Hyoki Rokuro - Capítulo 7

-- Caralho casal, vocês não saíram daqui ainda? Não basta dois estranhos aparecerem e começarem a chorar pra vocês perceberem que esse lugar não é normal? Então me respondam, vocês sabem quanto é um mais um? -- Ele virava-se para Jun com um sorriso no rosto. Ele já sabia qual era a piada. Era uma que Hyo adorava fazer, desde criança. Aquele era seu primeiro sorriso naquele lugar. Uma premissa de tempos bons a vir, ele respirava fundo, e olhava para o casal-- E poxa, vocês são nossos colegas de escola, não vão nem nos cumprimentar?

- Você devia ter aproveitado que eles não notaram pra fingir que você não chorou. - Jun dizia, com uma risada.Os dois ainda pareciam desconcertados com toda a situação. - H-Hyo?E Jun?O que você quer dizer com isso?É claro que é 2. - Gin dizia, sua voz trêmula e confusa ainda.

-- É não mané, é 11, um atrás do outro. -- Ele virava-se para Jun, fazendo uma careta pra ele.-- Quem chorou foi você, eu só queria mesmo virar o mushiking.-- Ele sorria para o casal, e então acenava-- E ai, como vocês estão? Espero que as coisas estejam ótimas. E que coincidência a gente se encontrar bem aqui, né?-- Hyo sorria para o casal. Ele olhou para Jun com um sorriso, e fez um sinal de positivo com o dedão. Ele falou só com os lábios, sem soltar nenhum som, mas Jun conseguiu entender: "Eu vou fazer das pessoas mais que memórias ruins.". Ele olhou para a frente, continuando a conversa com o casal. Enquanto isso, pensava em como fazer das pessoas serem mais do que memórias ruins de verdade, mas aquilo era definitivamente um passo importante.

- Os quatro não conseguiam deixar de rir com o clima bobo que Hyo tinha instalado no recinto. - Elas vão bem.E quanto a vocês?Se você está de muleta então aquele acidente... - Gin começava a fazer uma pergunta, mas parecia hesitante em continuar.

-- Não pô, teve nada a ver. A muleta é que, no caso, eu andava de bicicleta quando não pude desviar de um arame farpado. O Pior foi que o dono do lote não quis me ajudar, riu bastante de mim após agonizar por 2 horas enroscado no arame eu fiquei paraplégico. Não, na real, foi daquele acidente sim. É que eu fiquei com um trauma, e mesmo tendo me recuperado, não consigo me movimentar direito por um problema psicológico. -- Hyo riu, mesmo com um assunto sério assim, era de sua natureza fazer piada com tudo. Ele fez um olhar de despreocupado enquanto se balançou nas muletas.-- Mas bom, pelo menos isso sara com o tempo, não é que nem a cara feia que o Jun ficou até hoje né.

- Ou o seu retardo mental que é de nascença. - Jun complementava a frase com seu habitual tom cômico. - Isso é bom, mas o que vocês estão fazendo aqui?Também estão nas férias? - Kumi falava alguma coisa pela primeira vez, seu tom era bem simpático, e era uma voz um tanto nostálgica de ser ouvida, visto que não mudara muito.

-- Estamos sim, a gente tava andando pelo bosque pra procurar uma clareira pra sacrificar a irmã dele em troca de fama e glória. Bem que a gente tava precisando de dinheiro, será que um casal funciona na falta de uma virgem, Jun?-- Ele falava com a expressão mais séria que conseguia manter naquela situação, antes de cair na risada. Ele voltava a si, totalmente vermelho de tanto rir, e então olhava pra Jun.-- Mas logo logo o Jun tem que treinar, quando anoitecer, então a gente não tem tanto tempo livre.

- É uma caminhada meio longa, mas se você seguir reto nessa direção você vai conseguir ver a cabana onde a gente 'tá ficando.Apareçam lá qualquer dia se quiserem. - Jun dizia, apontando na direção da casa.Após mais alguns minutos de bate-papo casual, as duplas se despediam, cada uma voltando para seu alojamento.O jantar naquela noite tinha sido mais animado do que nunca, mas não demorava muito para que o Yukimura começasse com sua rotina de treinamento.Antes que notasse, já eram quase 11 horas da noite, Hyo estava sentado no pequeno deque da parte da frente da cabana, quando Jun finalmente terminava seu treinamento. - E aí, achei que você estaria dormindo a essa hora.

-- Você sabe muito bem que eu não durmo em noites de lua cheia. É muito perigoso dormir quando o Homem Macaco pode despertar e destruir o mundo. -- Hyo estava acompanhado de uma pequena garrafa de água, e ele segurou ela em sua mão direita, estendendo-a para Jun.-- Ta com sede depois do treino, espartano? -- Hyo rodou a garrafa em sua mão, depois jogou ela no ar e colocou-a na mesma posição -- Tanta destreza na mão só podia provir de um cara que nunca namorou, heh.

- Você tem visto filmes do Adam Sandler de mais. - Jun dizia com um sorriso, aceitando a água, que tomava em um gole só. - Hoje foi um dia longo, né. - O garoto suspirava, alinhando sua cadeira para fora da casa, de modo que conseguisse ver o céu noturno. - Ver o Gin hoje foi divertido, mas ao mesmo tempo me fez perceber o quanto eu fui idiota esse tempo todo...Eu sempre me culpei por tudo que aconteceu, se eu não tivesse convencido você de que era uma boa ideia ir atrás de uma garota, então nada disso teria acontecido...Tudo que eu fiz foi me preencher com uma noção de responsabilidade idiota, pensando que eu tinha que me dedicar a reparar o que eu fiz, ou tendo medo de me aproximar de outras pessoas e fazer elas acabarem com problemas, mas a verdade é que eu só estava dependendo de você esse tempo todo. - O Yukimura inclinava sua cadeira, respirando fundo. - Eu estava satisfeito de mais com esse status quo, de prender você a mim, de precisar de você nas minhas costas, como se aquele dia nunca tivesse acabado.Mas o Gin e a Kumi seguiram em frente e mesmo você já está começando a andar com as próprias pernas, então eu decidi, eu também quero crescer como vocês. - Deixava sair uma pequena risada. - Eu 'to falando de mais, isso realmente não parece algo que sairia de mim.

-- É engraçado demais você falar que eu to andando com as próprias pernas-- Fazia uma careta pra Jun, e então ria com ele-- Eu acho que eu estava preso em tudo que aconteceu, culpando as minhas memórias ruins por eu estar assim... Mas mesmo que seja, eu tenho a capacidade de mudar essas memórias. Assim como fizemos hoje. Então.. Eu preciso parar de culpar as pessoas, e você precisa parar de se culpar. Que tal começarmos por ai?-- Jun colocava o braço ao redor do pescoço de Jun, puxando-o e abraçando-o, colocava a cabeça dele contra o seu peito e apertava.-- Eu te amo, parceiro. E eu sei que pode parecer repetitivo, mas eu sou muito grato por todos esses anos você estar lá pra me ajudar. Eu quero que seja feliz sendo meu amigo, com a sua família e, poxa, tem a sua irmã, que é uma pessoa maravilhosa. Você pode ser muito mais do que você é agora, no boxe, em tudo. Se permita!

- Jun sorria. - Eu realmente espero que ninguém esteja vendo isso agora. - Deixava sair uma risada. - Mas você tem razão.Eu vou tentar fazer isso, não tem mais porque deixar o passado nos acorrentar. - Depois de alguns minutos, os dois iam finalmente dormir.Aquele tinha sido um dia importante, finalmente as engrenagens do tempo, paradas e enferrujadas, voltavam a se mover para aqueles dois jovens, mas é precisamente por isso que a maior mudança ainda estava por vir.Em uma realidade que parecia governada por uma força maior da causalidade, a fronteira entre a realidade e o sonho seria mais fina do que parece.