Ryuuseigai Hunt Arc - 06

»Sábado(01/03/20XX)

- Em meio as chamas que queimavam ardentemente no armazém, havia uma forma branca com uma solitária mecha negra em seu cabelo. Era Kuroo, um pouco mais a frente, com uma proximidade perigosa da água. Em sua situação dificilmente conseguiria nadar para sair dali, e mal conseguia encontrar forças para seguir em frente naquele ponto. Em meio a fumaça e caos que lentamente se instalava na doca solitária, uma única e minúscula forma se aproximava com passos tímidos, uma tosse geriátrica ecoando pelo local e quebrando o monopólio de sons estabelecido pelo fogo queimando. - Você está bem, filho?! É perigoso demais ficar aqui! - O homem de aparência velha e cabelos brancos falava, demonstrando uma legítima inquietação e até mesmo preocupação quanto ao estado do rapaz. Não parecia perceber suas pernas quebradas, porém.

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Seus olhos se mantinham arregalados. Ele havia conseguido sobreviver mais uma vez. Se encontrava de barriga para cima, olhando para o céu, tentando manter a lucidez em vez de desmaiar. Parecia aproveitar a dor, não como um masoquista, mas sim como alguém que quer entender uma mensagem. A dor ensina, e kuroo sabia daquilo. Cada pontada daquela dor, e calor do fogo era a lembrança do erro do mesmo, e onde deveria melhorar. Abriu os braços, evitando mexer as pernas, e então ouviu a voz de alguém, um idoso provavelmente. -- É, é perigoso mesmo -- tossiu, com dificuldade, levando a mão esquerda até a costela -- argh. -- não podia transparecer dor. -- mas e você, é daqui mesmo? Me...ajude a sentar por favor. -- dizia, com os olhos fechados e um semi sorriso, escondendo a dor

- Não se force a falar, você parece estar em uma situação péssima. - O homem dizia com um tom incerto sobre o que fazer. - Eu moro a poucas ruas daqui, vamos, eu te levo até a minha casa. O fogo vai se alastrar a qualquer momento por aqui. - Afirmava, ajudando Kuroo a se levantar e dar um passo de cada vez.

Ele riu de leve, cospindo um pouco de sangue do lado. Esticou a mão esquerda e cravou o indicador sobre o músculo do quadríceps. Deu um leve urro de dor, para que a adrenalina corresse por seu corpo para conseguir se mexer com maior facilidade. Apoiou sua mão direita sobre os ombros do homem para conseguir se mover com facilidade, e disse, pela primeira vez realmente grato -- obrigado, ossan

- Após viver grande parte de sua vida em Ryuuseigai, não era exagero dizer que Kuroo não estava realmente acostumado com a gentileza de estranhos, então tudo aquilo era bem... novo. Chegava a desmaiar algumas vezes no caminho, cada passo exigindo um esforço nunca antes visto por seu corpo.



- Podia perceber que as favelas de Duelpolis eram quase tão desagradáveis quanto Ryuuseigai: esgotos corriam a céu aberto, estabelecimentos suspeitos com pessoas que iam e viam e havia um ar desconfortante ao redor da localidade. Começava a chover no meio do caminho, pessoas utilizando guardas-chuva logo aparecendo ao redor das ruas. Após alguns minutos, finalmente alcançavam a casa do homem, sua estrutura em nada se comparando com as residências das partes mais altas da cidade. O interior também era modesto, não tendo mais que três cômodos apertados. O garoto era colocado em uma espécie de cama estendida bem próximo do chão, seu corpo logo relaxando meio ao finalmente encontrar descanso. Podia ouvir o som da chuva, que batia contra o teto metálico da residência com violência. - O que você estava fazendo em um local como aquele, filho? Se eu não tivesse aparecido, você teria morrido pelas chamas! - O homem dizia legitimamente preocupado, um olhar incerto em seu rosto.

Parecia acostumado com a destruição e com aquela sensação de estar perdido. Fechou os olhos por um momento e então, encostado numa cama, logo disse -- É uma longa história, ossan. Obrigado. -- ele repetia, quase que no modo automático aquilo. Não envolveria o idoso nas brigas de máfias e coisas assim. Engoliu seco e então levou a mão direita trêmula até o bolso, retirando o celular, procurando o contato de Allain. Seu corpo ainda exalava um pouco de nen. Olhou para o idoso por um momento e logo disse -- você vive aqui há muito tempo? -- sua voz era trêmula

- O contato daquele que era mais próximo de um "mestre" para o garoto era o primeiro que aparecia em sua lista. Abaixo, apenas os números de Albel e Shizuku. Era uma lista de contatos extremamente solitária, agora que percebia. - Ah não, eu não sou daqui. Passei minha vida inteira servindo o exército de Kakin, mas depois da dissolução do império eu tenho levado a vida como posso aqui em Duelpolis. - Explicava, de maneira paciente. Parecia ter certo prazer em falar com Kuroo, como se não tivesse conversado com ninguém a muito tempo. - Você veio de onde, filho? Não parece ser daqui.

Ele então abriu o contato de Allain, mandando a mensagem para ele "deu merda. Vou deixar meu GPS ligado, venha até mim, rapido. Ps : não mate o velho" e então logo guardou o celular. Olhou nos olhos do idoso, com prazer notável em conversar, e logo disse -- Eu nasci no alto, no topo de onde homens fogem. E cresci em meio à sucata. Como um meteoro. -- ele suspirou por um momento, se inclinando de forma com que conseguisse ver melhor seu machucado. Olhou para o idoso e disse -- Você foi um soldado de kakin? Oh. Por favor, me conte mais sobre isso

- H-hmm? - Parecia legitimamente surpreso com as palavras de Kuroo. Aparentemente, não era sempre que alguém demonstrava interesse em suas palavras. - É uma história longa, e já faz tanto tempo que eu nem lembro bem os detalhes. - Dizia levemente frustrado. - Mas eu lutei nas várias guerras que tentaram tomar nosso país bravamente, além de ser um daqueles que participaram na colonização do continente perdido. - Falava enquanto colocava um líquido verde em um copo, o entregando para Kuroo. - E então, quando a guerra civil que levou até o fim do meu país aconteceu... eu lutei por ele até o último momento, e não me arrependo de nada. - Afirmava com orgulho, colocando um pouco do líquido para si mesmo. O machucado de Kuroo era relativamente grave: ambas suas pernas estavam quebradas, e não conseguia nem mesmo se levantar sozinho. Mas já havia passado por algo assim, tempos atrás, ainda no exame que decidiria sua vida.

Me diga, ossan, você chegou a ir para o continente perdido? -- parecia realmente interessado com aquilo. Havia ouvido sobre vagamente. Suas pernas estavam quebradas em três lugares, e sabia daquilo. Olhou para o líquido verde, e resolveu perguntar -- isso seria...? -- ele fechou os olhos por um momento, tentando sentir aura no idoso.

- Mas é claro! Eu lutei contra várias bestas demoníacas e extremamente perigosas para proteger o pioneirismo de Kakin na colonização. - Falava com orgulho, tomando um último gole do líquido. - Mas no fim, eu consegui sobreviver e marcar a primeira vez que humanos pisaram naquele local desde muito tempo. E isso é chá, pode beber, será bom para seus ferimentos. - Falava de maneira paciente, se levantando. Kuroo... não podia sentir nenhuma Aura vinda do velho. Ele era, no fim, apenas um humano normal, então sua história não batia com o que tinha ouvido falar sobre o tal "continente perdido". Pegava uma capa e um guarda-chuva pendurados em uma parede próxima, colocado o item ao redor de seu corpo e abrindo o longo objeto. - Eu preciso comprar algumas coisas para fazer o almoço, mas não devo demorar. Sinta-se em casa... huh? Acho que não sei seu nome ainda.

Zol-- - respirou fundo, engolindo seco e então dando um meio sorriso -- Kuroo. Meu nome é Kuroo. -- olhou para o copo de chá e deu uma longa golada. Por mais que o gosto não fosse necessariamente agradável, só por lubrificar sua garganta já bastava. Encostou a cabeça no travesseiro. Por sorte andava com os bisturis e etc. Esperaria o velho ir para analisar sua situação

- Kuroo? Não é um nome muito comum. O meu é Nabu. Bem, eu retorno em vinte ou trinta minutos. - Explicava, deixando o local. Kuroo estava finalmente sozinho com seus pensamentos, nenhum som ecoando pelo local além dos sons das gotas de chuva e passos do homem de cabelos grisalhos que já distanciavam. Podia perceber sua situação ao tocar suas pernas com as mãos: ambas estavam quebradas em pelo menos dois locais diferentes, demonstrando a violência da força que haviam colocado sobre as mesmas. Podia tentar a mesma coisa que havia tentado no Exame Hunter, mas não possuía certeza de sucesso.

Estava encostado na cama, já sem parte das calças, apenas de cueca box. Podia ver os ferimentos expostos. Por sorte carregava consigo algo que faria a função dos bisturis : A ben's Knife. Tinha um corte afiado e preciso para as incisões. Teria de ser cuidadoso na forma como trataria de suas pernas, afinal, tinha de estar bom. Por sorte, sempre fora um prodigio na arte do estudo do corpo humano, e aplicaria tudo aquilo naquele momento. Tinha de ser rapido, antes que seu corpo esfriasse e começasse a realmente sentir dor

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'D100' : 33, 65, 52

- Seu conhecimento quanto a anatomia e funcionamento do corpo humano se mostrava útil novamente: conseguia recuperar suas pernas parcialmente, pelo menos o suficiente para conseguir se mover sem muitas dificuldades. Sentia uma dor lancinante percorrer seu corpo, mas nada se comparava a dor de ser tratado como lixo nas mãos de seus inimigos. Chrollo e a máfia... parando pra pensar, havia se envolvido com bastante gente perigosa durante todo esse tempo. Um sentimento desconfortante permanecia em sua mente, como se a qualquer momento pudesse ser esmagado por aquele vasto e cruel mundo. Seu celular vibrava, uma mensagem de Allan chegando. - "Certo, já 'tô a caminho." - Era uma afirmação meio seca e sem cerimônias, mas os dois não eram exatamente amigos para início de conversa.


- Caaara, eu realmente não esperava chuva, boa coisa que eu tava bem perto quando vi sua mensagem. - O rapaz dizia relativamente encharcado, enxugando seu cabelo com um pano que havia encontrado ao redor da casa e pegado (sem permissão, aliás). Havia chegado na casa apenas dez minutos após alertar Kuroo. - E eu posso dizer que você não mudou muito desde o Monte Kukuroo exceto pela katana. Bela arma, aliás. - Dizia com seu tom irritante de sempre, parte de seu corpo ofuscado pelo kotatsu em que se encontravam. - Então, de quem é essa casa e como você acabou aqui, Kuroo-kun?

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Ele estava com um pano cobrindo suas pernas. Já havia controlado a dor por meio de uma ação severa mental de sí consigo mesmo. Quando viu a porta se abrindo, sentiu a aura de Allain. Fechou seus olhos enquanto ele se aproximava -- Grandes problemas. Seu amigo Albel não é lá dos mais inteligentes. A mafia sabe do que ele vai tentar fazer. Eles tentaram me matar, mas são idiotas. Nunca vão conseguir. -- Ele não mexia as pernas, evitando mostra-las para Allan. -- O ponto é, Allan. -- Cravou seus olhos no homem, com total seriedade. -- Me ensine mais. Eu preciso ficar em pé de igualdade com eles. -- Respirou fundo. A sua aura parecia diferente, não era de puro ódio, mas sim de uma raiva refinada, do tipo que pode ser quase cortada no ar. Um sentimento puro de agonia refinado. Seus olhos foram postos em Allan. -- Eu quero dominar o nen.

- Hmm... - Allan parecia pensativo, cruzando os braços enquanto fechava os olhos. - Eu não sei os detalhes, mas você aceitou o trabalho do Albel, não foi? Provavelmente faz tudo parte do plano dele ou algo do tipo. Eu conheço ele a bastante tempo e sei que ele não é alguém que comete erros muito óbvios assim. - Colocava as mãos dentro do kotatsu, abrindo os olhos enquanto abaixava a cabeça. - Ainda tem muito de Nen que você precisa aprender, mas na sua habilidade atual não sei se você teria muito proveito de um treinamento avançado, para ser sincero. - As palavras do F'aux pareciam diferentes, apresentando uma maior seriedade que o normal. - Mas tem algo que podemos fazer, afinal! - Sua excitação infantil finalmente voltava, marcada por uma expressão convencida. - Arrume qualquer recipiente com água que você encontrar, eu já volto. - Dizia enquanto se levantava, deixando Kuroo sozinho novamente.

Seus cabelos pela primeira vez pareciam bagunçados, caíam sobre sua face, escondendo seus olhos. Engoliu seco, olhando para sua mão enquanto Allan se levantava. -- "Eu sempre achei que era o mais forte entre todos, mas finalmente posso notar que...Não. Eu não sou ainda. Eu preciso aceitar isso e escalar até o topo. Só chegando no topo eu posso me vingar" -- Ele então se apoiou na parede para se levantar, fazendo com que o cobertor caísse de sua perna. Quando se ergueu, a sua pressão caiu, fazendo com que tudo escurecesse por um momento, e então esperou por volta de 7 segundos até se acostumar. Apoiando na parede com a mão direita, e com a esquerda segurando o copo, seguiu até o pequeno cômodo que deveria ser a cozinha, enchendo o copo de chá de água. Voltou para o lugar onde estava anteriormente.

Quando Allan voltasse, seria direto com o mesmo. -- Allan, não precisa se segurar em meus ensinamentos. Por mais que doa, eu irei aguentar. Eu não posso entrar nesse mundo sem dar tudo de mim. -- Ele dizia, de forma firme e séria, segurando o copo.

- Allan voltava pouco menos de um minuto depois, carregando consigo uma folha verde de proporções médias. - Foi mais difícil que eu pensei achar uma que não estivesse encharcada. - Falava, enxugando seu cabelo novamente. - Essa não é a questão, Kuroo. Você não conseguiria aprender nada dos níveis mais avançados sem masterizar os níveis mais baixos primeiro. E isso levaria meses para acontecer. Ser impaciente não vai adiantar nada nessa situação. - Colocava a folha que havia colhido no topo da água no copo, utilizando Zetsu em seguida. - Coloque suas mãos ao redor do copo e utilize Ren. Nós decidiremos o que fazer dependendo do resultado.

Segurou o copo com as duas mãos, envolvendo seu meio enquanto fechava seus olhos. Deixara que seu nen vazasse para fora dos poros naturalmente, e não de forma forçada como fazia. Para quem podia ver nen, era como se tentáculos avermelhados começassem a escapar do corpo de Kuroo, se trançando e fazendo o que parecia ser uma rede de aura ao redor do mesmo. Focava seu controle nas mãos, fazendo com que a mesma envolvesse sutilmente o copo. Faria então o uso do Ren, mantendo a respiração constante.

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'D100' : 19, 25

- Passavam dez, vinte, trinta segundos sem qualquer reação da água ou da folha. Allan parecia desapontado, um suspiro podendo ser ouvido pelo Zoldyck. - Hmm... acho que isso era de se esperar. - Dizia, olhando para Kuroo. - Prove a água, Kuroo.

Olhou por um momento para o homem, parecia em dúvida, dgo fez o indicado pelo mesmo

- Assim que provava o primeiro gole, uma sensação ruim se alastrava por seu corpo. Era um sabor que não conseguia compreender, algo que estava entre os cinco ao mesmo tempo, algo escuro, que não conseguia conceber, mas que prometia mudar totalmente a qualquer momento, flutuações de sabor acontecendo a medida que o mesmo passava por sua língua. - A água tem um gosto estranho, não é? - O rapaz perguntava, clara expectativa em suas palavras. - Me parece que você é da Transmutação, Kuroo.