de tortura seu chefe gosta de fazer, sabe? -- Dizia se pondo de pe com certa resistência. Não tinha nada que pudesse fazer além de ser levado

- Não se preocupe, ele não é esse tipo de pessoa. Pra ser sincero até que ele é um cara legal. Os empregados dele, por outro lado... - Adotava uma expressão debochada, desviando o olhar enquanto instruía Kuroo para ir na frente, o rapaz sempre o seguindo. - Bem, o relógio não para, vamos indo. - Dizia, mantendo Kuroo nas rédeas com a força de sua Aura sozinha. Aquele facilmente era o Nen mais forte que havia sentido, superando em muito a força demonstrada por Allan várias semanas antes. Deixavam o dojo, nenhum sinal de Albel podendo ser visto enquanto deixavam o local. Assim que pisavam fora da estrutura, eram acompanhados por pelo menos doze homens de ternos negros que se assemelhavam muito aos que Kuroo havia despistado no dia anterior, confirmando que se tratava da mesma associação. Em meio a eles, uma garota de pele branca e cabelos azulados com uma expressão vazia, em nenhum momento exprimindo qualquer palavra. - No fim nós nem precisamos de você mesmo, hein... - O rapaz de cabelos brancos dizia, enquanto caminhava, sem ao menos virar o olhar. - Ah, antes que eu me esqueça. Não havia outra pessoa com você, Kuroo? Eu posso jurar que senti duas Auras vindo dali. - Perguntava com um tom casual. Apesar de tudo, não parecia querer se tornar um inimigo do rapaz. A imagem dos quinze andando em conjunto na torre enquanto um dos mesmos permanecia sem camisa era incomum, mas ninguém parecia ter real coragem de intervir, vários olhares sendo voltados para os mesmos.

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Deixou que fosse levado, mantendo uma calma irreal, não esperada por nenhum deles. Eram maior número, claramente, mas em meio a todos, Kuroo parecia carregar algo diferente, quase como um instinto primal, como se a qualquer momento fosse destruir todos os ali presentes. Ao ouvir sobre se havia mais alguma pessoa, olhou para o lado, com expressão tranquila e disse -- Se você não sentiu, como posso eu saber? -- e piscou de leve, sendo levado

- Ei, pare com isso. Você vai me fazer parecer mal na frente desses capangas que eu nem sei o nome! Prefiro que só garotas pisquem pra mim. - O rapaz dizia em protesto às ações de Kuroo, o grupo logo chegando na base da torre, onde um carro negro os esperava. - Vocês podem dispersar. Eu levo ele até o local combinado. - Instruía para dez dos doze que o acompanhava, logo ele e a garota de cabelos azuis adentrando o veículo, Kuroo logo sendo forçado a entrar também.



- O trajeto demorava pouco mais que dez minutos percorridos em silêncio, antes de poder ouvir pássaros que revoavam o céu nublado de Duelpolis. Podia ouvir água, estavam nas docas, muito provavelmente, suas suspeitas sendo confirmadas poucos momentos depois, assim que saía do veículo. Era levado até um dos galpões, onde duas formas, uma delas já conhecida, o aguardavam. - Enfim, o convidado de honra chegou. - A forma desconhecida falava, ainda de costas, virando-se para o rapaz com um sorriso. Era um homem jovem, não aparentando ter mais de vinte e cinco anos, mas que possuía um ar de autoridade sobre si. - Bem vindo, Kuroo. Espero que o Adam não tenha sido muito mal com você. - O interior da estrutura permanecia vazia exceto pelo grande número de caixotes gigantescos e a presença dos cinco, os dois homens de terno negro permanecendo do lado de fora assim que entravam.

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Mas não existe essa coisa de bem ou mal, hahaha. -- Piscou novamente para o ser, em pé, olhando para a frente, enquanto era levado. Encostou-se de leve em um dos capangas e logo disse, em tom firme e sério -- você me lembra alguém que morreu há um tempo, sabia? As vozes estão dizendo isso! -- ele então começou a assoviar, enquanto era levado

Ao ser levado, parou em pé perante a todos, como se estivesse em algum tipo de confraternização e logo disse -- de novo esse papo de mal? Vocês não estão preocupados com isso, né? Ou realmente se importam com meus sentimentos? -- dizia em tom levemente debochado -- Obrigado. Do que iremos conversar? -- cruzou os braços, escondendo a tensão. Correu os olhos pela sala, procurando o espaço para um escape

- Não nesse sentido, esse negócio de bem ou mal é complicado, prefiro nem me envolver. No sentido de ser um babaca. Por que ele é. - O homem provocava o rapaz de cabelos brancos, que respondia logo em seguida. - Quer morrer, otário? - Podia sentir certa tensão enquanto faíscas eram trocadas entre os dois. - Eu sinto muito ter tirado você do seu treino, Kuroo, mas eu só queria te fazer uma pergunta. - Ia direto ao ponto, se aproximando mais do rapaz enquanto mantinha suas mãos nos bolsos. - Você poderia me falar o nome da família que te contratou para arruinar minha... comemoração? - Perguntava com um sorriso.

Fechou o cenho completamente por um momento. Olhou nos olhos do homem e disse -- você tem um tom educado e firme, eu aprecio isso. É um homem de verdade. -- engoliu seco e então olhou para a própria mão esquerda, cerrando-a e dizendo enquanto o encarava, com uma moral ilibada -- Eu não sei o nome. Trabalhos são apenas me passados, e, sinceramente, eu não me importo com o nome da familia. -- ele então demonstrou um brilho avermelhado nos olhos, abrindo os braços e dizendo, já sem camisa -- Não é necessário tortura, eu não estou mentindo, agora, se forem a fazer, façam rápido, por favor. Eu não posso parar de perseguir o meu objetivo pessoal. -- Ele dizia, em tom obstinado. Por algum motivo sentiam que Kuroo não tinha nada demais para ser tirado

-Você tem certeza disso? - O homem respondia, claramente desapontado. - Eva? - Se referia a garota de cabelos azuis, desviando o olhar para a mesma por um momento. A mulher olhava fixamente para Kuroo, logo dizendo suas primeiras palavras desde que o rapaz havia lhe conhecido. - Ele não está mentindo. Você não vai ganhar nada com tortura. - E com essas palavras que em sua voz robótica pareciam indiferentes, adentrava o silêncio novamente. - Hmm... isso é um problema. O que me diz de trabalhar para mim então, Kuroo? Eu não sei o que eles te contrataram pra fazer, mas eu prometo pagar o dobro ou até o triplo se você traí-los de volta. Foi isso que eles fizeram com você agora pouco, não foi? Te abandonaram a mercê dos predadores desse jeito... como você confia em gente assim?

Se pos de pe, de costas para eles, com as mãos no bolso e o torso limpo, com uma expressão firme, rumo a pouca luz que habitava naquele lugar -- eu não confio em ninguém, são apenas negócios. Para eles eu sou um monte de carne com lâminas. -- Havia um vazio único em seu tom de voz, como se não houvessem sentimentos reais dentro dele, apenas a penumbra daquele que não tinha nada. O vazio era a casa da violência, podia se sentir isso. Respirou fundo e então disse em seguida, virando-se -- Não me levem a mal, vocês tem nens formidáveis, mas, eu não seria útil.

- Não diga esse tipo de coisa de si mesmo. Seria um fator a menos a se preocupar se tivéssemos você do nosso lado. -Dizia com um sorriso, com uma grande sinceridade em suas palavras. - Mas se sua resposta é não, eu vou entender. Andar um caminho solitário muitas vezes não depende de escolhas.

Vocês são legais, sabe? Alguns meses atrás e teríamos sido grandes companheiros, não nego, mas... -- A solidão de Kuroo era quase palpável. Sem camisa levou a mão até a sua katana ainda na bainha, e a removeu, com um olhar baixo, erguendo-a levemente até a linha de seus olhos, contra a luz, fazendo com que o dragão entalhado na mesma e tingido se sangue reluzisse, enquanto dizia as palavras marcadas -- É o caminho que me colocaram, uma morte por dia, até o fim da minha vida. -- Ele então suspirou. A tensão era tão grande que podiam sentir a aura assassina sendo suprimida constantemente. Guardou sua katana e virou-se para eles

"Uma morte por dia"...? Você não seria... não, deixa pra lá. Adam. - O rapaz de cabelos brancos levantava a mão com um suspiro, em direção ao Zoldyck. Uma força indescritivelmente forte passava por suas pernas, as quebrando em pelo menos três lugares diferentes cada. Caía sobre si mesmo, uma dor lancinante se instalando em seu corpo. - Eu realmente não queria ter que fazer esse tipo de coisa, mas feriria minha moral deixar você simplesmente ir desse jeito. Peço perdão por isso. - O homem de cabelos marrons exprimia uma aura ameaçadora enquanto se agachava, olhando para o Zoldyck no chão. - Eu realmente espero que nossos caminhos não se cruzem novamente, pequeno Kuroo. Saia dessa cidade enquanto você possuí tempo. - E então se levantava novamente, ordenando o outro rapaz já conhecido por Kuroo. - Dante. Queime. - Era respondido por uma breve palavra. - Entendido. - O homem conhecido por Dante então focava sua Aura em seu punho, que logo queimava em uma chama ardente, que logo era jogada contra o número gigante de caixotes de madeira presentes no local. - Foi um prazer, Zol... - Interrompia a palavra. - Não, Kuroo. - E com isso, deixava o local que já ardia em chamas junto com os outros três, antes que as mesmas pudessem ameaçar suas existências. A situação do Zoldyck não era boa: estava em meio a um incêndio gigantesco com ambas as pernas quebradas, então escapar não seria nada fácil.

Sentiu a forte vibração contra sua perna, é no momento em que ouviu seu nome, fechou os olhos. A sensação que corria por seu corpo era de ódio puro, mas tinha de se controlar. Deixou que passassem, é vendo a chama percorrer o lugar por inteiro, se manteve, de expressão cravada. Apoiou-se na katana para se por em pé. A adrenalina fazia com que a dor fosse bizarramente sentida pelo mesmo, mas não o parasse. Engoliu seco e vendo a si mesmo na chama, no reflexo de seu próprio sangue, disse baixinho, com sua pele sendo esquentada, com eles já longe -- Nunca mais. Eu nunca mais irei fraquejar, independente da forma. Eu jamais irei cair, até que caiam primeiro. -- Enquanto a dor tomava forma de seu corpo, era possível sentir seu nem revolto crescer. Usaria-o para conseguir andar para fora Dali. Precisava conseguir sair por conta própria, não podia pedir ajuda, não, ele não podia. Era questão de orgulho.

K-Kisama...kisama -- ele sussurrava, cravando a katana a cada passo no chão. Parou por um segundo e berrou, de puro odio, fazendo com que seu nem parecesse se sobressair, saltando aquele lugar e marcando a presença do assassino. O sangue escorria de sua boca, e seus olhos eram ocultos pela sombra. Parecia quebrado, mas não podia parar. Era como o escorpião, preparado para prestar a aranha mais rápido do que tudo. Kuroo Zoldyck não pararia, havia criado um compromisso com o nen. Nenhuma sensação era pior do que a de fraqueza, não podia sucumbir. Jamais.